sexta-feira, 28 de outubro de 2016

Descoberta da aspirina para cura de todos os males

- Os médicos, declarou o químico Hermann Kolbe, são todos uns trapalhões.
- Inclusive eu? Perguntou o cirurgião Karl Thiersch.
- Claro. Inclusive você, meu amigo.
- E por que, Hermann?
Kolbe fungou.
Hermann Kolbe, qumico 
- Vou dizer porque. Olhe esse louco do Pasteur, lá na França. Se um dos meus alunos não trabalhasse melhor que ele, imediatamente eu o expulsaria do laboratório!
- oh!!... E outras razões?
Kolbe fungou outra vez.
- Considere o caso do seu grande amigo Lister. Veja como manipula o acido carbólico. É por milagre de Deus que ele nãose mata a si mesmo e a todo mundo.
O Dr. Thiersch ponderou sobre o caso.
- Talvez você tenha razão, Kolbe. Pasteur e Lister erram de vez em quando. Mas fazem grandes coisas. Ambos salvaram muitas e muitas vidas.
- Ach, tolice! Como podem fazer bem, se estão continuamente, cometendo erros? Eu, por exemplo, não erro.
Nunca em minha vida errei.
- Hum! Fez Thiersch
- Sim, continuou Kolbe, tenho desprezo pelos que erram.
- Se eu o não conhecesse muito bem, Kolbe, me sentiria ofendido e virava os calcanhares – mas vim aqui a procura de conselhos sobre o acido carbólico. Conselhos ou informações químicas.
- Informações químicas? Bom. Isso é diferente. Que deseja saber? Retiro os meus insultos, disse Kolbe piscando os olhos bem humoradamente.
- O caso é sério, Hermann. Ando pensando em dar acido carbólico z alguns dos meus clientes – em caso de tifo, tuberculose e crupe, mas esse acido é muito perigoso. Haverá qualquer outro produto químico menos ofensivo e que lá dentro do corpo se transforme em acido carbólico?
-É isso? Pois veio bater na porta certa. Há o que você quer e justamente fui eu o descobridor. Chama-se ácido salicilico.
-Realmente?
- sem duvida. Vinte anos atrás eu o produzi. Descobri meio de sintetizar o acido salicílico extraindo-o do carbólico, e depois verifiquei que este acido salicílico volta a ser carbólico novamente. - É admirável! Exclamou Thiersch. Mas acha que agirá assim no organismo?
- Certamente que agirá. Que é o corpo humano senão um tubo de laboratório? Garanto que agirá. Mas amanhã meus rapazes produzirão acido salicílico e nós verificaremos o ponto – Obrigado Hermann. Mas cuidado, hein?..
- Com o que?
- Cuidado! Não vá cometer algum erro...
- Absurdo!

Bibliografia: Mágica em Garrafas, A história dos Grandes Medicamentos – Milton Silverman – tradução de Monteiro Lobato – Cia Editora Nacional 1943

sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Alemães queriam trocar remédio contra a doença do sono por suas colonias na África

A coisa começou como murmúrios: “Soube da história? Parece que os alemães descobriram o específico de alguma doença tropical.” O que seria? O mundo ignorava. Portas a dentro do Instituto de Medicina Tropical de Hamburgo, um pequeno exército de cientistas trabalhava furiosamente, em silencio. Cada semana um dele voava ao departamento de Saúde de Berlim, ou a grande fábrica Bayer em Elberfeld, mas não divulgava nenhuma informação. Até o ano de 1920 nada transpirou do que se passava dentro do laboratório, mas no fim desse ano um químico cochichou para um colega na Inglaterra; “Fui informado de que na Alemanha estão fazendo provas dum específico para a doença do sono”, e a novidade espalhou-se.
pacientes com doença do sono em Moçambique
Doença do sono ou tripanossomíase africana é uma doença frequentemente fatal causada pelo parasita unicelular Trypanosoma brucei. Há duas formas: uma na África Ocidental, incluindo Angola e Guiné-Bissau, causada pela subespécie T. brucei gambiense, que assume forma crônica, e outra na África Oriental, incluindo Moçambique, causada pelo T. brucei rhodesiense. Ambos os parasitas são transmitidos pela picada da mosca tsé-tsé (moscas do gênero Glossina que são seu vetor).  A infecção ataca o sistema nervoso central, causando distúrbios neurológicos graves. Sem tratamento, a doença é fatal. Hoje a doença coloca em risco 60 milhões de pessoas.
mosca tsé tsé vetor do Trypanosoma brucei
Porque isso era em 1920, tempo em que a infernal doença estava devastando as colônias inglesas da África e as tomadas aos alemães durante a guerra.
O Colonial Office foi bombardeado de intimações da Inglaterra inteira. “Nada poupem para descobrir qual a nova droga alemã. Faz-se imperativo que tenhamos a dianteira no tratamento da doença do sono.”
Os pobre cientistas ingleses não conseguiam a menor informação sobre a descoberta alemã e aconselhavam ao governo que mantivesse calma e acreditavam que quando os alemães concluíssem os estudos, anunciariam a droga e diriam do que se tratava.
Porém o calculo dos ingleses não deram certo. Ao anunciarem a droga os alemães fizeram de um modo sem precedente nos anais da história. “Nós aperfeiçoamos uma nova droga que se revelou o remédio específico para a doença do sono africana. Demos o nome de Bayer 205, ou germanina. Mas no momento não estamos preparados para apresentar a fórmula”.
- Escutem aqui! Clamavam os ingleses. Vocês não podem fazer isso! Não é assim que verdadeiros cientistas procedem...
Mas os alemães calaram-se e continuaram a testar o 205 em mais ratos, mais coelhos e mais cavalos. Quando plenamente convencidos de que o 205 era inócuo para animais, ousaram fazer experiência em criaturas humanas- e por ironia do destino este humanos eram ingleses vindos da África com a doença do sono e foram a Alemanha em busca da cura. Ao retornarem de Hamburgo para a Inglaterra, perfeitamente curados, isso ainda mais assanhou os ingleses.
Os pedidos do Bayer 205 choviam, mas a resposta dos alemães era sempre: “Podemos mandar o 205 na quantidade que quiseres, mas com a condição de dardes a palavra de honra de que não fareis nenhuma analise do medicamento, nem o dareis para que outros o façam”...
Os médicos ingleses, franceses, belgas e holandeses tiveram de aceitar as imposições germânicas.
Nu a reunião em Hamburgo um orador pôs as cartas na mesa.
“O Bayer 205 é fundamental para a África tropical e, por consequência, a chave de todas as colônias. O governo alemão deve salvaguardar essa descoberta para uso exclusivo da Alemanha. Seu valor é tal, que qualquer participação em seu uso, por parte de outras nações, tem que basear-se numa condicional: a restituição das colônias alemãs tomadas durante a guerra”.
O barulho foi grande. Os homens de governo, os cientistas e estadistas dos países visados bradavam “Traição”! Nesta época a formula do Bayer 205 valia um bilhão de dólares.


Bibliografia: Mágica em Garrafas, A história dos Grandes Medicamentos – Milton Silverman – tradução de Monteiro Lobato – Cia Editora Nacional 1943

sábado, 15 de outubro de 2016

Os metais venenosos se tornam remédios

Chamuloogra odorata
A marcha durante os últimos anos de vida de Ehrlich foi muito agitada e os cientistas de sua época mal tinham tempo para respirar. E assimilar as lições do grande mestre. Sobreveio a primeira guerra mundial e só em 1918 foram retomados as pontas de fio deixados por Ehrlich. Ele havia provado que um metaloide como o arsênico podia ser domado por meio de complexas combinações, e agora outros cientistas procuravam fazer a mesma coisa com outros venenos. Tomaram sais de mercúrio, infernais compostos que também tinham sido usados na luta contra a sífilis, e transformaram-nos em seguros antissépticos, como o metafen, o mertiolato, o mercurocromo. Tomaram esse estranho metaloide antimônio e o apetrecharam para o combate da doença do sono na África, da ulcera e da terrível Calazar na Índia, China e países do mediterrâneo. Tomaram o bismuto e o transformaram em sobisminol, para o tratamento oral da sífilis – magnifica realização de Paul Hanzlik na Universidade de Stanford.
Alguns cientistas admitiram que o 600 não fosse mais o único composto de arsênico aproveitável na sífilis e graça aos trabalhos de Heidelberger, Jacobs, Brown e Louise Pearce (da Fundação Rockefeller), apareceram a triparsamida, para a doença do sono e a sífilis cerebral. Ernest Fourneau, do Instituto Pasteur, desenvolveu o stovarsol, também para a sífilis. E veio o carbarsone, começado nos dias febris de Ehrlich e Bertheim e abandonado porque não matava os tripanossomas; mas Leake, Anderson e Ghen, da Universidade da Califórnia verificaram que exercia efeito sobre as amebas. E surgiu o melhor remédio para a desinteira amebiana, infelizmente não a tempo de atender ao surto dessa moléstia “tropical” na nada tropical cidade de Chicago.
E veio o mafarsen, que Ehrlich achou muito toxico para ser dados aos sifilíticos, mas que outros sábios puseram no ponto.
E veio a tripaflavina, um belo colorante que Ehrlich não aprovou porque não matava o tripanossoma mas que um seu aluno escocês, Carl Browning verificou ser um matador de bactérias e usou as carradas nos soldados feridos.
Na América o professor Tracat Johnson e o jovem Frederick Lane, de Yale, e Veader Leonard, da John Hopkins também seguiram uma pista deixada por Ehrlich transformando o inútil ressorcinol em hexyressorcinol.
Enquanto isso drogas totalmente novas entravam no giro e na fama. O óleo de chaulmoogra, poderoso, mas horrível remédio da lepra usado já de séculos, foi estudado por um americano, Frederick Power, que extraiu o primeiro princípio ativo o ácido chaulmoogrico.


Bibliografia: Mágica em Garrafas, A história dos Grandes Medicamentos – Milton Silverman – tradução de Monteiro Lobato – Cia Editora Nacional 1943

sábado, 8 de outubro de 2016

Do 606 ao 914 Ehrlich e Hata acham a cura da Sífilis

Certo cientista escreveu uma coisa fantástica: os tripanossomos eram primos duma diferente raça de micróbios – dos micróbios causadores da sífilis. “Se o meu 606 mata o tripanossomo”, ponderou Ehrlich, “talvez também mate o micróbio da sífilis”.
Ehrlic e Hata em Frankfort
Nesse momento crucial um novo assistente lhe veio de Tóquio – S. Hata. Ehrlich pôs-se a trata-lo como escravo, mas Hata não se queixava, não se descuidava nunca. E aquele prodigioso japonês era perito em lidar com micróbio da sífilis e em inocula-los em coelhos e macacos.
Logo que as gaiolas se enchiam destes animais, eram entregues a Hata. Hata ria-se para eles. Hata cuidava deles. Hata dava-lhes de comida, mas também os enchia de ulceras sifilíticas. Mas se Hata contaminava de sífilis também os curava com injeções de 606. Porque, por mias incrível que até o próprio Ehrlich parecesse o 606 curava a sífilis!
Curava-a em coelhos e macacos – mas no homem? Nos homens nas mulheres e nas crianças pesteadas pela sífilis, doença contra a qual ainda nada se puder fazer? Cura-los-ia o 606?
Antes de qualquer coisa, era preciso que Ehrlich se convencesse da segurança do 606, e isso tomou dois anos – dois anos em que até o incansável Hata iria tornar-se um pouco impaciente com os infindáveis testes em coelhos, macacos e ratos e mais ratos. No meio daquela febre, recebeu Ehrlich a noticia de que ganhara o premio Nobel – não pelo 606 que não havia anunciado ainda – mas pelos seus primeiros trabalhos sobre células sanguíneas e a teoria da imunização.
Mas, afinal, em setembro de 1909, determinou Ehrlich que a prova em seres humanos não podia ser adiada por mais tempo, e mandou o 606, cuidadosamente selado em recipientes próprios, a Conrad Alt em Uschtspringe, ao Prof. Hreiber em Magdeburg e a outros amigos de confiança em Praga e Saraievo. Também mandou a Julis Iverson em São Petersburgo para testes em febre relapsa, uma doença causada por um parente próximo do micróbio da sífilis.
“Experimente isso em seus doentes”, escreveu-lhe Ehrlich, “e comunique-me sem demora os resultados. Sobretudo os maus resultados. Mas de forma nenhuma fale nessas experiências a ninguém. Não quero levantar esperanças prematuras...”
Em abril de 1910 os primeiros resultados vieram, e os amigos de Ehrlich forçaram-no, bastante a contra gosto, a fazer esta declaração perante o Congresso de Medicina em Wiesbaden – e imediatamente o mundo se voltou para o magico de Frankfort. Poucas pessoas haviam dado atenção aos anteriores estudos sobre colorantes e células do sangue e as desnorteantes teorias de Ehrlich; mas lá estava um homem que havia curado a sífilis, essa velha e horrorosa doença.
Vinham doentes implorar a cura. De todos os pontos do mundo chegavam cartas pedindo socorro e conselho, ou pedindo emprego e dinheiro, ou indagando se flores de batata curavam o cancro, ou pedindo autografo, ou apresentando congratulações e votos de felicidade. Grandes figurões também apareciam, e médicos famosos, e cientistas, e personalidades oficiais, e a todos Ehrlich atendia, sempre polido e serviçal.
Ehrlich procurava explicar tudo, fazer toda gente feliz, na mais completa ignorância do mundo que o rodeava e da inutilidade das explicações. E mesmo quando de seu laboratório saiu o 914, ou “neosalvarsan”, ainda melhor e mais seguro que o 606 no ataque a sífilis, muita gente ainda continuou insatisfeita.
Paul Ehrlich morreu em 1915, e com ele desapareceu o mais pitoresco e valente de todos os caçadores de micróbios. No fim, pálido e anêmico, terrivelmente cansado, ainda se inquietavam num ponto: a sua tarefa não estava terminada.
- Ah, se eu dispusesse de um bocadinho mais de vida... Há tanta coisa a fazer ainda...

Bibliografia: Mágica em Garrafas, A história dos Grandes Medicamentos – Milton Silverman – tradução de Monteiro Lobato – Cia Editora Nacional 1943

sábado, 1 de outubro de 2016

Atoxil e seus mil subprodutos na cura das doenças tropicais

Para a cura de doenças causadas por tripanosomas havia centenas de velhos colorantes a experimentar, e também havia as novas anilinas que os sábios alemães vinham revelando todos os dias. Havia os colorantes que Ehrlich arrecadava por toda Alemanha. E como se não fosse bastante, estabeleceu formulas para produtos químicos ainda não criados, coisas que concebivelmente podiam entrar em existência, e aos quais os seus discípulos acabaram dando existência.
Paul Ehrlich em seu laboratório 
De todo esse pesadelo de pesquisas um só colorante prometia algo, um pó chamado tripan vermelho. Um assistente de Ehrlich, experimentou a substancia e verificou que mata tripanosoma do mal de cadeiras, mas só atuava em ratos, não nos tubos de laboratório nem nos cavalos.
Fora o melhor encontrado e nada valia, e já estava Ehrlich a ponto de abandonar aqueles estudos, quando seu primo Carl Weigert, com a serenidade de costume, pediu-lhe que fizesse mais um estudo – um só.
- Conclui que é impossível Paul! Teria dito. Mas é preciso experimentar mais uma vez. Tenho a certeza de que você está na pista certa.
Num acesso de cólera, Ehrlich jogou os livros no chão, cruzou e recruzou a sala a bater o pé, lançou o charuto pela janela – mas concordou como sempre concordava. Uma vez mais – uma só!
E quando os rapazes retomaram aquilo, Ehrlich teve uma inspiração. Num jornal medico da Inglaterra havia ele lido um relatório de dois investigadores da Escola de Medicina Tropical de Liverpool, onde se anunciava a ação letal sobre os germes da doença do sono dum poderoso composto de arsênico, o atoxil. Soube em seguida que seu amigo Koch estava experimentando o atoxil. Ehrlich não teria dado importância aos ingleses, mas era Koch, o seu amigo Koch, que estava usando o atoxil... E sacando do bolso um dos cartões coloridos que sempre trazia consigo, escreveu uma nota endereçada ao incrível químico Bertheim: “Faça-me algum atoxil. Vamos usa-lo na doença do sono, na nagana e no mal de cadeiras”.
Bertheim correu em procura do chefe.
- Herr Geheimrat, isso é impossível!
- Por que impossível? Tornou Ehrlich. Um hábil químico da sua marca não pode então fazer atoxil?
- Sem duvida que posso fazer atoxil, Herr Geheimrat – mas o senhor não poderá usá-lo! Não sabe o que o atoxil, produz? Não viu o report de Koch?
- Ach, li tudo. Koch diz que o atoxil produz a cegueira. É isso que o está assustando? Não se aflija, meu caro Bertheim. Faça-me um pouco de atoxil, que eu tomo conta do resto. Havemos de muda-lo um pouquinho, de modo que não afete os olhos de ninguém.
Mas o apavorado Bertheim não se convenceu.
- Impossível! Ninguém pode reinar com o atoxil. É um composto extremamente sensível e que não pode ser mudado.
- Pois estou convencido que o meu caro Bertheim vai conseguir o milagre, rematou Ehrlich.
Intimado a obter o atoxil que não afetasse os olhos, Berthelm voltou para o laboratório e iniciou a tarefa. Como resistir aquele “meu caro Bertheim” do Chefe?
E o Chefe tinha razão. Era possível “brincar” com o atoxil, embora toda gente pensasse o contrário, e até o incrédulo Bertheim se convenceu de que o perigoso produto arsenical podia ser mudado de cem maneiras. Podia ser ligado a colorantes; podia ser dado em forma acida ou alcalina. Parecia não ter fim o número de derivados do atoxil que Bertheim começou a produzir – e isso significava mais trabalho para os experimentadores, porque cada novo composto químico impunha estudos completos feitos em animais.
Ratos com o sangue tomado pelos bacilos em forma de saca-rolha e que os novos produtos químicos matavam; ratos por eles curados mas que cegavam; ratos que de repenete se punham a dançar  em corrupio, como os dervixes.
Nada mais deteria Ehrlich. Estava convencido de ter nas mãos a cura das moléstias produzidas pelos tripanossomas - e o que tinha a fazer era ir variando o atoxil até acertar.
E imaginou compostos ainda mais “impossíveis”, que seus pacientes químicos acabavam obtendo. Não parava com as conferencias e reuniões – arguindo, explanando, convencendo quem quisesse ouvir, traçando diagramas no chão nas paredes, na sola do sapato, nos punhos e nos peitos da camisa.
Escrevia notas em costas de cartas. Lia livros de ciências as toneladas e lembrava-se do que lia – mas esquecia-se de comer e vestir-se decentemente; nunca se lembrava de onde havia deixado o dinheiro, e as vezes até esquecia o nome de suas filhas. Mas nunca jamais esqueceu o que havia lido, nem qual dos assistentes estava lidando nisto ou naquilo e que resultados estavam obtendo.
E foram indo até o 606, um composto que esperneava dentro do terrível nome de dioxidiamidoarsenobenzol.
Este 606 era uma das muitas “impossíveis” invenções de Ehrlich, uma droga que “não podia ser sintetizada” mas Bertheim sintetizou. E o 606 agiu magicamente. Com um jato de 606 nos ratos, os tripanossomas morriam. Curava os ratos sem cegá-los, sem afetar-lhes o cérebro, sem fazer-lhes mal algum. Foi prodigioso para os ratos e para os cavalos sul americanos com mal de cadeiras.

Bibliografia: Mágica em Garrafas, A história dos Grandes Medicamentos – Milton Silverman – tradução de Monteiro Lobato – Cia Editora Nacional 1943