Hura crepitans |
Em fins do ano de 1892, em viagem de excursão ao alto Rio Tocantins, ao lugar de nome Pederneiras das Mururas, município de Baião, achava-se atacado de morfea, lepra, um caboclo índio da tribu “Anambé”, em estado adiantadíssimo o infeliz vivia isolado dos seus companheiros. Em certo momento de desespero, cansado de suportar tantos males e dissabores, desprezado de todos, resolveu o infeliz caboclo por fim a sua vida.
Foi que munido de uma machadinha de cortar seringa e de uma tigela, e sabedor de que leite de assacuzeiro era um veneno terrível, próprio a lhe dar morte instantânea, o pobre lazaro golpeou uma das grandes árvores que abundam naquelas paragens, a apanhou certa quantidade do látex na dita vasilha e, depois de misturar com água , ingeriu-o sofregamente.
Passadas algumas horas caiu ele desfalecido; só vindo recobrar os sentidos no dia seguinte quando seus companheiros o foram encontrar atirado ao solo, dentro de sua tosca barraca, em estado que parecia de coma, tendo a seu lado a referida vasilha ainda com um pouco de leite de assacú. Julgado morto tal é a propriedade letal que sabiam do assacú. Qual, porém não foi o espanto de todos, quando pouco depois o suposto morto lhe contou toda e estória, lamentando-se de não ter sortido o efeito desejado do tóxico. Assim dizia ele, nunca mais o tornaria a tomar.
Alguns dias depois, os seus companheiros notavam, com surpresa, que a epiderme do infeliz que era toda cheia de feridas quase em decomposição, começava agora a secar. Para cortar o efeito corrosivo do assacú, davam-lhe de comer jacaré de moquém, cosido ou assado, e o caldo para tomar como água, durante muito tempo.
A conselho de alguns “curandeiros” tomava ele, em pequenas doses, com água, o rústico ingrediente, continuando com a mesma dieta, isto é, a alimentar-se de jacaré, por muito tempo, até que ficou completamente curado.
Caso idêntico deu-se com um magistrado do Piauí que, sendo atacado pelo mal de Lazaro, a conselho de um natural da povoação de Anamã, Estado do Amazonas, onde ele se achava, curou-se com o leite de assacú, que tomava em pequenas doses com água, e alimentando-se somente de jacaré por espaço de um ano.
O assacú é a Hura crepitans, dos botânicos, pertencente a família das euphobiaceas. Serve aos índios para envenenarem suas flechas.
Bibliografia: Chácaras e Quintais- outubro de 1920
Muito boa esta história.Parabéns!
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