domingo, 29 de julho de 2012

As quinas verdadeiras do Rio Negro


As quinas verdadeiras encontram-se no interior do Amazonas, nas mesmas latitude que se encontram as de melhor qualidade peruanas, devendo por isso serem de excelente efeito.
As quinas verdadeiras encontram-se no interior do Amazonas, nas mesmas latitude que se encontram as de melhor qualidade peruanas, devendo por isso serem de excelente efeito.
Menciono estas três espécies: Cinchona Lambertiana, Bergeniana e Macrocnemia. A Cinchona Lambertina é a que mais se assemelha, externamente á Quina de Loxa: sua epiderme é da mesma coloração cinzenta, porém provida de sulcos longitudinais e não transversais; o corpo cortical propriamente, é mais vermelho do que o da Loxa vera. Também no sabor ela se assemelha a Loxa, porém possui menos pronunciadamente aquele resaibo próprio às espécies de quina, e nauseabundo a certas pessoas.
A Cinchona Bergeniana é a mais fraca das três novas espécies; possuo, da mesma somente alguns pedaços descascados e finos, assemelhando-se externamente aos da Loxa lisa ou Jaen, sendo internamente de coloração menos rubra. A Cinchona macrocnema  se distingue de todas as qualidades até agora conhecidas por mim, pela coloração da casca, que de castanha passa ao violeta, onde ela se destaca da epiderme o que em meus fragmentos facilmente ocorre. Elas são consideravelmente ricas em resinas, porém não destituídas de aroma, e possuem amargor a que só mais tarde vai agir, nitidamente, sobre a língua. Não quero por em dúvida que em todas estas espécies não existam os alcaloides e ácidos específicos, que asseguram a eficiência da Córtex peruvianus.
As regiões onde foram colhidas, no alto Japuráentre as quedas de Cupati e Araracoara, se distinguem, na vegetação toda, das matas mais baixas no Solimões e Rio Amazonas, e dão assim, lugar á hipótese, que as plantas que aqui espontaneamente surgem, tem mais afinidade, em sua natureza, ás do limítrofe Perú, do que as da região do rio, onde os portugueses, não obstante todos os esforços, não puderam descobrir nenhuma quina.
Assim teria o Brasil, de acordo com estes dados 10-12 espécies de Rubiaceas da tribu das Cinchonaceas, que representam mais ou menos as espécies peruanas. São mencionáveis como falsas, se bem que excelentes quanto a ação antifebril: Strychnos pseudoquina St. Hil usada em Minas Gerais como quina Solanum pseudoquina St. Hil. Nas províncias sulinas, a quina do Piaui, também a Solanum, e a Cpoutinia ilustris do mesmo autor, uma apocinácea, da qual se origina a quina de Cumarú no distrito de Ilheus da província da Bahia. Também a genuína Quassia amara é designada, em algumas regiões do Brasil, pelo nome de Quina. Assim, por exemplo também no estabelecimento inglês no forte de São Padro, na Bahia e de que nos fala o príncipe Macximilian Von Neuwied
Menciono estas três espécies: Cinchona Lambertiana, Bergeniana e Macrocnemia. A Cinchona Lambertina é a que mais se assemelha, externamente á Quina de Loxa: sua epiderme é da mesma coloração cinzenta, porém provida de sulcos longitudinais e não transversais; o corpo cortical propriamente, é mais vermelho do que o da Loxa vera. Também no sabor ela se assemelha a Loxa, porém possui menos pronunciadamente aquele resaibo próprio às espécies de quina, e nauseabundo a certas pessoas.
A Cinchona Bergeniana é a mais fraca das três novas espécies; possuo, da mesma somente alguns pedaços descascados e finos, assemelhando-se externamente aos da Loxa lisa ou Jaen, sendo internamente de coloração menos rubra. A Cinchona macrocnema  se distingue de todas as qualidades até agora conhecidas por mim, pela coloração da casca, que de castanha passa ao violeta, onde ela se destaca da epiderme o que em meus fragmentos facilmente ocorre. Elas são consideravelmente ricas em resinas, porém não destituídas de aroma, e possuem amargor a que só mais tarde vai agir, nitidamente, sobre a língua. Não quero por em dúvida que em todas estas espécies não existam os alcaloides e ácidos específicos, que asseguram a eficiência da Córtex peruvianus.
As regiões onde foram colhidas, no alto Japuráentre as quedas de Cupati e Araracoara, se distinguem, na vegetação toda, das matas mais baixas no Solimões e Rio Amazonas, e dão assim, lugar á hipótese, que as plantas que aqui espontaneamente surgem, tem mais afinidade, em sua natureza, ás do limítrofe Perú, do que as da região do rio, onde os portugueses, não obstante todos os esforços, não puderam descobrir nenhuma quina.
Assim teria o Brasil, de acordo com estes dados 10-12 espécies de Rubiaceas da tribu das Cinchonaceas, que representam mais ou menos as espécies peruanas. São mencionáveis como falsas, se bem que excelentes quanto a ação antifebril: Strychnos pseudoquina St. Hil usada em Minas Gerais como quina Solanum pseudoquina St. Hil. Nas províncias sulinas, a quina do Piaui, também a Solanum, e a Cpoutinia ilustris do mesmo autor, uma apocinácea, da qual se origina a quina de Cumarú no distrito de Ilheus da província da Bahia. Também a genuína Quassia amara é designada, em algumas regiões do Brasil, pelo nome de Quina. Assim, por exemplo também no estabelecimento inglês no forte de São Padro, na Bahia e de que nos fala o príncipe Macximilian Von Neuwied.

Bibliografia: Revista da Flora Medicinal-Sobre algumas Drogas Brasileiras- Dr. V. Martius – Real Academia Bávara de Ciências fevereiro de 1829

domingo, 22 de julho de 2012

Quina Brasileiras segundo Von Martius


Portlandia

Nenhuma das qualidades de quina peruanas genuínas tem coloração escura idêntica, e a C. rubra que apresenta, em alguns indivíduos maior analogia na coloração se distingue à primeira vista pela estrutura fibrosalongitudinal, de fratura espetada, pois que a quina do Rio de Janeiro apresenta uma superfície compacta e finamente granulosa. O sabor da casca tem grande semelhança com o da Coutarea regia e da Huanuco, porém é mais amarga e resinosa. Em virtude do maior teor em resina e de maior dureza a casca estala mais entre os dentes, e se aglutina um pouco.
No terceiro volume de Memórias da Academia de Lisboa, encontra-se a analise química desta casca e sua comparação com três outras espécies peruanas, cujo resultado induz Bernardino Antônio Gomes a considerá-la pertencente as verdadeiras quinas, porque também contém cinchonina. “Este princípio fora desenvolvido na casca após a ação do calor em certo grau, enquanto que nas espécies peruanas já existe em liberdade, e por este motivo seria a quina do Rio de Janeiro, especificamente ativa em decocto e menos em infusum frigide paratu; isto também comprovei na prática, onde o emprego da casca brasileira in substancia não fornece os resultados eficientes esperados, enquanto que o decocto nada deixou a desejar”.
As restantes qualidades de quina, que até agora são conhecidas no Brasil, são as seguintes: 1- Quina do Piauí, divulgada em primeiro lugar pelo Dom Diogo de Souza. Origina-se de uma espécie ainda não descrita de Exostema, que denominei E. Souza.
2-Quina da Serra ou do Campo; Quina de Remijo, Cinchona ferruginea, Vellozzii e Remijana , Sit. Hil, de Minas Gerais.
3 – Quina do mato, nas selvas da serra do Mar entre o Rio de Janeiro e a Bahia, talvez a Exostema cuspidatum, e próxima a ela a casca da E. australe do mesmo autor.
É difícil estabelecer, que resultados tiveram as diversas experiências clínicas, feitas em hospitais portugueses com as espécies de quina brasileiras, e o aque deve ser atribuído a mencionada quina do Rio de Janeiro ou das outras aqui citadas, pois as descrições das cascas são, nas próprias divulgações do Jornal de Coimbra, onde aqueles resultados clínicos são anotados em vários lugares, de tal modo incertas, a ponto de se não poder reconhecer as espécies.
As experiências feitas por Comparetti, com uma casca de quina brasileiras, e que Ferreira da Siva traduziu para o português no ano de 1801, também deixam duvidas, quando se referem a nossa quina do Rio de Janeiro. Não devo aqui esquecer que as observações que Brera divulgou sobre uma quina bicolorata Del Brasil, assim  por ele denominada não de vem ser atribuídas a uma quina verdadeira e sim a outra Rubiacea (Portlandia Hexandria), que aparece ultimamente no mercado com o nome de Cortex Pitayo.

Bibliografia: Revista da Flora Medicinal- Sobre algumas drogas brasileiras – Dr. Von Martius. 

domingo, 15 de julho de 2012

Drogas Brasileiras segundo o Dr Von Martius


Conferência na Real Academia Bávara de Sciencias 1829.

Myristica sebifera
Há muitos anos está em uso no Pará a Myristica sebifera, uma espécie de noz moscada, para preparar uma espécie de cera das sementes cozidas e espremidas, particularmente, porém do arilo que as envolve, e que conhecemos, da noz moscada genuína indo-oriental pelo nome de macis. Tenho a honra de aqui apresentá-la. Seria de desejar que fossem quimicamente determinadas as relações existentes entre a cerina e a miricina, nesta substância. E utilizada com proveito em velas, e como os frutos pertencem a uma árvore grande e que não é rara é fácil a obtenção de considerável quantidade desta substância. Obtive, pelo Sr Schandelook, substância parecida, conservada em tubos ocos e obtida por maneira análoga de uma outra espécie de Myristica, a Bicuiba ou Uicuiba, que denomino M . Officinalis, e que nasce nas matas de Ilheus, um município da província da Bahia. Os índios e os colonos civilizados daquela região utilizam esta substância, que é de cor amarela e mais fluida, de sabor irritante em virtude de não pequeno teor de resina e óleo essencial, frequentemente em fricções contra dores reumáticas, artríticas e hemorroidárias, e ainda contra cólicas. Pode ser de algum modo considerado Bálsamus Nuciaste natural, e empregada como o mesmo. A preparação pelo indígena é evidenciada pelo modo grosseiro de acondicionamento, em cilindros ocos de gramíneas arboriformes.
A Radix Contrayerva aqui apresentada é a mais frequente espécie da Bahia. Origina-se da Dorstenia brasiliensis e daquela planta, que vulgarizei sob o nome de Doratenia opifera. As raízes de ultima são mais feculentas, porém menos aromáticas que as da D. Brasiliensis e são, de resto, empregadas do mesmo modo que aquelas.
O Brasil não se pode ufanar, com efeito de possuir uma casca de quina que possa cotejar com as melhores espécies peruanas, no entanto pertencem aos excelentes febrífugos varias drogas, que conhecemos como cascas de quina brasileiras. Esta, que tenho a honra de aqui em primeiro lugar apresentar, é a genuína quina do Rio de Janeiro, atribuída erroneamente pelo médico e literato de mérito Manoel Joaquim Henríquez de Paiva na Bahia, e por outros médicos brasileiros, á Coutarea speciosa  Aubl. Porém identificada como Buena Hexandra recentemente pelo meu amigo Dr. Pohl em Viena. Esta árvore cresce, frequentemente, nas selvas ao longo da cordilheira litoral entre o Rio de Janeiro e a Bahia, e de preferência em certa altitude de mil a mil e duzentos pés acima do nível do mar. Sua casca nos vem em pedaços grandes, grossos e enrolados, tem considerável peso específico e se distingue das espécies peruanas de quina, externamente pela grossura, pela superfície desigual e fendida, provida de epiderme acinzentada ou branca amarelada, e ainda interiormente pela coloração castanha mais escura.

Bibliografia: Revista da Flora Medicinal – 1939. 

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Carás IV


Cará Barbado os nossos indígenas cultivavam este cará que é uma das espécies mais difundidas. A forma é variável arredondada ou alongada, com ou sem tubérculos, mas o que é característico são as pequenas raízes que recobrem o cará como uma espessa barba- de onde lhe vem o nome. De tamanho variado, o seu peso é de 250grs a 1 1/2kg. O interior é branco pouco viscoso como os tubérculos aéreos da espécie precedente. Bem preparado, é de sabor delicado, muito agradável.
Cará Barbado
Não requer terra boa, apenas é preciso que seja seca e fofa; assim não dá nas baixadas e estraga facilmente com as chuvas prolongadas. Por isso é conveniente escolher terra da encosta dos morros, onde a água não permanece.
Planta-se como todas as outras qualidades de cará nos meses de Agosto a Outubro e colhe-se em maio, junho e julho. Depois de capinado, fazem-se montículos de 50 a 70 cm de diâmetro e de regular altura; aí se plantam 3 a 4 olhos. Por espírito de economia mal entendida, generalizou-se o uso de reservar para o plantio justamente os carás menores que dão menos lucros no mercado. Mas estes tubérculos mal desenvolvidos também não podem produzir plantas tão viçosas como os carás grandes, de maior vitalidade. Uma experiência foi realizada neste sentido pelo Dr Peckolt juntamente com um cultivador de Catagallo. Em uma roça plantaram carás miúdos segundo o uso dos cultivadores: o resultado foi não se colher senão carás pequenos, os maiores dos quais pesavam 280grs. Em outro talhão plantaram tubérculos escolhidos de 1.400 a 1.500 grs; aí colheram carás quase todos com 1/2kg e 1 1/2kg de peso e alguns exemplares atingiram mesmo 1.800grs. A proporção da colheita foi de 1 para 10 com tubérculos pequenos e de 1 para com carás escolhidos.
O cará barbado guarda-se bem por muito tempo; depois de deixar se carà sombra, colocam-se os carás em lugar seco e arejado, tendo o cuidado de revistar de vez em quando para separar os tubérculos grelados, os quais contaminam os outros; assim guardam-se bem durante nove meses.
Carátinga (branco) Espécie indígena das nossas matas que dá bem no clima do café; em regiões mais frias ele é substituído pelo cará tinga bravo (Dr. Sinuata).
É forma dioica, sendo que a planta feminina produz tubérculos muito maiores que a masculina. Espécimes de 16 cm de comprimento por oito cm de diâmetro pesam 560grs. A casca é amarelada com pequenos tubérculos e pouca barba.
O interior é branco muito viscoso.
Gosta de terra seca, fofa com um pouco de sombra; por isto planta-se ao pé de árvores pelas quais possa subir a ramagem. Em setembro colocam-se os gomos grelados nos montículos e quando a semente ainda está mais ou menos verde em junho, quando a florada foi em janeiro o cará está maduro e em tempo de ser desenterrado. Guardando os tubérculos como já foi dito para as outras espécies, eles se conservam durante o espaço de um ano; pode-se ainda passá-los por um fogo brando ou só pela fumaça, o que além de conservar melhor ainda torna o sabor mais delicado


Bibliografia: Almanaque Agrícola Brasileiro para 1923