sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Ascensão e queda da indústria farmacêutica brasileira

A indústria farmacêutica brasileira de fitoterápicos teve seu início, como indústria, no começo do século XX. Esta jovem indústria, construída por uns poucos empresários farmacêuticos, conseguiu sobreviver os primeiros trinta anos daquele século. Pós a primeira guerra e a entrada da indústria farmacêutica europeia e americana começaram a dificultar o desenvolvimento da nossa indústria que sem o menor incentivo morreu sem mesmo amadurecer.
Publicações como a Revista da Flora Medicina, onde por mais de décadas editaram-se trabalhos de botânica e terapêutica fitoterápica, não resistiram a entrada da indústria farmacêutica estrangeira.
Atualmente com a renovação do interesse popular, podemos citar o laboratório Klein do Rio Grande do Sul e a Farmaervas de São Paulo, ambos possuidores de diversas tinturas com aplicação em algumas dezenas de entidades nosológicas.


O ponto fundamental para a aplicação da fitoterapia em nosso país reside na escolha da qual atitude terapêutica deve ser tomada para a aplicação da planta medicinal. Muitos defendem que devemos procurar isolar princípios ativos existente nas plantas e que este princípio é que deve ser utilizado. Outros defendem que a planta deve ser dada como um todo, baseando-se em alguns fatos bem nítidos para abraçarem tal idéia, os quais sejam:
A)   Um grande número de plantas comporta-se de maneira inteiramente não convencional, não apresentando nenhum princípio farmacodinâmico demonstrável farmacologicamente e no entanto o resultado da interação dos seus diversos componentes resulta efetiva. O melhor exemplo disto é a alcachofra que quando isolado seus componentes, estes apresentam-se inativos na sua maioria, ao passo que quanto mais complexas as misturas experimentadas em ratos, maior é a atividade. Assim, demonstrou-se o surgimento de novas propriedades mediante a adição de substancias que isoladamente são ineficazes.
B)   Nem sempre as plantas em que se tem isolado substâncias ativas definidas, com efeitos fisológicos próprios, resumem estes os efeitos terapêuticos delas. Assim,  comporta-se por exemplo o guaraná, cujo alcaloide não resume em si o mesmo efeito da planta integral.
C)   As plantas que possuem vários alcaloides ou princípios ativos, alguns de ação fisiológicas contrária à de outros, têm no entanto, quando empregadas in natura, a mesma ação fisiológica ou terapêutica constante, como se fossem agente único. São os casos do ópío, da quina, da ipeca.
Todos estes fatos inegáveis levam a reconhecer que a biogenia, que atua nas plantas mediante a assimilação de moléculas simples em sistemas vegetais.infinitamente mais complexos, oferece possibilidades que vão muito além das qualquer fábrica química moderna. As plantas medicinais atuam por meio de complexos de substâncias biológicas, sendo que muitas das substâncias ditas  inativas, agem retardando ou acelerando a absorção das substâncias ativas pelos tecidos, além de possivelmente antagonizarem prováveis efeitos colaterais indesejáveis, como também agirem na bio-sintese das proteínas, estimulando a síntese de anticorpos reforçando as imunidades orgânicas.

Bibliografia: Anais do Congresso Nacional sobre Essências Nativas – Edison S. Neves- setembro de 1982


domingo, 26 de outubro de 2014

Medicamentos famosos derivados de Plantas Medicinais

Quinino: Alcaloide obtido de Chichona officinalis, árvore da família das Rubiáceas. A História da utilização da casca de Quina inicia-se  em 1630  quando a esposa do conde de Chinchón adoeceu de malária e o corregedor real da cidade de Lojá, no Equador, sabedor da utilização pelos  nativos da casca desta árvore ofereceu a condessa, que ao utilizá-la restabeleceu-se. Quando do seu retorno a Europa a paciente levou uma determinada quantidade, que logo passou a ser conhecida como “pó da condessa”, sendo depois conhecido como “pó dos jesuítas”, devido a estes terem comercializado a córtex da árvore por toda a Europa. Ainda hoje, apesar da síntese de substâncias antimaláricas de certa eficiência, principalmente após a guerra do Vietnam, continua sendo o medicamento de eleição em casos graves de malária por Plasmodium falciparum.
 Com certeza o medicamento mais vendido em todo o mundo tem a história de sua origem iniciada no século XVIII. Pode-se dizer que é o melhor exemplo de estreita relação que existe entre as plantas medicinais e a farmacologia moderna. A aspirina teve sua origem na casca do Salgueiro, árvore do gênero Salix, que cresce a beira d’água para onde desenvolve as suas raízes. Segundo a teoria das assinaturas, isto era indício evidente que o Salgueiro apresentaria resistência a resfriados e gripes, sendo então utilizado para combater os mesmos. Interessante é descrever esta teoria que representa uma época de pré-conhecimento científico. Segundo a mesma, cada planta levaria um sinal indicando as suas propriedades; assim as plantas carnudas deveriam desenvolver a carne humana; o látex amarelado da Chelidônia indicaria a sua utilidade na icterícia. Parece-nos atualmente uma insensatez, mas muitas substâncias utilizadas na nossa atual terapêutica tiveram um “ancestral” descoberto tendo por base esta teoria, e a aspirina é um dos melhores exemplos. Aconteceu então que em 1829, o francês Leroux conseguiu extrair da casca do Salgueiro uma substância que denominou salicínia (do nome latino do gênero da árvore).Logo depois um farmacêutico suíço chamado Paigensttcher destilou flores e plantas, a rainha dos prado planta do gênero Spiraea, que também gostava de ter os “pés” molhados, obtendo uma substância muito semelhante a salicina, o salicinato de metilo. Finalizando na Alemanha onde foi sintetizado o ácido salicílico que produziu um derivado o ácido acetilsalicílico, que nada mais é que o nome da aspirina, cuja sílaba spir lembra sua origem vegetal de rainha dos prados.
Reserpina: Alcalóide da Rauwolfia serpentina, além de ser universalmente utilizada como anti-hipertensivo, produziu por derivação diversas substâncias tranquilizantes, constituindo-se num fármaco da maior importância para a farmacologia moderna.

Digital: No século XIX as curandeiras mineiras utilizavam para a barriga d’água o chá de Dedaleira, isto era então motivo de chacota dos médicos da época, hoje sabemos que a quantidade de digitoxicos naquela planta justificava plenamente aquela prática da medicina tradicional, exemplificando a necessidade relevante de não desprezarmos a memória popular, injustamente relegada a um plano inferior, pela excessiva arrogância da ciência moderna, esquecida de suas origens humildes. Sabemos suficientemente o que significa uma civilização desprezar o seu passado, a história é pródiga de exemplos iguais de decadência.


Bibliografia: Anais do Congresso Nacional sobre Essências Nativas – Edison S. Neves- setembro de 1982

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

A Medicina Tradicional dos povos deve ser prestigiada para que a saúde chegue para todos

Com o advento da Conferência Internacional Sobre Cuidados Primários da Saúde realizada em Alma-Ata em 1978, a OMS (Organização Mundial da Saúde) estabeleceu importantes diretrizes para atingir o objetivo de estender a cobertura de saúde no ano 2000 a todos os povos da terra. Para isto, considerou-se de extrema necessidade que os Serviços de Saúde nos países de terceiro mundo prestigiassem a chamada medicina tradicional em todos os seus segmentos. Hoje, na União Soviética, a Seção Siberiana da Academia de Ciências criou um departamento especial para testar em Laboratório Experimental, os compostos biologicamente ativos da farmacopeia tibetana. Na Índia, a medicina
Vitex negundo Var. Cannabifolia
“Ayurvédica”, terapêutica tradicional a base de plantas cuidadosamente selecionadas mediante uma teoria bastante elaborada, que selecione as plantas pelo sabor e propriedades térmicas, está em pleno processo de renascimento; interessante é que os curandeiros “ayuvédicos” levam em consideração a totalidade da mente e do corpo, não fragmentados em peças estanques e independentes, adiantaram-se assim em alguns milênios, pelo menos nesta parte, em relação a medicina ocidental só recentemente psicosomatizada, na visualização dpo homem como um todo. Na África, o estudo dos extratos de plantas medicinais é o campo de pesquisa preferido dos especialistas africanos em química orgânica. No México, o instituto Mexicano de Plantas Medicinais, o IMEPLAM, realiza trabalho de grande alcance social, procurando recolher, testar e desenvolver a população convenientemente estudada as espécies utilizadas na medicina tradicional.

Não podemos deixar de destacar o trabalho impar da China, que nos últimos 30 anos busca reunir, para uma melhor condição de saúde do seu povo os sistema tradicionais e ocidental, buscando “peneirar” em ambos, os prós e os contras que possuem, os serviços de saúde pública chineses estão hoje atendendo grande parte da população com fórmulas milenares desenvolvendo pesquisas aprofundadas para produzir-se mais medicamentos a base de plantas medicinais, estando hoje catalogadas mais de 5 mil ervas medicinais, direcionando-se a pesquisa tanto para o combate às doenças agudas como crônicas. Exemplos interessantes ilustrativo dessa preocupação são a malária e a bronquite crônica; a primeira está sendo combatida por uma substância extraída do absinto, planta que antigos registros chineses apontavam como já utilizada no combate a esta endemia há mais de mil anos. O novo medicamento o – Ching Hao Su- tem a sua estrutura química cristalina totalmente diferente da dos medicamentos contra a malária, propiciando uma reescalada na pesquisa fármaco-química de possíveis substâncias eficazes contra esta endemia, fonte de preocupação constante dos serviços de saúde de boa parte do mundo.
Quanto a bronquite-crônica, que atinge três a cinco por cento das populações de certas regiões do norte da China, o governo chinês enviou diversas expedições médicas que coletaram milhares de informações e reuniram cem medicamentos eficazes, entre eles uma planta chamada “muching”, que com outras nove vem sendo introduzida em todo o país. Segundo relatórios clínicos dos últimos anos, o “muching” (Vitex negundo Var. Cannabifolia) mostrou-se extremamente eficaz no tratamento de 60 por cento dos dois mil pacientes com bronquite crônica testados. Os testes em laboratório provam que o catarro é eliminado por esta erva, que estimula as reações do organismo, ativa as funções adrenocorticais e possui propriedades antialérgicas e sedativas. Outro exemplo é o da erva medicinal chinesa Salvia Miltiorrhiza que está sendo utilizada no tratamento de doenças das coronárias. Este medicamento já era conhecido na Antiguidade chinesa, por sua eficácia na ativação da circulação sanguínea. Tal erva foi então transformada em soluções injetáveis para o tratamento da angina pectoris, e se mostrou eficaz em 87% dos casos. 

Bibliografia: Anais do Congresso Nacional sobre Essências Nativas – Edison S. Neves- setembro de 1982