quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Plantas Medicinais ameríndias II

Para combater a verminose, os índios empregam a resina de espécies nativas do gênero Ficus (F. doliaria e outras), da família das moráceas, conhecidas popularmente como gameleira branca ou figueira brava. Outro vermífugo é extraído da erva-de-santa-maria ou mastruço (Chenopodium ambrosioides, família das quenopodiáceas). Erva adstringente, que contraios vasos sanguíneos, é o cambará, ou camará (Lanthania camara, família das verbenáceas). É usada na medicina caseira e homeopática para tratamento do reumatismo, entre outras indicações. A quinina, alcaloide extraído da casca das quinas (plantas do gênero Chinchona, família das rubiáceas), foi o único antimalárico disponível até os anos 30. Foi substituído por um derivado, a cloroquina, extraída da Chinchona calisaya, em conjugação com medicamentos sintéticos.
Erva de Santa Maria
Como antídoto para picadas de cobras peçonhentas, os índios usam, entre outros tratamentos, uma pasta de rízes plicada no local da picada e bebem o chá das raízes de caiapiá (Dorstenia brasiliensis, família das moráceas). Curam picadas de escorpião com uma infusão da planta Urena carcasana (malvácea).
Efeitos constracaptivos são obtidos, de acordo com o botânico norte-americano Ghillean Prance, com uma beberagem da trepadeira Curarea tecunarum, da família das minispermáceas. Anestésicos são extraídos da folha da coca (Erythoxylum coca, família das eritroxiláceas), que os índios usam também como estimulante da clarividência.
No Brasil a pratica da medicina tradicional em pequenas comunidades étnicas ou sociais induz o consumidor a tomar um produto por boa fé, sem saber se existem nele princípios benéficos ou nocivos. Sem dúvida, a confiança num produto cujo uso foi benéfico para outros membros do grupo é um importante ingrediente – talvez o mais importante – do tratamento: a influência da fé no medicamento constitui o chamado “efeito placebo”. Por isso, um placebo poderia, com frequência, fazer o mesmo efeito que um produto farmacêutico.
A maior evidência da virtual inocuidade (no melhor dos casos) dos produtos ‘naturais’ é que eles continuam restritos as suas áreas de origem e jamais se tornam de uso universal. Em geral, entretanto, a planta dita medicinal chega às mãos do usuário despojado de qualquer informação fidedigna: há desconhecimento total da época da coleta, do especialista (se foi um especialista) que colheu, dos cuidados tomados durante o processo de armazenamento, secagem e moagem, da ausência de contaminação por fungos e outros microrganismos. Tudo isso torna impossível a previsão de eventuais efeitos colaterais que a planta possa provocar.
Uma planta não é uma fábrica montada especificamente para determinada produção. É um ser vivo que está sujeito a estresse por fatores ambientais variáveis, como fertilidade do solo, umidade, radiação solar , ventos temperatura, herbivoria, biota associada,poluição atmosférica e do solo.


Bibliografia: Ciência Hoje, Vol 15/nº 89 – Plantas Medicinais ameríndias – Berta G. Ribeiro – Departamento de Antropologia – Museu Nacional/UFRJ.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Farmacopeia Paulista do período colonial

Conta-se que paulistas que desbravavam os sertões fizeram várias descobertas de remédios, observando o instinto dos animais, por exemplo: o adenoropium opiferum foi chamado por eles de raiz de tihu, porque o grande lagarto a procurava, quando estava doente, e o drymys grenatensis casca de anta, porque se diz que a anta, nas mesmas circunstâncias lhe roia a casca. Por causa destes felizes achados, ainda atualmente os habitantes da província de São Paulo passam pelos mais conhecedores dos medicamentos indígenas, e muitas dessas receitas tem a alcunha de remédio dos paulistas.
Casca d'anta
Desde os primeiros tempos da descoberta do Brasil, havia uma grande comunicação com a Índia Oriental, onde no então prevalecia o poder lusitano e daí muitos portugueses transferiram para o Brasil os conhecimentos que tinham adquirido das plantas medicinais, e atribuíssem as mesmas propriedades e dessem o mesmo nome a plantas brasileiras e que achavam analogia com as indús. Quem lembra a imensa multidão de plantas a que os brâmanes atribuem propriedades salutares, não havendo quase nem uma só de que não retiram alguma virtude singular, como se mostra o jardim malabar de Rheedi, tanto menos se deve admirar de que semelhante costume fosse transplantado para o novo mundo, e que a cada planta dotada de alguma virtude se atribuísse alguma relação determinada com o corpo humano e suas diferentes partes.
Além disso, uma ou outra planta indiana foi trazida para o Brasil, que é tida entre as plantas domésticas, como por exemplo, o aloés vulgar, o labla vulgar, o mangericão a artocarpus integrifólia.
Outra raiz para muitos fármacos brasileiros é a de muitos pretos africanos que tinham de aprender a curar seus males e por isso atribuíam por semelhança entre a flora deles e a brasileira seus usos. Assim, muitas plantas semelhantes e originais de ambos os continentes, como o ageratum conyzoides, a valteria americana, o tiaridium indicum, a cássia ocidentalis, fossem adotadas para uso, e algumas poucas, ou de propósito ou por acaso fossem importadas da África.
Reunidas todas estas plantas terá o médico a sua disposição, como que legiões inteiras preparadas para combater as moléstias, e até mesmo será tal a superabundância de remédios, e os seus diversos grãos, que antes por excesso que por falta terá ele que pensar o que usar.
Como sabemos na Europa muitos médicos rejeitam esses medicamentos, julgando que muitas de suas virtudes são imaginárias, e que com poucos se podem conseguir os mesmo fins, mas no Brasil, prefiro aconselhar aos médicos brasileiros a que usem sua flora nacional porque da eficácia desses remédios tiveram muitas provas, e se chegaram a convencer que meios aparentemente fracos, se aplicado com o melhor resultado para restabelecimento da saúde.


Bibliografia: Systema de Matéria Médica Vegetal – Car. Fred. Phil de Martius - 1854 

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Plantas Medicinais Indígenas

Em botânica Econômica Brasileira, Walter B. Mors e Carlos T. Rizzini enumeram plantas ameríndias cujos efeitos terapêuticos foram comprovados pela medicina ocidental. Clujde Lévi Strauss em “O uso de Plantas Silvestres da América do Sul Tropical”, ensaio publicado no volume Etnobiologia , da Suma Etnológica Brasileira, afirma que os povos americanos possuíam todos os remédios necessários à cura de suas doenças. Faltaram-lhe medicamentos  para a cura de doenças alienígenas, introduzidas pelo homem branco, que lhes tem sido fatais.
Jaborandi
Parte do elenco de fitoterápicos brasileiro foi divulgada por Guilherme Piso e George Macgrave, botânicos holandeses que estiveram no Brasil com Maurício de Nassau no século XVII. Agentes biologicamente ativos encontram-se em inúmeras outras plantas, ainda não testadas, e que poderiam trazer benefícios incomensuráveis no campo da saúde. As espécies que se seguem, são algumas das plantas mais comumente citadas.
A ipecacuanha (Cephaelis ipecacuanha, família das rubiáceas), quase extintas devido à coleta intensiva, é um poderoso emético e, em dosesmenores, expectorante, empregada no combate às desinterias amebianas e outras doenças intestinais.
O Jaborandí (Pilocarpus spp, família das rutáceas) é usado na cura do glaucoma e outras enfermidades oftálmicas. Tanto ipecacuanha quanto jaborandi são exportados como matéria prima para laboratórios estrangeiros e reimportados na forma de alcaloides sintéticos.
Substancias curarizantes são obtidas de plantas de três gêneros da família das menispermáceas e de certas espécies do gênero Strychnos, da família das loganiáceas. Os índiosutilizam o curare na caça arborícola ( cuja carne pode ser consumida), porque, causando paralisia muscular , determinada a queda da presa.
A medicina ocidental extrai das mencionadas espécies a d-tubo-curarina para obter efeitos curarizantes nas operações do músculo cardíaco ou naquelas que exigem relaxamento muscular profundo, bem como no tratamento do tétanoe de doenças nervosas.
Entre as plantas com propriedades depurativas do sangue, cita-se a taiuiá (Trianosperma tayuya) ou abobrinha do mato, da família das curcubitáceas, empregadas como remédio contra a sífilis. Propriedades terapêuticas semelhantes são atribuídas à salsaparrilha ou japecanga (Smilax officinalis, família das liláceas), cujas raízes e frutos são usados como diuréticos e febrífugos. Atualmente seu emprego se concentra no preparo de refrigerantes.


Bibliografia: Ciência Hoje Vol 15/nº 89 – Berta G. Ribeiro – Departamento de Antropologia, Museu Nacional/UFRJ

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Medicamentos nas intoxicações humanas no Brasil

O Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (SINITOX), criado em 1980 pelo Ministério da Saúde (MS), com sede na Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), tem como principal atividade coordenar o processo de coleta, compilação, análise e divulgação dos casos de intoxicação humana registrados no país, pela Rede Nacional de Centro de Controle de Intoxicação, comunente denominada Rede SINITOX.
No ano de 1996 o B rasil possuía 156.803.232 habitantes e 30 centros regionais espalhados por todas as regiões do pais.
Comigo ninguém pode
Os estados Unidos possuíam, naquele mesmo ano de 1996, 67 centros e uma população estimada de 232.300.000 habitantes, o que representava 2,9 centros por dez milhões de habitantes.
Os Centros de Controle de Intoxicação funcionam em regime de plantão permanente todos os dias do ano. Sua principal atividade é a prestação de informações aos profissionais de saúde, às instituições hospitalares e à população leiga, por plantonistas supervisionados pelo corpo técnico do centro, através de telefone, fax, e e-mail. Nos atendimentos de emergência, os centros utilizam, como material básico de consulta, Monografias em Toxicologia de Urgência que compõem um banco de dados toxicológicos (CIT-RS/FIOCRUZ/ATOX,1997). O banco é composto por monografias técnicas, envolvendo cinco grupos principais: medicamentos, pesticidas, produtos químicos de uso doméstico e industrial, plantas tóxicas e animais peçonhentos.
Os medicamentos vêm, desde 1994, segundo as estatísticas divulgadas pelo SINITOX, ocupando o primeiro lugar no conjunto dos 13 agentes tóxicos considerados, respondendo, no período de 1993 a 1996, por aproximadamente27% dos casos de intoxicação registrados no país.Este agente tóxico vem preocupando há algum tempo as autoridades e profissionais de saúde de países como os Estados Unidos, Costa Rica, Portugal e Uruguai, pelo aumento do volume de casos de intoxicação que este agente provoca.
Os acidentes, no conjunto dos agentes tóxicos, ocuparam o primeiro lugar, com 131.495 casos, correspondendo a aproximadamente 60% dos casos registrados, no período de 1993 a 1996.
Este comportamento é comum para a maioria dos agentes, com exceção dos medicamentos e dos raticidas, que apresentam como principal causa determinante o suicídio. Do total de 57.748 casos de intoxicação medicamentosa, 25.297 (44%) foram registrados como tentativa de suicídio e 23.150 (40%) acidentes.perfazendo 84% dos casos.
Com relação aos 266 óbitos por medicamento 148 deles (56%) foram atribuídos à causa “suicídio”, seguidos de “outras causas” e “acidental”.


Bibliografia: Caderno de Saúde Pública, Rio de Janeiro, 15(4): 859-869, out-dez,1999. Bortoletto, Maria Élide e Bochner, Rosany