quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Yagê a planta que faz sonhar

O Yagê, conhecido também vulgarmente pelos nomes de Caapi e Ayahuasca, é uma liana pertencente a família das Malpighiaceas e geralmente admitida como sendo Banisteria Caapi e de Spruce. Existem outras espécies também fornecedoras do Yagê ou Caapi. É também admitida a espécie Banisteria quitensis, Nied. E Ducke, recentemente do Amazonas, onde se acha, em comunicação epistolar ao Jardim Botânico do Rio de Janeiro acaba de revelar mais uma espécie fornecedora da droga.
J. Geraldo Kuhlmann, em 1924, colheu em Bazilia (Acre) material de uma Banisteria, usada naquela região como Yagê, cujo espécime se encontra no erbário do Jardim Botânico, mas que pelo fato de não apresentar flores nem frutos, são pode ter sua espécie determinada.
A família das Malpighiaceas, que forma um grupo muito natural representa também uma escala de transição entre as Geraniales e Sapindales.
O Brasil é o centro de dispersão desta família quase que exclusivamente tropical pois que, das oitocentas espécies mais ou menos que ela encerra distrbuidas por 56 generos, pertencem a nossa flora mais da metade. As demais espécies, se distribuem pela zona tropical, principalmente por países limítrofes do Brasil, alcançando ao norte, a América Central, o México e os Estados Unidos e ao sul, até a república Argentina.
A África conta com pouco mais de uma dezena, sendo muito raras nas ilhas da Oceania.
A Europa não possui exemplares desta família.
É do gênero Banisteria, um dos 27 brasileiros, segundo Löfgren que se encontea o vegetal de que nos estamos ocupando.
O primeiro botânico que estudou o Yagê, foi o explorador inglês Spruce, que colhendo material completo desta planta em 1853, na fronteira nordeste do Brasil na região Uaupês, enviou exemplares a diversos erbarios europeus. Este ilustrew viajante, não fez entretanto a descrição da planta em apreço, cuja diagnose devemos a Griseback autor da monografia das Malpighiaceas da flora brasileira de Matius que tendo a sua disposição um dos exemplares do erbario de Spruce, fez pela primeira vez uma descrição completa da Banisteria Caapi.
A distribuição geográfica da planta acontece no estado do Amazonas na região Panurê no rio Uaupês. Apesar do habitat natural desta espécie se achar no alto Amazonas, nas regiões fronteiriças das Republicas do Peru, Colombia e Venezuela, o Jardim Botânico do Rio de Janeiro possui alguns exemplares perfeitamente aclimatados introduzidos em 1930, A. Ducke, a quem devemos também o material perfeitamente autenticado trazido do Amazonas e que serviu de parte para nossos estudos.
A planta cultivada no Jardim Botânico forneceu-nos material fresco, perfeitamente idêntico ao primeiro, não somente pelos caracteres botânicos como também pelos químicos e histológicos.


Bibliografia: Revista da Associação Brasileira de Farmacêuticos- setembro de 1936 – Oswaldo de A Costa e Luiz Faria – Laboratório Bromatológico.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Dr Raiz símbolo dos herboristas da Bahia

Já vai longe, levada celeremente pelo tempo, aquela quadra feliz e despreocupada marcada pelos anos de 1908-1911. Fazendo retroceder em nossa memória as imagens para sempre gravadas em nossa imaginação, o popular acesso a enorme parque de antiga residência senhorial, um garoto pálido, transido de medo, sem forças para articular qualquer palavra, chumbado pela surpresa à aquele local onde fora surpreendido e um velho de fisionomia calma e serena, que, por admoestação queixosa, apenas lhe dizia: “até você, meu branco?.... que mal lhe fez o pobre velho?”...
O garoto. A brincar no pomar da sua residência, ouvira a garotada da rua perseguir o popular velhote que andava de olhar baixo, arrimado ao bordão, um cesto ao braço e um grande saco de aniagem as costas, cheios de raízes e ervas, com a aparência de maluco, aos gritos esganiçados: “Dr Raiz!....Dr Raiz!...
Contagiado por aquela brincadeira de mau gosto, também correra a gritar pelo Dr Raiz e a sua última vocalização, já em frente ao portão fechado, Dr Ra....! - fora interrompida, paralisado, pela visão do velho de quem apenas estava separado pelas grades de ferro do enorme portão senhorial. O susto paralisara todo o movimento do garoto e a expressão suave da reprimenda do velho profundamente o envergonhara.
Passam-se os tempos. O garoto cresce e durante o curso ginasial, não raro, em seu caminho encontrava aquele mesmo velho, sempre de cesto ao braço e saco às costas, a colher e carregar ervas secas e verdes. Galga o curso médico, e certa vez nas salas de curativos do hospital encontra o pobre Dr raiz a aguardar os curativos dos colegas diplomados. E ele, certamente, jamais o soube que aquele que por vários dias lhe fizera os curativos de que necessitava e para quem ele pedira a Deus – “fizesse muito feliz e desse tudo o que desjasse” – era aquele mesmo garoto que também o perseguira a gritar: Dr Raiz!....
Um dia desapareceu para sempre do placo das ruas. E quem sabe como e de que morreu? Seria um anônimo se lhe não ficasse a alcunha de Dr Raiz e ainda a fotografia que Joaquim Manso, um dos grandes amantes da natureza, conseguiu quando procurava fixar tipos populares da Bahia
Mas naquela época ninguém compreendia que alguém andasse a carregar folhas e raízes, percorrendo a cidade de uma extremidade a outra sem que estivesse certamente “malucando”...


Bibliografia: Revista Brasileira de Farmácia – Dr. Narciso Soares da Cunha.