quinta-feira, 22 de junho de 2017

Freire de Aguiar o fabricante da Água Inglesa

O proprietário da primeira indústria farmacêutica do brasil, foi também o patrono da cadeira de nº 20 da Academia nacional de Farmácia e chamava-se Luis Felipe Freire de Aguiar.
Luis Felipe nasceu na cidade do Rio de Janeiro, a 23 de agosto, filho de Luis Francisco Freire de Aguiar e Dona Francisca de Paula Fonseca de Aguiar.


Iniciou seu curso de farmácia em 1869 na Faculdade Nacional de Medicina no Rio de Janeiro, onde logo manifestou decidida vocação e se formou em 1871.
Serviu durante o curso no Hospital da Marinha como auxiliar de laboratório, passando depois a ocupar o lugar de segundo farmacêutico. Deixou o posto em 1874, para ter a sua farmácia no antigo Largo de Santa Rita. Associou-se a Farmácia Episcopal, a mais antiga das farmácias do Rio de Janeiro, onde começou a trabalhar em prol da farmácia brasileira. Em 1877 tonou-se proprietário da Farmácia Episcopal.
Em 1876 casou-se com Dona Rita Lessa Godoi, filha do Desembargador Antônio Thomáz Godoi e neta do Barão de Diamantina. Deste casamento nasceram Tindaro Godoi Freire de Aguiar, Abelardo Freire de Aguiar, (farmacêutico), Astrogildo Freire de Aguiar e Luiza Freire de Aguiar.
Devido a vontade de se dedicar exclusivamente a manipulação de alguns preparados especiais de sua composição, que começavam a ganhar confiança, Luis Felipe Freire de Aguiar, vendeu a Farmácia Episcopal para montar um laboratório para produzir remédios e perfumaria.
Este é um tempo em que a grande maioria dos remédios consumidos pela população brasileira era importado da Europa. Também não era grande o número de profissionais que se formavam em farmácia, 20 alunos por ano era o total de formandos da Faculdade nacional de Medicina do Rio de Janeiro na última década do século passado.
O grande inimigo do aproveitamento das plantas medicinais brasileiras eram os remédios importados e o preconceito dos governantes e da população quanto a sua qualidade e a eficiência. Como ainda hoje, “o que é importado é melhor”.
No começo, o farmacêutico freire de Aguiar, teve de sustentar uma disputa judicial com uma fábrica de produtos medicinais, estrangeira, pois manipulava um produto de formula conhecida, e com o nome comercial de “Água Inglesa”. No Brasil a distribuição deste remédio era feito pela poderosa “Sociedade União dos Fabricantes Franceses”.
A Água Inglesa ou da Inglaterra, era um vinho de quina, muito usada como tônico e antiespasmódico. Até 1888 este produto no Brasil era considerado um segredo da família de André Lopes Castro, português, porém sua fórmula já fora escrita na Farmacopéia Tubalense, editada em 1760.
Freire de Aguiar estudou vários vegetais da nossa flora, e conseguiu elaborar  uma fórmula mais honesta e cientificamente perfeita e obteve a aprovação da sua Água Inglesa modificada. Para que o farmacêutico brasileiro conseguisse comercializar o seu produto precisa de uma autorização da inspetoria de Higiene, responsável pela qualidade dos medicamentos comercializados no país. Em 20 de outubro de 1888 a Inspetoria Geral de Higiene, expediu uma circular aos seus inspetores de higiene provinciais e aos droguistas declarando: “Que a Água Inglesa julgada por esta Inspetoria como a mais adequada a índole dos formulários brasileiros, é a do farmacêutico Freire de Aguiar”. Foi o que bastou para que a distribuidora francesa reagisse.
A Sociedade União de Fabricantes Franceses julgou-se prejudicada em seus interesses no Brasil, e entrou com processo judicial no foro de Ouro Preto contra Freire de Aguiar. Freire de Aguiar, sem nenhum auxilio, teve que arcar com todas as despesas dos processos, conseguindo triunfar, sempre até em última instância. Teve muito dissabores, por não querer ceder um só milímetro de seu direito, tal era a convicção que tinha do serviço que prestava a sua profissão.
Depois de vencer todas as batalhas pela sua “Água Inglesa modificada”, voltou ao Rio de Janeiro e fundou outro laboratório na rua General Câmara, mais tarde mudou seu estabelecimento para a rua Conde de Bomfim. Neste novo estabelecimento cedeu ao insistente convite do seu colega e amigo farmacêutico Paulo Barreto e organizou, em 1890 a “Companhia Química Industrial da Flora Brasileira”, da qual ficou apenas com o cargo técnico.
Em pouco tempo, dois anos, Freire de Aguiar viu o seu bem montado estabelecimento pedir falência. Nesta época sua indústria já tinha cem produtos, sendo muitos da flora nacional e outros de matéria prima estrangeira.

Bibliografia : Revista Brasileira de Farmácia 1944/45


quinta-feira, 15 de junho de 2017

Os pioneiros no Extrato Fluido no Brasil

O Brasil desde o regime colonial adotava a farmacopeia Lusitana, e o Codex Francês passou a ser oficialmente admitido pelo decreto nº 8387 de 19 de janeiro de 1882. Assim, os brasileiros não podiam “oficialmente”, usar os extratos fluidos americanos. Só no período republicano, após 1889, começaram a fabricar no Brasil a fórmula americana. O Formulário do Dr. Chernoviz, o mais popular dos formulários farmacêuticos do século passado, trazia apenas duas fórmulas de extrato fluido de Hydrastis canadenses e Noz de Kola, formula transcrita da Deusse, única fabricante de extrato fluido na Europa.
Laboratório  da Casa Silva Araujo
Quem primeiro fabricou industrialmente no Brasil o extrato fluido foi o farmacêutico João Luiz Alves, estabelecido no Rio de Janeiro. Entretanto, quem primeiro escreveu uma monografia sobre o assunto foi o farmacêutico Francisco Giffoni, por ocasião da sua candidatura a membro titular da Academia Nacional de medicina, em 25 de maio de 1899.
As casas Giffoni, Silva Araújo e Granado tornaram-se grandes produtoras desta fórmula americana. Os catálogos da Casa Silva Araújo e Granado traziam 500 variedades, transformando praticamente todas as nossas plantas medicinais de uso corrente nos respectivos extratos fluidos. Os catálogos, desta casa também traziam à descrição das plantas, suas indicações terapêuticas, a posologia de cada extrato, e o modo de preparar cada uma das plantas. Sendo que na Farmacopeia de Rodolpho Albino consta o texto de preparação de 138 fórmulas destes extratos.

Bibliografia: Esboço Histórico dos Extratos – Professor Heitor Luz – revista Brasileira de Farmácia – 1941.
Extrato Fluido – Extensão de uso – Farmacêutico Raul Coimbra – Revista Brasileira de Farmácia – 1941

A Forma do Extrato Fluido – Professor Virgilio Lucas – revista Brasileira de Farmácia -1942

sexta-feira, 9 de junho de 2017

Extrato fluido, da Teoria a Prática.

Em 1790, Fourcroy definiu os extratos como: “O extrato dos vegetais, não é como se crê um sabão, um composto de óleo de potassa, eu descobri propriedades novas. Esta matéria, que se dissolve na água, separa-se por exposição ao ar, absorvendo oxigênio, se tornando solúvel”. Essa afirmação provocou debates acalorados entre Vauquelin e Fourcroy, de uma parte de Deschamp, farmacêutico de Lyon, de outra. A luz começou a se fazer sobre a natureza complexa dos extratos. Fourcroy, após numerosos ensaios de laboratório com o extrato de quina, chamado simples, afirma que: “Por meio de álcool quente, o extrato de quina resulta em cinco corpos diferentes”.

Vauquelin aborda a questão e publica: “Sobre o princípio extrativo dos vegetais”.
Esta questão sobre os extratos entre Fourcroy e Vauquelin contra Deschamp impressionou o meio cientifico do final do século XVIII, porque era o atrito da velha química em guerra contra a nova química.
Parmentier, no curso desta discussão, faz experiências e descobre, em conjunto com Deyeux e Vauquelin,o que contem o suco dos vegetais: mucilagem, mucilagem ácida, açucarada, açúcar, resina, o extrativo, princípios corantes, princípios odorante para cada planta, tanino, fécula amilácea, glúten, enxofre, ácidos vegetais, por fim Parmentier escreveu e publicou 16 regras gerais para preparação do extrato, no seu “Codex farmacêutico para uso dos hospitais civis” em Paris 1811.
Em 1819 apareceu na Inglaterra um autor chamado Henry que escreveu uma memória sobre um novo aparelho para evaporar os sucos e outros líquidos por meio de vapor d’água. Depois veio o aparelho de Peletier, para evaporação por meio de vapor d’água sob compressão.
A Casa Dausse, de Paris começou a preparar extratos pelo processo do vácuo, com aparelhos modernizados e de rendimento satisfatório.
Os norte americanos inventaram os Extratos Fluidos e inscreveram as formulas que organizaram em sua Farmacopéia, em 1850, e o primeiro extrato fluido preparado por eles foi o de Salsaparilha.
Os farmacêuticos norte americanos, verificando os grandes inconvenientes que apresentavam os extratos moles e firmes, em consequência dos processos de preparação, idealizou essa nova forma que na prática farmacêutica é de grande vantagem.
Os extratos moles apresentam sérios inconvenientes de ordem técnica e prática. Os processos de preparação, exigindo a ação prolongada do calor, resultam produtos alterados na sua composição química pela formação de novos compostos, as vezes inertes, além de modificações em seus caracteres físicos.
Na prática, a maior dificuldade no seu emprego devia-se ao fato de ser pesado e não medido como o extrato fluido, os extratos moles são também de pronta alteração logo ao primeiro contato com o ar, o que resultava na prática farmacêutica, no uso de produtos contaminados, ressecados, e principalmente modificados na percentagem de seus princípios ativos.
O extrato fluido obtido por uma técnica especial, em que 80% da preparação deixamos de sofrer a ação nociva do calor, devendo assim, conter quase que integralmente os princípios ativos úteis da planta de onde provem, representando o próprio peso da planta dessecada ao ar, é de conservação indefinida, de fácil manejo na prática porque é empregado em volume e não em peso; substituindo a própria planta em todas as suas aplicações. Por isso sua propagação pelo país foi rápida, bem como em toda a América, enquanto que no Velho Mundo, Europa, o extrato fluido foi recebido com restrição e até mesmo hostilidade. Afinal, a vanguarda da produção farmacêutica do século passado era dividida entre Alemanha, França, Inglaterra e Itália.

(Continua)

sábado, 3 de junho de 2017

A História dos Extratos através dos tempos.

Em 1875 na escola Montpellir na França, o farmacêutico Petitot apresenta a sua tese “Considerações sobre os extratos empregados em farmácia”.
Segundo este autor quem primeiro deu aos medicamentos esta forma foi Chin-Neng Imperador da China, Chin-Neng, ano 2600 A.C., aplicava-se ao estudo das plantas, e após ter escrito uma história que ainda existe, sob o nome de “Ervanário de Chin Neng”, fez ensaios e análise de composição de extratos.

Esses extratos eram dados com precaução aos doentes e o imperador fazia verificar seus efeitos e suas propriedades, e assim lhe foi possível compor uma matéria médica.
No ano de 65 da era cristã apareceu uma pobra notável de Medicina e Botânica, escrita por Dioscoride, dividida em 5 livros, e que foi durante 15 séculos a matéria médica, dos turcos, dos árabes e de outros povos. Nesta obra há referência aos extratos, principalmente o de cicuta, obtida com o suco da planta e dessecada lentamente.
 Os árabes foram os primeiros farmacologistas que se preocuparam cuidadosamente e com bastante inteligência na preparação dos extratos.
No “Tratado dos Simples”, Ibn el Berthar, fala dos extratos dos fundos e Abd ex Rezza autor do “Revelador dos Enigmas”, tratado de matéria médica árabe, fala dos extratos de tâmaras e de uvas.
Nicolau Roépositus, em 1528, em seu “Dispensarium”, dá um capitulo especial sobre os sucos dessecados preparados espremendo as plantas, retirando o suco e fazendo evaporar ao sol ou sobre cinzas quentes. Menciona os extratos de alcaçuz, absinto e centáurea entre outros. Nesta época a palavra extrato não existia, e tais produtos eram denominados sucos dessecados, (de succis siccis).
Em 1530 já havia referência ao nome extrato, outros autores chamavam de extrações e outros ainda de tintura sólida, e a tintura líquida era chamada de extrações. Só em 1561 foi que a distinção se tornou patente. O “Guia do Boticário” do neste ano, fazia diferença entre extratos e tinturas terminando com a confusão.
Gaspár Schvenchfeld, no seu “Thesaurus Pharmacêticus”, dividiu os extratos em duas classes: Alterantes e Purgativos e do modo de prepara-los.
A “Farmacopeia de Valeius Cordus” também publicada em 1561 não falava dos extratos, mais tarde o Colégio dos Médicos, de Nuremberg, publicou uma edição oficial na qual figurava quatro extratos simples e cinco compostos.
Em 1610, Jean dde Vale, publicou em Gênova uma tradução “Grande Tesouro ou Dispensário e Antidotário” de J.J. Wcher, de Bale, na qual figuravam fórmulas de numerosos extratos, muitos dos quais usados em nossos dias.
Somente em 1624, os extratos passaram a ter uma significação bem clara. Esta definição foi escrita por Jean Béguin em seu livro “Elementos de Quimica”.
“Os extratos, assim chamados especificamente são tirados dos animais e dos vegetais , por meio de dissolventes ou mênstruos, (veículos empregados das plantas e devem variar na composição de conformidade com a composição química da parte do vegetal empregada), apropriados, como só: o espírito do vinho, o leite, a genebra, o hidromel vinhoso, a água de maçãs e outros ou melhor as águas destiladas”.
Em 1649 na “Farmacopeia Medico Química”, impressa em Lyon, de autoria de Jean Scheveder define os extratos como: “É a essência de uma substância separada da parte grosseira por meio de líquido e levado à consistência conveniente”.

(Continua)