sábado, 23 de fevereiro de 2013

A Baunilha Brasileira segundo Von Martius

Flor e aste de Baunilha brasileira

A baunilha brasileira, que me foi remetida pelo Sr. Schadelook é dissemelhante da mexicana e de uma terceira espécie, tem fava do tamanho de um dedo, são grossas e pretas, existindo no interior da Bahia, Piauí e do Pará. Nem todas as espécies de baunilha crescem com frequência, nas matas virgens, sobre as árvores, e um botânico, acostumado a olhar mais para o solo do que para consideráveis alturas vai muito raramente ter ocasião de observar tais plantas em todos os estados. Infelizmente não estou em condições, por isto, de externar algo de positivo acerca da planta originaria da baunilha ora apresentada. Em minhas anotações feitas em viagem encontro referencias sobre as menores favas, originarias da Vanilla planifólia, Andr. ; porém, dada a dificuldade de comparar as diversas plantas da família das orchidaceas sem o confronto de águas fortes com a planta em natureza, não quero dar muito credito aquelas anotações. Há, no entanto, que assegurar que as espécies de baunilha, as únicas que até agora foram encontradas no Brasil, não alcançaram o aroma das mexicanas, e que, por encerarem muito mais polpa no interior da fava, por isto mesmo facilmente apodrecem, sendo tratadas pelos brasileiros por um processo falho de eficiência. Elas são suspensas por algum tempo em xarope, motivo pelo qual o sabor aromático é ainda mais diminuído e, de tal maneira modificada, a ser a primeira impressão das favas sobre a língua análoga á da geleia de ameixas. Aliás, tomei, no Paré, chocolate que havia sido preparado com esta baunilha.
Os gêneros das laurineas, que são especialmente ricos em excelentes plantas medicinais, apresentam espécies singulares também no Brasil. A Cassia cryophyllata das oficinais ainda frequentemente atribuída a uma murta, á Myrtus caryophyllata, L. origina-se de uma Persea, como eu próprio me certifiquei na escola do Pará, pela observação das árvores. Esta Persea até agora não foi descrita, e é designada por mim pelo nome de Persea caryophyllaceas P;. Glaberrima,
Esta bela arvore nasce de preferência e frequencia nas matas densas e úmidas do Rio Maué, no canal dos Abacaxis que liga o rio Madeira ao Amazonas, e nas ilhas lacustres do Vaicurapa e Uautas, que também recebem águas do Madeira e Amazonas. Os índios da tribu Maué especialmente fazem o intercambio com as cascas tiradas desta árvore. Nas províncias setentrionais do Brasil conhecem-se as mesmas sob o nome de cravo do Maranhão. Se os índios tem pouca noção do valor dos objetos em geral, que possuem em seus pobres lares aprenderam, em virtude da procura cobiçosa dos europeus aquela desejada droga, a estipular determinado preço á mesma, e eles trocam somente pela aguardente, machados e chitas, para eles, os mais importantes objetos que recebem pelo trafico com os brancos. Eles descascam a árvore no fim da estação das chuvas, durante a qual a casca se destaca do lenho com maior facilidade, enrolam as mesmas, como a canela, sobre um brando fogo, e as transportam para o mercado em feixes de três pés de comprimento por um palmo de grossura amarrados com o liber castanho de um cissus.
Bibliografia: Revista da Flora Medicinal – 1939. Escrito pelo Dr Von Martius e traduzido pelo farmacêutico Oswaldo Riedel

domingo, 17 de fevereiro de 2013

As Árvores de Agelim


As sementes, que aqui tenho a honra de apresentar, parcialmente fragmentadas em parte pulverizadas, pertencem a varias espécies do gênero Geofroya, Geofroya Vermifuga e G. Spinulosa, Mart. No pais denomina-se esta árvore de Angelim. São excelentes vermífugos. Nestas drogas o Brasil é tão rico, a ponto de cada província poder utilizar, como anti-helmíntico, droga vegetal diferente, assim, por exemplo, no Para e Maranhão as sementes da assim denominada Andiroba, Carapa guyanensis, em Minas a raiz do Acrostichim lepidopteris Lagsd et. Fisch, e assim por diante.
O pó cinzento-esbranquiçado que temos diante de nós sob o nome de goma de batata é um artefato da raiz tuberosa de uma convulvulacea, denominada batata da purga, Ipomoea operculata, Mart. Esta planta se encontra dentre as drogas brasileiras, que Bernardino Antônio Gomes divulgou nas Act. Oliss. Do ano de 1812, descreveu sob o nome de Convolvulus operculatus, e desenhou. Muitos médicos brasileiros tem esta planta como sendo a Convulvus mechoacanna de Linneu a resina purgativa obtida pela infusão alcoólica dos tubérculos que perfazem mais ou menos 6% do todo, coincide em seu efeito com esta, assim como com a resina de jalapa.
Quando a raiz fresca é finamente ralada e tratada pela água fria, as partes amilaceas caem arrastando parte da resina, e este misto, após ser desecado, vêm a ser o pó aqui apresentado. Os brasileiros costumam empregá-lo especialmente em crianças e pessoas delicadas, como laxante e scopo derivante. Por outro lado é natural que, em virtude da mencionada maneira de preparação, a parte resinosa assim como o precipitado poderia, no efeito, ter resultados variáveis.
A árvores de Tamarindo é planta aqui e acolá na Bahia, Pernambuco, Maranhão Paré e deve ser encontrada espontaneamente no Mato Grosso. Não sei se a espécie existente no Mato grosso é diferente da primitiva, indo oriental, o que de algum modo me parece provável, tanto mais que deve lá estar esparsa por grandes extensões das florestas. Tanto, porém está assegurado: A polpa de tamarindo já vem há muito tempo sendo produto de exportação, e no próprio país é utilizada na preparação de refrescos. Como, porém o calor lá existente não permite o armazenamento da polpa de tamarindo dessecada  os habitantes costumam concentrá-la com açúcar, e a polpa deste modo preparada se assemelha a esta aqui apresentada, de coloração amarelada e sabor agradável acidulado e doce. Considerável teor de açúcar deveria desde que fosse vendida pelo mesmo preço da levântica  antes torná-la recomendável, do que desvantajosa.

Bibliografia: Revista da Flora Medicinal – 1936 – Sobre algumas Drogas Brasileiras – Dr. Von Martius tradução Farmacêutico Oswaldo Riedel.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Cipó Mil Homens

Aristolochia cymbifera, Mart.

As raízes de varias Aristolochias fornecem umirritante muito mais enérgico, e são conhecidas no Brasil sob os nomes de raízes de mil homens e jarrinha e gozam de frequente uso. Originam-se da Aristolochia cymbifera , Mart. Aristolochia Trilobata Jasq, pois que segundo observações recentes efetuadas a forma e extensão da flor variam nestas plantas singularmente por algumas polegadas.
A raiz é na zona de transição nodosa intumescida e com protuberância dividida inferiormente em varias ramificações de, às vezes, alguns pés de comprimento, e se compõe de um córtex esponjoso e grosso, que externamente é castanho-escuro ou quase preto, internamente esbranquiçado e mais ou menos vascularizado em acinzentado, e de um lenho amarelado, longitudinalmente fibroso. Também são empregadas da mesma forma, que a raiz, as partes inferiores dos ramos, que na maioria das vezes são torcidos longitudinalmente fibrosos e providos de lenho amargo, que no entanto, é mais delgado.
Ambas as partes tem sabor amargo, nauseabundo, idêntico ao da arruda e valeriana, e picante por fim. O odor é muito penetrante e mais ativo que o da valeriana, com o qual poderá ser comparado. A raiz de mil homens já foi analisada quimicamente em Portugal por Thomé Rodriguez Sobral; os resultados no entanto são insuficientes, dado o atual estado da química vegetal. O autor dá como componente um principio aromático sui generis, que é solúvel especialmente em álcool, provavelmente pode-se encontrar ai , em análises mais acuradas, um alcaloide;  além disto mucilagem, matéria extrativa, tanino em parte; um principio óleo-resinoso; um amargo análogo ao da quassia, genciana, etc., cal, álcali, ferro, fibras lenhosas.
Estas raízes de Aristolochia fazem parte, no Brasil, dos remédios comuns e caseiros contra mordedura de ofídios. Os “curadores” frequentemente aplicam o decocto e, externamente compressas, com a raiz pulverisada ou também com a herva fresca, recentemente contusa. Em geral o uso continua acarreta vômitos intensos ou evacuações abundantes para visível alívio do doente. Certa vez tive ocasião de vê-la alternadamente, ser dada, em vinho, com o chifre pulverizado que o pássaro Inhuma, tem na testa, e foi com sucesso. Gomes cita particularmente também o uso contra feridas de mai caráter, das pernas, contra queimaduras e febres intermitentes. Quero crer que ela no tifo e na febre adinamica, mereceria a preferência em relação à valeriana e serpentaria, ou pelo menos deveria ser igualada a estas drogas excelentes. A dose é um escropulo do pó, 6-8 vezes; em infuso meia onça para 8 de veículo diariamente.

Bibliografia: Revista da Flora Medicinal, 1936 – Sobre Algumas Drogas Brasileiras, segundo Von Martius, Traduzido por Oswaldo Riedel