O médico João
Alvares Fragoso, em ofício dirigido, em 1812, ao Marques de Alegrete,
governador e capitão general de São Paulo, comunicava-lhe, “ na sua qualidade
de físico mor das Tropas desta capitania e Inspetor da real Botica do Hospital
Real desta cidade, que estão extintos os remédios que existiam nesta Botica a
ponto de nem ao menos se poderem substituir aqueles que preenchem as indicações
das moléstias atuais; e que os não há nas Boticas e Droguistas desta cidade,
para as comprar.”
Boticário na segunda década do séc. XX |
A Real Botica
se instalara num sobrado no bairro do Açu e em seu lugar hoje se ergue o prédio
dos Correios e Telégrafos. Foi construído em 1796 e demolido em 1916. Quanto as
drogas, não devia ser lá muito extensas a lista das então usadas. Relativamente
poucas as de origem mineral, eram muito maior número as provenientes do reino
vegetal. Há noticias, em 1730, do mercúrio e do arsênico. Vem no receituário de
1830. É desse receituário também o tártaro. Entre os vegetais, encontram-se
ópio, escamonéia, rosa, sene, maná, ipeca.
Pomadas e
linimentos tinham então grande voga, salientando-se as comumente, entre
aqueles, a pomada alvíssima.
Eram
abundantemente usados o bálsamo católico e a Água Vienense, ainda hoje
conhecido. Nos inventários e testamentos setecentistas mencionam-se caparosa,
que é sulfato de ferro, pedra ume e verdete. Tenho ideia de ter lido também nas
mesmas fontes, referencias a um traje de homem, “cor de pedra lipes, isto é cor
azul pavão. Trata-se de um caustico o sulfato de cobre ou vitriole azul, ainda
muito empregado principalmente, como inseticida agrícola”.
Em 1822, o
ano da independência, existia na capital, segundo Afonso A. de Freitas, 7
médicos e cirurgiões mores e 3 boticários. Um destes era Ereopagita da Mota,
com farmácia no início da então rua Rosário, hoje 15 de novembro, lado direito.
Quase
sessenta anos antes, em 1765 possuíamos três, sendo um deles Francisco Coelho
Aires, de 41 anos casado com D. Joana Batista dos Anjos, de 31 anos; residiam
com 3 filhos: José, Francisco e Teresa, respectivamente de 9, 1 e 14 anos. A
sua botica ficava à Rua Direita. Os cabedais do casal orçavam em dois contos de
reis. Outro Sebastião Teixeira de Miranda de 52 anos, casado com d. Rosa
Eufrosina Mendes, de 26 anos. Tinham o capital de Um conto e seiscentos mil reis.
Residiam à rua do canto da Lapa até a Misericórdia. Ou seja, atual Rua Alvares Penteado. Por fim,
José Antônio de Lacerda, de 40 anos, casado com D. Francisca Almeida Pais, de
46 anos, com um filho, Francisco, tonsurado, de 12 anos, vivendo em sua
companhia, três expostos, José, Quitéria e Joaquina de 1, 8 e 2 anos. Capital
de Uns mil e duzentos reis. Residiam à Rua do Pelourinho, que suponho ter sido
a que depois se chamou da Esperança, Santíssimo e Capitão Salomão, constituindo
hoje o lado esquerdo da Sé.
Bibliografia:
Revista Brasileira de Farmácia – abril de 1942 – Nuno Santana – Departamento de
Cultura.
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