segunda-feira, 28 de abril de 2014

A guerra do cultivo da Quineira no mundo


O preço elevado vem despertando o interesse de outras nações pela cultura da quina, não para competir com o produto holandês no mercado internacional, mas para suprir as necessidades dos seus mercados internos. A guerra atual ainda veio reforçar esse interesse.
Assim também há falta de quinino no mercado americano, sendo agravadas dificuldades de sua importação de Java com o rompimento das hostilidades no Pacífico.
Plantio de quineira
Daí o motivo porque o Governo dos Estados Unidos está formatando a cultura da Cinchona em vários países centro e sul americanos, que apresentam condições apropriadas.
No Brasil, onde o fornecimento de quinino puro e barato às populações necessitadas representa um problema sanitário e social de grande importância econômica, o Instituto Agronômico de Campinas foi o primeiro a cogitar das possibilidades de estabelecer a cultura de quinina nos limites do Estado de São Paulo, oferecendo também a sua colaboração a outros Estados que queiram dedicar-se a este problema. Mais adiante apresentaremos as linhas gerais do programa de trabalho organizado por aquele instituto.
Em tempos anteriores já se tentou cultivar a quina no Brasil. No entanto, não se conseguiu estabelecer como cultura.
Mesmo o Instituto Agronômico tem há anos em suas coleções, quineiras recebidas de Piracicaba, importadas por Luiz de Queiroz.  São plantas da variedade Josephiana de C. Calisaya tida como pouco rica em quinino. Essas plantas, em número de 3 florescem abundantemente quase que durante todas as estações do ano, produzindo, porem, um número muito limitado de frutos. Varias outras localidades paulistas também receberam de Piracicaba algumas dessas quineiras.
A única plantação mais extensa feita com relativo sucesso no Brasil, foi a da Fazenda Barreira do Soberbo , na Serra dos Órgãos, entre as Estações de Alcindo Guanabara e Teresópolis. As sementes foram importadas do Peru durante o reinado de D. Pedro II e pertencia a espécie C. calisaya. Cerca de 12 mil plantas foram obtidas, constituindo assim a maior plantação de quineira até hoje feita entre nós. Infelizmente, esta plantação já não existe mais. Dela restam apenas alguns descendentes de exemplares plantados em 1868, que ali vegetam em estado subespontâneo, nas matas.
Das sementes importadas do Peru outras plantações foram feitas no Estado do Rio de Janeiro e Minas Gerais, porém sem êxito algum.
Há tempos, sementes já produzidas na Fazenda Barreira do Sobervo foram levadas ao Ceará, Serra do Barurité. Mas provavelmente neste local a quineiras não encontrou meio favorável ao seu desenvolvimento, e nem tão pouco na Serra dos Garanhuns em Pernambuco, para onde, mais tarde, se importaram sementes de Java.


Bibliografia: Revista Brasileira de Farmácia – Jan 1942 – C.A. Krug e Alcides Carvalho -  Subdivisão de Genética do Instituto Agronômico de Campinas. 

segunda-feira, 21 de abril de 2014

O cultivo das Quineiras pelo mundo.

A quineira (Cichona spp) é planta originária das regiões andinas da Bolívia, Perú, Colômbia e Venezuela. Embora seja este seu centro de origem, não é aí que hoje existe em maior quantidade e melhor qualidade. Nesses países sul americano não se tem dado a devida atenção ao cultivo da quineira; nem os governos e nem os particulares. As poucas e pequenas culturas existentes foram formadas com material selecionado, de tal modo que os exemplares obtidos só são pobres em quinino como também muito variáveis quanto ao desenvolvimento. Assim as exportações de cascas de quina feitas pelos portos sul americanos são oriundas de plantas ainda hoje existentes no estado nativo. Mesmo a pequena indústria da extração de quinino da Bolívia é suprida com matéria prima existente nas matas ao norte do Departamento de La Paz e do sul do Perú.
Mas essa matéria prima vai se tornando cada vez mais escassa, em vista da derrubada constante dos exemplares de quineiras sem se proceder ao plantio.
Já no século passado acentou-se o perigo da falta de quinino no mercado internacional, devido a essas constantes derrubadas de exemplares centenários dos bosques sul americanos. Daí o interesse quase geral de todos os países possuidores de regiões tropicais com característicos semelhantes aos da zona andina onde se encontra a quineira, em tentar a aclimatação dessa rubiácea. Assim , os ingleses a levaram ao Ceilão, os holandeses a Java e Sumatra e os franceses a suas varias possessões.
Em Ceilão e Java a quineira encontrou as condições mais favoráveis ao seu desenvolvimento. Grandes culturas foram estabelecidas. Tão grande que surgiu problema de superprodução de quinino. Como resultado a queda do preço. O desinteresse pela cultura tornou-se visível no Ceilão, onde o chá veio substituir a quineira. Restaram as plantações que os holandese fizeram em Java e Sumatra, tornando-se assim donos do mercado internacional de quinino.
Desde o início de seus trabalhos os holandeses veem prestando especial interesse à seleção de quineira, multiplicando apenas os exemplares que se caracterizam pó um elevado teor de quinino. E ainda hoje, apesar de possuírem linhagens muito ricas em quinino, continuam a seleção, ora visando resistência a moléstias, ora visando obter material apropriado a zonas de maior altitude e sempre visando um aumento da porcentagem de quinino.
Agora, novamente a Holanda se vê a braços com o problema da superprodução. O Bureau de Quinino de Amisterdam, que controla a indústria, já tomou serias medidas para sanar o mal. Assim, determinou-se que apenas uma parte das plantações fosse explorada. O preço, desse modo, se tem conservado elevado, auferindo lucros razoáveis os agricultores dedicados ao cultivo desta planta medicinal.


Bibliografia: Revista Brasileira de Farmácia – Jan 1942 – C.A. Krug e Alcides Carvalho -  Subdivisão de Genética do Instituto Agronômico de Campinas.

sábado, 12 de abril de 2014

Caminhos para a Descoberta da Quinina

Em 1882 Armand Séguin, escrevendo o resultado de suas investigações dizia que as quinas davam precipitado como tanino. Mas Seguin parou por ai. Se tivesse continuado os seus estudos teria talvez descoberto a quinina.
As dificuldades que surgem em uma época de guerra fazem muitas vezes, principalmente em uma guerra marítima, onde os meios de tansporte são escassos. Rarear o material que os cientistas precisam para as suas investigações. Foi o que aconteceu com Séguin. O próprio Vauquelin, químico notável, ao isolar uma “substância resinoide” da quina, não prosseguiu na análise. Também Reuss não deu muita importância ao fato de ter isolafo o “amargo químico,” substância que por suas propriedades organoléticas, representava todos os alcaloides da quina.
Molécula de Quina
Mas não foram só as dificuldades surgidas com a guerra de então, que fizeram os pesquisadores abandonarem seus intentos. Teorias em voga não admitiam que no reino vegetal se pudesse produzir um composto de reação alcalina. Foi justamente nessa época que o Dr. Bernardino Gomes, ilustre médico português, descobriu o “Cinchonino” princípio amargo isolado da quina. Essa descoberta foi o ponto de partida para o grande problema da quinina. Daí por diante as investigações tomaram novos impulsos orientadas pela obra do grande sábio lusitano. Lubert transformou o cinchonino do Dr. Gomes em cinchonina depois de sucessivas cristalizações e Houton reconheceu-lhe as propriedades básicas. Dois grandes sábios Pelletier e Caventon farmacêuticos franceses, que já haviam descoberto a brucina e a estricnina, tendo conhecimento de todos esses estudos, isolaram completamente a quinina e a cinchonina dos respectivos sulfatos. Isto se passou em 1820  e as discussões em torno das bases extraídas dos vegetais já se achavam em franco declínio entre os químicos. Desse finalizar de discussões químicas surgiram as discussões médicas. As opiniões dividiram-se e os trabalhos de Pelletier e Caventou passram ao domínio público e as primeiras experiências terapêuticas foram feitas. A luta entre os defensores e os detratores da quinina foi longa e violenta. Destacaram-se nessa tremenda divergência de opiniões dos afamados médicos (Bazires e Broussais).
Bazires tinha uma fé ilimitada nas virtudes curativas do alcaloide  e Brossais pretendendo resolver tudo com a sangria era adversário cruel da quinina até nos casos de paludismo. Mas ambos foram infelizes no calor de suas convicções: o primeiro, apaixonado, chegou ao exagero de empregar em si próprio quando uma vez foi atacado de febre intermitente, 60,0 de sulfato de quinina num pequeno espaço de tempo; veiu-lhe a surdez, a cegueira e por fim a morte. Conta-nos isto o Dr. Reveillon, chamado à última hora para socorrê-lo. O segundo tão notável em suas polêmicas viu cair por terra o predomínio de sua autoridade quando no hospital de Bône foi substituída a sangria pela quina.
Não pararam ai as discussões entre os partidários e os adversários dos alcaloides da quinina: elas continuaram ainda por muito tempo alimentando opiniões varias. Mesmo “agora em nosso século podemos encontrar no “tratado terapêutico” de Audhoui, de 1902 o seguinte: “O sulfato de quinino, em mãos pouco hábeis é um veneno. Por isso dizer-se que faz tantos ou mais danos do que a malaria”. Há cerca de 40 espécies de quina e cada autor conta a sua história a seu arbítrio. Constitui, mesmo um ponto vastíssimo em matéria médica devido as suas variedades. O Código farmacêutico  brasileiro determina em suas páginas a quina amarela, suas variedades e híbridos. A Quina amarela ou Quina calisaya Cinchona Calisaka “Wedell-Quina vermelha ou quina rubra “Cinchona succiruba” Pavon. Quina do campo, Quina de cerrado  ou Quina do Mato Grosso, “Strychnos pseudo-quina” Saint Hilaire. Quina mineira, Quina de Remigio, Quina da Serra, “Remigia ferruginea” Saint Hilaire.


Bibliografia: Revista Brasileira de Farmácia- julho de 1943 – pág 324 a 326 – Durval Torres.

sábado, 5 de abril de 2014

A história das Quinas Verdadeiras e Falsas - Parte I

Quina Peruana, árvore símbolo do Peru
A história da descoberta das propriedades medicinais da quina é muito obscura. Contam os historiadores que La Comine, botânico e geômetra na sua viagem de estudos à América do Sul, viagem essa que durou 10 anos, sofreu varias peripécias. A mais importante foi o temporal violento que se desencadeou quando ele regressava à Europa, pois do barco que o transportava desapareceram muitas de suas plantas e dentre estas a quina. Contudo, foi La Condamine o primeiro botânico que descreveu a “Chinchona”. Dizem que foi nos arrabaldes da cidade de Malacatos, ao sul de Loxa, que esta árvore preciosa foi pela primeira vez encontrada, depois a reconheceram também no Peru, na Bolívia e na Colômbia. As suas propriedades medicamentosas, propriedades que lhe deram logo um lugar de destaque na terapêutica empírica não se sabe ao certo como foram descobertas. Segundo Jussein, um índio, ardendo em febre e atormentado pela sede, bebeu água de um lago onde estavam mergulhados alguns ramos de quina e ficou curado. Outros dizem que outro índio curou de uma febre intermitente um espanhol com o pó feito da casca de quina. Humboldt, entretanto, que residiu por muito tempo, na terra da quina, assegura que os índios não conheciam as propriedades medicamentosas de tais plantas e, não as conhecendo, não podiam Tê-las preconizado aos europeus. Sendo, porém o meado do século XVII a época em que se começou a conhecer as virtudes medicinais da quina, podemos dar crédito à versão que corre sobre o carregador de Loxa. Este magistrado, em 1640, curou, com o pó da casca de quina, de uma febre rebelde, a esposa do vice-rei do Peru a condessa d’El-Cichon que, voltando à Espanha, levou o pó de quina e distribuiu por outros médicos, contando-lhes o que com ela se havia dado.
Em breve se divulgou, a notícia da ação anti-palúdica da planta e o antigo pó da “casca do Peru” passou a chamar-se “Pó da Condessa”, nome pelo qual por muito tempo foi conhecido o pó de quina na França, na Alemanha e na Itália. Os Jesuítas de Lima observaram diversas curas produzidas por este famoso pó e por isso enviaram-no ao Cardeal Lugo, em Roma como “um divino remédio para febres”. A popularidade da quina tomou vulto e o pó foi chamado ainda Pó dos Jesuítas ou Pó do Cardeal. Foi o grande Sydenham o primeiro médico que empregou a quina na Inglaterra. A França foi ela levada pelo inglês Talbor que a empregou como vinho no tratamento de uma febre palustre do rei Luiz XIV. O soberano curou-se e a fórmula foi comprada pelo próprio monarca que a mandou publicar em 1682. Já era, portanto, conhecida a quina na Europa quando os alquimistas fizeram as primeiras tentativas para tirar da casca da quina a “quinta essência” e extrair-lhe o principio ativo. Sendo muito rara a droga foram poucos os experimentadores que a obtiveram para estudo. Isto fez com que a história das propriedades medicinais de tão preciosa planta ficasse por muito tempo em plena obscuridade. Embora sabendo na Europa das virtudes medicinais da quina não se conhecia ainda os caracteres desta grande Rubiacea.
Só depois dos trabalhos de La Condamine é que a “Cinchona” começou a tomar uma feição científica. O primeiro extrato seco de quina deve-se ao conde Claude de La Garaye, aliás um extrato medíocre. Em 1770 aparece um “sal essencial febrífugo” obtido por Buquet, de um outro extrato seco de quina por ele preparado. Esseextrato, segundo Deschamps, que identificou o sal, era já um pouco melhor que o de La Garaye.

Bibliografia: Revista Brasileira de Farmácia- julho de 1943 – pág 324 a 327 – Durval Torres.