domingo, 29 de março de 2015

Experiências de uso do Caapi.

Richard Spruce assistindo a uma festa numa tribo relata que o Caapi é bebericado nos intervalos das danças. O portador do vaso contendo Caapi deve ser um homem, pois nenhuma mulher pode saborear aquele líquido. Este ponto está, no entanto, em desacordo com o parecer de Ernestino de Oliveira.
Peiote, cactácea alucinógena.
Conta Spruce que o índio após sorver o Caapi fica pálido como um morto. Seiu corpo é todo agitado por um temor violento. O aspecto é de causar horror. Transpira fortemente, e parece dominado por uma fúria invencível. Se não o contiverem toma a primeira arma que encontrar, e sai dizendo: “Assim procederia com o meu inimigo”. No fim de 10minutos desaparece a excitação e o silvicula torna-se calmo, dando a impressão de esgotado.
Spruce tinha ido à festa com a intenção de experimentar o Caapi. Mal havia provado o macerado, foi obrigado ingerir uma grande cabaça de caxixi, cerveja de mandioca (considerada como Caapi atenuado). Em seguida deram-lhe um charuto de dois pés de comprimento da grossura de um punho, e çlogo após vinho de palmeira. Ela, que nunca havia fumado, foi acometido de náuseas, e só com repouso melhorou. Não pode, portanto, fazer a auto observação dos efeitos do Caapí.
Na América Latina existem outras plantas que provocam alucinações, como por exemplo, o Peiote, planta que os missionários chamavam da raiz diabólica. Esta planta é uma cactácea do México que mereceu um trabalho de Marinesco, cujo alcaloide descoberto leva seu nome Mescalina, que foi isolado por Lewin em 1888 e obtido sinteticamente por Spaeth, em 1909. Dessa mesma cactácea foram retirados mais três alcaloides: Anhalonina, Anhalonidina e a Lofoferina. A Aamnita muscaria, cogumelo encontrado na Sibéria, onde os naturais os mascam após dessecação, como fazem os africanos com o Tabaco, e os moradores da Cordilheira dos Andes com as folhas de Coca.
Refere Luiz Lewin que entre os índios Jibaros a beberagem de Caapi é distribuída durante a festa, cuja duração é em média de oito dias, e da qual participam homens, mulheres e crianças, e em geral aqueles que desejam sonhar. O distribuidor da beberagem, antes de oferecer a cuia a cada indivíduo murmura uma formula de esconjuro. Há ocasiões em que o produto é consumido em casa. Isso acontece quando alguém deseja ficar em estado de transe, durante o qual saberá o que lhe acontecerá no futuro ou quando uma viúva deseja escolher um novo marido.
O que torna agradável aos índios a ingestão deste tóxico, é , além de outras ilusões visuais durante o transe, aparições referentes a sua felicidade pessoal, além de sensações lúdicas.


Bibliografia: Revista da Associação Brasileira de Farmacêuticos – Setembro de 1936 – Oswaldo de A. Costa e Luiz Faria – Laboratório Bromatológico

terça-feira, 24 de março de 2015

A diferença entre Yagê e Caapi

Nonnato Pinheiro era contrário ao conceito de que Yagê e Caapi sejam a mesma coisa. Segundo a sua observação pessoal, o Caapi é uma beberagem destinada aos dias de festa, bebendo-a todos os convivas, isto é, homens e mulheres: enquanto que o Yagê só pode ser consumido pelos chefes de tribos, pajés, possuidores de poderes adivinhatórios.
É lógico que se todos os índios podem tomar ingredientes que lhes permite adivinhar o futuro, o poder e prestígio do pajé está ameaçado.
preparação do Caapi
Para reforçar  a afirmativa a cima Rouhier: “As doses elevadas de Yagê são empregadas por ocasião das cerimonias rituais e suas práticas de magia religiosas. Para este fim empregam o caule e algumas vezes as folhas , em decocto muito concentrados e reforçados com outras plantas de uma atividade fisiológica muito perigosa: Aya-huesca (Banisteria Caapi)
Sobre este assunto nos conta F. W. Graff, “Logo que desembarcou, o velho bandido bebeu algumas goladas da Hayahuasca, privilegio da sua alta dignidade. Esse liquido fermentado, de que tinha uma boa provisão, serve aos feiticeiros do amazonas para se porem em transe, na realidade uma meia embriaguez, do fundo da qual emitem uns oráculos que são recebidos com tanto respeito como os de Sibiba na antiga Grécia. Em todas as tribos Jivaros, o feiticeiro é todo poderoso, mas em geral a sua vida é curta. O seu reinado dura até que nas suas profecias se engane de maneira desastrosa”.
Como justificar a classificação de Spruce dando o nome de Caapi ao Yagê? É que o índio, sendo um desconfiado receia sempre que o estrangeiro se aproprie de suas terras e de seus segredos. Por isso, quando o informa sobre coisas que lhe dizem respeito, e das quais deseja guardar sigilo ensina errado. Despista... Aí fica um ponto digno de elucidação.
Ernestino de Oliveira, na sua lenda dos índios Tarianos, contestado aliás em alguns pontos por Spruce (considerado um dos melhores conhecedores das usanças dos índios amazonense), assim descreve os dias percursores das grandes festas: “As jovens índias são incumbidas  de procurar na floresta o cipó precioso, o Caapi. O vegetal é triturado com pedras e colocado num cocho de madeira,. Junta-se água, ficando em fermentação até o dia da festa, quando deve aparecer o Capiriculi, considerado o Deus do qual julgam os Tarianos descenderem diretamente”.
Bibliografia: Revista da Associação Brasileira de Farmacêuticos – Setembro de 1936 – Oswaldo de A. Costa e Luiz Faria – Laboratório Bromatológico.


domingo, 15 de março de 2015

Breve História do Caapi.

F. W. Graaff, um americano amante de aventuras, internou-se pelo Amazonas em junho de 1899, e nos legou um livro cheio de narrativas impressionantes: “Os caçadores de cabeças do Amazonas”. Esse título necessitava uma explicação. Os índios, por praticas ainda desconhecidas, conseguem reduzir as cabeças humanas a dimensões incríveis; e, por uma dessas aberrações inexplicáveis da moda, estão sendo utilizadas, em New York, nos cabos das sombrinhas!
Cerimônia do Caapi
Nas páginas do roteiro de viagem daquele aventureiro americano assombra o seu entusiasmo pela nossa terra quando exclama : ”Sinto-me feliz agora por isso, porque vivi nesse pais que representa a maior região inexplorada da terra”.
Na sua convivência com as tribos Jivaros presenciou estados oníricos provocados pelo Caapi, assim como de outra bebida, chamada Giamanchi, preparada em grandes quantidades pelas mulheres, para os dias festivos. Contem álcool em pequena quantidade, de modo que a embriagues só aparece quando a dose é demasiada. A ebriedade obtida pelo Giamanchi nada tem de comum com a que é causada por pela química moderna, porque aquela bebida produz um efeito mais estupefaciente do que excitante.
Em 1908, Euclydes da Cunha, de regresso de uma das excursões ao norte do pais, transportou o Yagê presenteando-o ao seu amigo Dr Frederico Freise, estudioso da nossa flora.
No Rio, em 1910, Oscar Guanabarino, conhecido intelectual e crítico musical, influenciado pelas leituras sobre as propriedades de televisão atribuídas à planta magica, compôs uma comedia intituleda –O Yagê-
Em 1914, Frederico Freise chefiando uma missão cientifica no Peru, obteve em Pebas, rio Maranhão, território ocupado pelos índios Koto, ramos floridos, sementes e cascas do Yagê. As sementes foram levadas para sua propriedade na serra dos Aymorés, rio dos Pancas, Espirito Santo onde se aclimataram.
Em 1921 Reinburg ocupou-se da Ayahuesca, do Yagê e da Trombeta branca (Datura arbórea).
Em 1923 fizeram trabalhos sobre o Yagê, Guilherme Fischer Cardenas, Perrot, Georgina Munoz. Esta dedicou-se exclusivamente a parte psico-fisiológica.
Em 1925, Barriga Villalba, da Universidade de Bogotá, retoma as investigações anteriores e separa dosi alcaloides, dando-lhes os nomes de Yageina e Yagenina, cuja porcentagem no vegetal é de 1,5% para o primeiro e de 0,025% para o segundo.

Bibliografia: Revista da Associação Brasileira de Farmacêuticos – Setembro de 1936 – Oswaldo de A. Costa e Luiz Faria – Laboratório Bromatológico

domingo, 8 de março de 2015

No Yagê o veneno para a cabeça

Entorpecente = substância natural ou artificial  classificada como veneno para o cérebro, cuja ação entorpecente caracteriza-se por exaltação de fantasias e da excitação psicosensora pelo obscurecimento da consciência da faculdade de opinião, pela deficiência de raciocínio pela deficiência dos poderes inibidores.
Seria a existência destas substâncias um motivo de alegria ou de tristeza? O Yagê e a sua yagenina e yageina são substâncias que a química vai entregar a medicina mais um poderoso agente terapêutico, porém sabemos também da possibilidade da deturpação da sua verdadeira finalidade.

Já aconteceu o mesmo com a cocaína e a morfina.
A origem do Yagê é muito mais antiga do que na realidade parece. As descrições de Humboldt, Spruce, e dos povos pré-colombianos, nos vieram abrir os olhos para as maravilhas da natureza tropical. Mas, a verdade é que já na dinastia dos Incas, se encontram provas provadas do culto do Yagê. Mama Ocllo era a deusa que oficiava nos ritos sagrados dos Incas nos quais o Yagê representava papel importante, e cujo emprego só era permitido aos padres oficiantes e aos velhos. Eles conheciam os efeitos de clarividência e telepatia da planta. Assim podia um sacerdote predizer a queda de um império uq havia chegado ao máximo esplendor com Huaina-Capac em 1475.
Os conquistadores espanhóis especialmente o padre Valverde, divisaram as magicas virtudes daquele chá.
No Brasil a origem do Yagê é um tanto confusa, como aliás a de quase todos os vegetais empregados na medicina. O próprio nome da planta é grafado Yagê, Jahe,Iagê..
Richard Spruce percorrendo o Amazonas, entre 1849 e 1854, incluiu nos seus celebres apontamentos um capítulo: Uso e feitos do Caapi. As inquirições do botânico britânico precederam cerca de meio século, o colombiano Zerda Bayon qu estudou esta planta em 1909.
Em 1857, Spruce, depois de ter permanecido perto de dois anos no Peru, aportou pelo rio Pastasa a grande floresta de Canelos, habitada pelas tribos Zaparos, lá encontrando Caapi, usado juntamente com as decocções de tabaco e de trombeta branca , Datura arbórea.
Manoel Villavicencio, natural de Quito, publicou em 1858, geografia da República do Equador onde também menciona a região onde se encontra Caapi.


Bibliografia: Revista da Associação Brasileira de Farmacêuticos – Setembro de 1936 – Oswaldo de A. Costa e Luiz Faria – Laboratório Bromatológico.

domingo, 1 de março de 2015

Aspectos morfológicos da droga Yagê

O caule da Banisteria caapi, que constitui propriamente a droga, não é ainda objeto de comércio, sendo apenas considerado como uma curiosidade científica nos meios civilizados. As outras partes do vegetal, são igualmente ativas conforme tivemos a oportunidade de verificar a presença de Yageina e Yagenina.
Banisteria caapi

Não se tratando de um produto comercial, é natural que não tenha uma apresentação uniforme e característica, sendo de supor entretanto, que como consequência dos estudos, que se estão procedendo neste interessante vegetal venha ter ele mais tarde alguma aplicação terapêutica, tornando-se então objeto, de cogitação especial da fármaco emporia e da fármaco diacosmia. Como uma contribuição entretanto á estes estudos, daremos uma descrição sumaria da morfologia do caule do Yagê tal qual ele se apresenta. Os primeiros espécimes por nós examinados vieram do Estado do Amazonas trazidos pelo botânico Ducke e se apresentava sob a forma de pequenos fragmentos de cerca de 4 a 6 centímetros de comprimento, medindo em média, de 1 a 1,5cm de diâmetro, cortados obliquamente nas extremidades de superfície externa sulcada longitudinalmente e de cor pardo-escuro.
Tratando-se de uma planta escandente é natural que muitas vezes o seu caule se apresente retorcido e recurvado com aspecto dos cipós possuindo, além disso, nós mais ou menos distanciados, de onde partem ramos laterais.
O caule Banisteria Caapi, quando ainda verde deixa-se quebrar com grande facilidade apresentando então, uma fratura nítida, apenas levemente fibrosa do lado oposto aquele onde a fratura teve início ficando os dois fragmentos presos pela casca. A secção transversal examinada sem microscópio ou lupa deixa ver nitidamente quatro regiões, a mais externa ou cortical. A segunda área mais externa é a menos expressa, de cor pardo escuro acompanhando o contorno bastante irregular do caule, e penetrando de quando em vez na segunda região que é formada pelo lenho secundário; A terceira de todas é a mais desenvolvida, de cor mais clara, com numerosos poros, visíveis, mesmo sem auxilio de lentes apresenta-se comumente bastante irregular; segue-se a terceira que é a mais compacta e de disposição radial; e finalmente, uma medula, algumas vezes excêntrica e de contorno ligeiramente elíptico. Este caule quando verde possui um sabor levemente amargo adstringente e um cheiro vegetal pouco característico, com o dessecamento, quer o cheiro, quer o sabor, se atenuam. Uma propriedade interessante que observamos foi a relativa rapidez com que os fragmentos deste caule escurecem, o que faz supor a existência de um fermento especial.
Afolha tem pelos peltados e as glândulas escutelares, autorizam desde logo a considera-la como pertencente à família das Malpighiaceas.


Bibliografia: Revista da Associação Brasileira de Farmacêuticos – Setembro de 1936 – Oswaldo de A. Costa e Luiz Faria – Laboratório Bromatológico.