segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Caracteres Gerais de Identidade dos Extratos Fluidos


Uma das falhas sensíveis da nossa farmacopeia é a deficiência de dados de caracterização da maioria dos extratos fluídos e a omissão completa para um grande número.
No entanto, julgamos da maior importância, a descrição de todos os caracteres que podem apresentar e, de cujo conjunto, se tem certa segurança, reconhecer a sua identidade, isto é, saber de qual planta provém.
Os caracteres gerais de identidade dos extratos fluídos decorrem da composição química da planta ou partes vegetais que lhes deu origem e também da composição do veículo ou menstrúo empregado em seu esgotamento.
Quando se trata de planta de composição química bem conhecida e, encerrando princípios ativos doseáveis, o problema se simplifica sobremaneira, pois basta uma prova de identidade do princípio ativo seguindo do doseamento, devendo se encontrar, nos limites exigidos pela farmacopeia. É o que acontece com os extratos fluídos de plantas alcaloídicas, glucosídicas, cateínicas e outras cujos princípios possam ser doseados. Infelizmente, porém, para a gande maioria das plantas, a questão se complica porque não encerram qualquer princípio que possa dar uma indicação segura da qualidade e da quantidade empregada no preparo do respectivo extrato fluído.
Para esses, a identidade é reconhecida por um conjunto de propriedades físicas e organoléticas que devem corresponder aos de uma amostra padrão obtida nas melhores condições de técnica.
Damos a seguir os vários ensaios a que submetemos os diversos extratos fluídos obtidos no laboratório sob a nossa direção técnica: Físico = Densidade, Resíduos seco a 100º, Doseamento do álcool, Modificação por diluição na água. Organoléticos= Aspecto, cor, odor sabor; Quimicos= Reação de identidade do princípio ativo, Doseamento dos princípios ativos.
A insuficiência de álcool pode dar lugar à fácil alteração da preparação.
Dado que temos verificado ser preciso é o da verificação do resíduo a 100º. Tomamos 5cc. Do extrato fluído rigorosamente medido em pipeta; colocamos em uma capsula de porcelana tarada e deixamos num banho-maria durante três horas.
Findo esse prazo, pomos a capsula num dissecador a ácido sulfúrico durante uma hora e pesamos; a diferença de peso X por 20, nos dá o resíduo por cento.
Para a mesma planta, temos verificado que é bastante aproximado. Por uma série de verificações feitas, sobre o mesmo extrato fluído, sabemos a média das oscilações que comporta.
Essa verificação, ao mesmo tempo em que dá uma indicação, embora indireta, da planta de onde provem o extrato fluído, indica, por outro lado, si foi empregada na quantidade normal.
O doseamento do álcool, às vezes, é interessante, para se ter a certeza de que foi empregado na graduação conveniente, o que já é indicada em parte pela verificação da densidade, como foi dito.

Bibliografia: Revista Brasileira de Farmácia –março de 1942  pág 197 – 198.

domingo, 19 de agosto de 2012

A História do Extrato Fluido no Brasil

Extrato Fluído

O extrato fluído teve sua origem na América do Norte pela primeira vez na farmacopeia daqueles pais, no ano de 1850, como uma nova forma distinta de extrato, sob a denominação de “fluid extracts”.
Os farmacêuticos norte americanos, verificando os grandes inconvenientes que apresentam os extratos moles e firme, em consequência dos processos de preparação, criaram essa nova forma que incontestavelmente apresenta sobre aqueles, na pratica farmacêutica, grandes vantagens.
Efetivamente, os extratos moles apresentam sérios inconvenientes de ordem técnica e de ordem pratica. Os processos de preparação, exigindo a ação prolongada do calor, resultam produtos alterados na sua composição química pela formação de novos compostos, às vezes inertes, além da modificação em seus caracteres físicos, etc.. Na prática, além da maior dificuldade no seu emprego pelo fto de deverem ser pesados e não medidos como o extrato fluído, os extratos moles são de pronta alteração logo ao primeiro contato com o ar, o que resulta serem frequentemente empregados nos laboratórios farmacêuticos produtos contaminados, ressecados, modificados, portanto, na percentagem de princípios ativos.
O extrato fluido, obtido por uma técnica especial, em que 80% da preparação deixamos de sofrer a ação nociva do calor, devendo assim conter quase integralmente os princípios ativos úteis da planta de onde provém, representando o próprio peso da planta dessecada ao ar, de conservação indefinida, de fácil manejo na prática porque é empregado em volume e não em peso; ainda mais, substituindo a própria planta em todas as suas aplicações, todas essas qualidades conferem, sem dúvida, a essa forma um superioridade incontestável.
Por isso mesmo.é que sua propagação foi rápida em toda a América, principalmente em nosso pais  onde o comodismo e a simplicidade em tudo tem lugar de destaque.
Nao temos elementos comprovantes, mas acreditamos não errar afirmando que no Brasil mais do que em qualquer outro país, o extrato fluído dominou e domina ainda toda a farmacotécnica nacional.
Tudo se prepara com extratos fluídos até, nãoo se surpreendam, hidrolatos já vimos preparar.
Enquanto que em toda América se disseminou e encontrou fácil e inteligente aplicação, no Velho Mundo, foi o extrato fluído recebido com restrição e mesmo hostilidade. Talvez, unicamente pelo fato de ser originário da América e não da Europa, de onde vinham todas as novidades na época.
Bibliografia: Revista Brasileira de Farmácia – Março de 1948 – pág 186

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

O Cipó Chumbo segundo Dr. Von Martius 1829

Cipó chumbo

No Brasil se denomina Cipó de Chumbo Cuscuta racemosa Humboldt; umbelata e miniata Martius, porque, mais denso que a água, nella submerge. Não sei até que ponto deve-se-ia considerar o efeito desta planta.m todo o caso é notável que enquanto a Europa abandonou um medicamentoenaltecido até ao século passado por Hippocrates Galeno Aetio pelos árabes e muitos médicos francês, alemães agora o Novo Mundo relembre coisa semelhante. Estes ramos e galhos secos aqui apresentados, de uma Cuscuta não foram determinados à espécie, são inodoros, de sabor semelhante á herva, um pouco mucilaginosos e finalmente amargos epelas propriedades físicas parecem não demonstrar grande efeito.
Contem mucilagem e tanino. Parece que o medicamento poderia ser, especialmente, comparado á Radiz Symphyti officinalis
Ainda mais singular é outra planta, para a qual deveria ser voltada, por alguns momentos , a atenção . È a chamada manacan, geratacaca ou camgamba, e denominada mercúrio vegetal, no Pará.
Piso menciona a mesma com aquelas primeiras designações, e Sprengel consideram em sua excelente xilografia como sendo a Schwenkfeldia cinérea. A Planta, no entanto, pertence a outra ordem às Myoporinas, e foi pela primeira vez cientificamente ilustrada e descrita pelo meu amigo Dr. Pohl.
A planta toda tem um sabor amargo, nauseabundo e picante, e que mais se acentua na raiz, e é um dos mais enérgicos drásticos que o Brasil oferece.
Produz, quando ingerida em doses um tanto elevadas, simultaneamente vômitos, e era usada pelos índios, segundo reza a tradição, como antídoto das mordeduras de ofídios, pois que originaria evacuação criticas e consideráveis, expulsando, assim do corpo o veneno.
No Pará se considera as mesmas como o mais eficaz medicamento contra a lues inventerata, tumores veneros, erupções pertinazes, ostealgias, doença mercurial.
Aplica-se externamente a erva esmagada, a raiz e os ramos novos em compressas quentes e frias. Internamente utiliza-se preferencialmente infuso aquoso frio. Para isto se raspa a raiz limpa, põe-se em água fria que fica durante 24 horas exposta ao ar livre côa-se a todo, e abandona-se o liquido coado novamente por um dia. Durante este tempo precipitam-se fécula de sedimento e outras substâncias, e o liquido decantado é bebido em pequenas doses, duas a três vezes ao dia. Desde que haja impurezas no corpo, o doente, o doente experimentará violenta excitação, particularmente insuportável formigamento sobre a pele. A eliminação acontece pela urina.

Bibliografia: Revista da Flora Medicinal  - pág 490.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

O guaraná segundo o Dr Von Martius


O guaraná, a pasta de guaraná, não deve ser confundido com a goma caraná, fui pela primeira vez divulgada, ao que me consta por Virey; e ele a atriobuià Rizopha Manyle. Sou capaz de dar mais preciosa elucidação sobre este singular produto da indústria indígena, posto que não só observei a planta originaria no próprio país como também presenciou a sua preparação pelos indígenas.
Esta substância é preparada da semente de uma espécie até agora não descrita de Paulinia, e que  denominei Paulínia sorbilis, ilustrando-a num opúsculo que meu irmão, T. W. Martius em Erlangen,  vai publicar sobre a droga.
É um arbusto com ramos separados, atingindo n o máximo a altura de um homem, e nasce espontaneamente nas matas secas da província do Rio Negro. Eu o vi na Barra do Rio Negro, onde no mês de novembro apresentava simultaneamente flores e frutos quase maduros, e mais tarde no Canal dos Abacaxis, no lago Canoma e na vila Topinambarana.
Os índios colhem os frutos maduros, retiram as sementes que são de cor negra, ovalares, do tamanho de avelã, e envoltos, na metade inferior, um pedúnculo branco e feculento.
Estas sementes são esmagadas entre pedras aquecidas e (no caso por mim presenciado sem outro ingrediente), segundo o que afirmam vários brasileiros,às vezes também adicionadas, misturadas e amassadas com cacau e alguma fécula de sedimento da raiz de mandioca, até que estejam bem aglutinadas e possam ser amoldadas a qualquer forma desejada. Na maioria das vezes tem a forma de fuso pontiagudo ou de um cilindro, raras vexes são globulosas. Sendo dissecadas ao ar na sombra, ou sobre a fumaça das cabanas, endurecem tornando-se um corpo de cor pardo-castanho, entremeiado aqui e acolá de partes mais claras e amareladas, tuberosas, de grande dureza e peso, e neste estado se tornam objeto de intercambio.
Também é igualmente a industriosa nação dos Maués no rio Maué, no lago Canoma e no rio Madeira, a que se ocupa tanto do comércio da Cassia caryophyllata, como também especialmente fabricação deste produto.
Destes maués é que em primeiro lugar o obtiveram os navegantes brasileiros que iam para o Madeira e vinham de Mato Grosso, e por intermédio destes últimos espalhou-se o uso do mesmo por todo o Brasil, a ponto de faltar muito raramente na compêndios de farmácia dos viajantes. O vulgo o considera, simultaneamente, estomáquico, antifebril e afrodisíaco; e devo, sem dúvida, confessar que estou indeciso sobre o caráter dominante, que a esta substância poderia ser atribuída.
Bibliografia:Sobre algumas drogas brasileiras. Dr. V. Martius fevereiro de 1829.