domingo, 1 de junho de 2014

Médicos e Boticários da Cidade de São Paulo

O médico João Alvares Fragoso, em ofício dirigido, em 1812, ao Marques de Alegrete, governador e capitão general de São Paulo, comunicava-lhe, “ na sua qualidade de físico mor das Tropas desta capitania e Inspetor da real Botica do Hospital Real desta cidade, que estão extintos os remédios que existiam nesta Botica a ponto de nem ao menos se poderem substituir aqueles que preenchem as indicações das moléstias atuais; e que os não há nas Boticas e Droguistas desta cidade, para as comprar.”
Boticário na segunda década do séc. XX
A Real Botica se instalara num sobrado no bairro do Açu e em seu lugar hoje se ergue o prédio dos Correios e Telégrafos. Foi construído em 1796 e demolido em 1916. Quanto as drogas, não devia ser lá muito extensas a lista das então usadas. Relativamente poucas as de origem mineral, eram muito maior número as provenientes do reino vegetal. Há noticias, em 1730, do mercúrio e do arsênico. Vem no receituário de 1830. É desse receituário também o tártaro. Entre os vegetais, encontram-se ópio, escamonéia, rosa, sene, maná, ipeca.
Pomadas e linimentos tinham então grande voga, salientando-se as comumente, entre aqueles, a pomada alvíssima.
Eram abundantemente usados o bálsamo católico e a Água Vienense, ainda hoje conhecido. Nos inventários e testamentos setecentistas mencionam-se caparosa, que é sulfato de ferro, pedra ume e verdete. Tenho ideia de ter lido também nas mesmas fontes, referencias a um traje de homem, “cor de pedra lipes, isto é cor azul pavão. Trata-se de um caustico o sulfato de cobre ou vitriole azul, ainda muito empregado principalmente, como inseticida agrícola”.
Em 1822, o ano da independência, existia na capital, segundo Afonso A. de Freitas, 7 médicos e cirurgiões mores e 3 boticários. Um destes era Ereopagita da Mota, com farmácia no início da então rua Rosário, hoje 15 de novembro, lado direito.
Quase sessenta anos antes, em 1765 possuíamos três, sendo um deles Francisco Coelho Aires, de 41 anos casado com D. Joana Batista dos Anjos, de 31 anos; residiam com 3 filhos: José, Francisco e Teresa, respectivamente de 9, 1 e 14 anos. A sua botica ficava à Rua Direita. Os cabedais do casal orçavam em dois contos de reis. Outro Sebastião Teixeira de Miranda de 52 anos, casado com d. Rosa Eufrosina Mendes, de 26 anos. Tinham o capital de Um conto e seiscentos mil reis. Residiam à rua do canto da Lapa até a Misericórdia.  Ou seja, atual Rua Alvares Penteado. Por fim, José Antônio de Lacerda, de 40 anos, casado com D. Francisca Almeida Pais, de 46 anos, com um filho, Francisco, tonsurado, de 12 anos, vivendo em sua companhia, três expostos, José, Quitéria e Joaquina de 1, 8 e 2 anos. Capital de Uns mil e duzentos reis. Residiam à Rua do Pelourinho, que suponho ter sido a que depois se chamou da Esperança, Santíssimo e Capitão Salomão, constituindo hoje o lado esquerdo da Sé.


Bibliografia: Revista Brasileira de Farmácia – abril de 1942 – Nuno Santana – Departamento de Cultura.

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