sábado, 20 de abril de 2013

Saint’Hilare de botânico a médico


No século XIX os médicos usavam plantas como medicamento para todo e qualquer mal. Assim, ao identificar um homem que colhia plantas para os brasileiros ele só poderia ser um médico e assim o botânico francês August de Saint’Hilare se tornou um dos poucos médicos existentes no sertão do Brasil naquele século.
August de Sait'Hilaire
Mais comumente tomavam–no por médico e o forçavam a ensinar remédios. O morador do sertão não queria admitir outra profissão em um homem que passava o tempo todo colhendo plantas. Suas receitas traziam-lhe compensações, que não eram para desprezar. Entre casa branca e Mogi Guaçu, para pagar-lhe a consulta, o mais velho de um bando de ciganos ofereceu-lhe um prato de carne , que havia quatro semanas ele não provava.
Quando pela primeira vez deixou o Rio de Janeiro em direção ao Rio de Janeiro, teve a companhia de um jovem brasileiro e de Langsdort, o cônsul da Rússia, desde estudioso da flora do litoral e agora interessado pela flora do sertão.
Ao se separarem Saint-Hilarie começou a sentir o quanto era doloroso viver isolado, sem o conforto da amizade. O desanimo pareceu invadi-lo, mas as belezas da terra o seduziram, as riquezas vegetais o deslumbravam.
Saint-Hilare preferiu durante vários anos a simplicidade dos sertões do Brasil aos atrativos da vida urbana na França. Depois os obstáculos incitavam-no a prosseguir. Se encontrasse quem o ajudasse a seu contento, iria ao fim do mundo. Em outubro de 1818, na viagem do Rio ao Espírito Santo, falaram do rio Doce como o próprio inferno, mas em vez de desanimá-lo estimularam-lhe a curiosidade e ele se colocou em marcha para o norte de Vitória. No entanto para ele o Rio Doce corria no paraíso. Para ele o dia chuvoso e sombrio iluminava-se as tarde e deixava aparecer no poente as montanhas de Juparanan; o rio deslizava majestosamente  entre a floresta das suas bordas; reinava em toda a natureza a calma mais perfeita: apenas o canto das cigarras e o ruído dos remos sobre as águas quebravam o silêncio imponente do deserto. As vastas solidões tinham algo dominador. Sentia-se humilhado diante da natureza austera e poderosa; “minha imaginação de algum modo se amedronta, quando eu pensava que as florestas imensas, de todos os lados me cercava, se estendia ao norte, muito além do Rio Grande de Belmont, ocupavam toda a parte oriental de Minas; cobriam sem interrupção as províncias do Rio de Janeiro e do Espírito Santo parte de São Paulo, Santa Catarina inteira, o norte ocidental do Rio Grande do Sul e pelas Missões provavelmente se unia ao norte do Paraguai.”
O encanto do artista cedia espaço para a indignação quando assistia as bárbaras queimadas.
Árvores gigantescas, incendiadas, pelo pé, tombavam com fragor, quebrando outras, ainda não atingidas pelo fogo. Depois sobre o chão em cinzas onde fora a mata virgem, os destroços dos galhos e dos troncos reduzidos a carvão. “para colher alguns alqueires de milho, arriscavam-se, por falta de precaução, a perder toda a floresta, como se sem floresta fosse possível à cultura.”

Bibliografia: Almanak Agrícola Brasileiro , 1929

sábado, 13 de abril de 2013

August de Sant’Hilaire 1779-1853


Terminadas as guerras napoleônica e celebrando o tratado de Viena, incumbiu Luiz XVIII ao duque de Luxemburgo a missão de saudar D. João VI, elevado ao trono de Portugal, e tratar da situação dos seus súbditos da Guyana, restituída à França após a conquista pelos portugueses. A bordo do navio onde viajava o embaixador, chegado ao Rio no dia 1º de junho de 1816, vinha o naturalista August Provensal de Saint-Hilaire, que apenas contava 36 anos de idade. Até então pouquíssimos viajantes haviam penetrado pelo sertão do Brasil. Humboldt só conhecera pequena parte da região amazônica. Koster percorrera o nordeste e, por mar, fora do Ceará ao Maranhão. Linndley não sairá da Bahia, que o príncipe Neuwied também atingira, atravessando, por terra, o Rio de Janeiro e o Espírito Santo; porém, menos de um ano antes de Sait Hilaire iniciar sua viagem, Mawe passara do Rio a Cantagalo e, dde lá voltando, seguiu para Minas Gerais, onde Eschwege, empregado pelo governo, teve ensejo de muito observa.
August de Sait'Hilaire
O grande Martius e os seus companheiros de missão, Spix e Pohl, só se puzeram em marcha no ano de 1817, indo do Rio por São Paulo, Minas Gerais e Goias até a Bahia e daí pelo Piaui e Maranhão, até o Amazonas, que percorreram todo ele em canoa, tirando dessa espantosa marcha de quatro anos a monumental Flora Brasiliense.
A este grupo, composto de alemães e ingleses, veio juntar-se o botânico francês, e com excepção do sábio bávaro, Martius, a todos ultrapassou, não só pela extensão da viagem, mas principalmente, pela vastidão da obra dela resultante, a certos respeitos por nenhum atingida. Percorreu as províncias do espírito santo, Minas Gerais, Goias, São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Cisplatina, desde o Jequitinhonha e a origem do São Francisco até ao Rio Claro e ao Uruguai, em cuja margem esquerda pode ver quando restava das missões jesuíticas. Foram 2000 léguas a cavalo ou em lombo de burro, por sertões geralmente de maus caminhos.  As Minas Gerais visitou três vezes e de tal modo a conhecia tão bondosamente era acolhido, que se identificara com os interesses dos seus habitantes. Quando chegou a Goiás, ali já havia demorado quase quinze meses. A Goiás raramente ia alguém. A 28 de maio de 1819, data de passagem de Sant’Hilaire pelo registro dos Arrependidos, na fronteira das duas províncias. Já decorriam setenta dias, sem por lá ninguém transitar em busca da mais longe delas. O nome daquele posto fiscal, certamente, inspirado pelos obstáculos de tão penosa viagem.
Não só Ella, como as demais, exigiam dureza de corpo e elevada moral. Havia que vencer a escassez dos recursos, as fadigas e privações; dormir em ranchos apenas cobertos, desprotegidos dos lados; esquecer a cama e habituar-se á re des, converter malas em cadeiras e mesa de escrever; perder o medo dos animais bravios e suportar em vigília a cantilena dos mosquitos; considerar o pão objeto de luxo; passar semanas e semanas sem um pedaço de carne; contentar-se com arroz feijão; renovar de longe em longe o sabor do vinho, quase esquecido pelo uso da água das fontes; pior que tudo isso, sentir-se isolado do mundo sem notícias da pátria, da família e dos amigos. Em meio a tantas provocações sofrer também a inconstância da gente de serviço, que nas mais difíceis circunstancias o ameaçava de abandonar e o obrigavam a transigir ou submeter-se a exigências desarrazoadas.

Bibliografia: Almanaque Agrícola Brasileiro , 1929 -

domingo, 7 de abril de 2013

Mercúrio Vegetal do Pará


É a chamada manacan, gerataca ou camgamba, e denominada mercúrio vegetal no Pará. Piso menciona a mesma planta com aquela primeira denominação e Sprengel Schwenkfeldia cinerca. A  planta, no entanto, pertence a outra ordem, às Myoporinas, e foi pela primeira vez cientificamente ilustrada e descrita pelo meu amigo. Dr. Pohl.
Gerataca
A planta toda tem sabor amargo, nauseabundo e picante, e que mais se acentua na raiz e é um dos mais enérgicos drásticos que o Brasil oferece.
Produz, quando ingerida em doses elevadas, simultaneamente vômitos violentos, e era usada pelos índios, segundo reza a tradição, como antídoto das mordidas de ofídios, pois que originaria evacuações críticas e consideráveis, expulsando assim do corpo o veneno.
No Pará considera-se a mesma como o mais eficiente medicamento contra a lues inveterata, tumores venenosos pertinazes, ostealgias, doença mercurial, etc.
Aplica-se externamente a erva esmagada, a raiz e os ramos novos em compressas quentes e frias. Internamente utiliza-se preferencialmente infuso aquoso frio. Para isto se raspa a raiz limpa, põe-se em água fria que fica  durante 24 horas exposta ao ar livre, côa-se o todo, e abandona-se o líquido coado novamente por um dia. Durante este tempo precipitam-se fécula de sedimento e outras substâncias, e o líquido decantado é bebido em pequenas doses, ½ - 2 onças, duas a três vezes ao dia. Desde que haja impureza no corpo, o doente experimentará violenta excitação, particularmente insuportável formigamento sobre a pele. Em geral são até ocasionadas febricitações que perduram, permanecendo até as substâncias impuras terem sido eliminadas, o que acontece pela urina, transpiração, evacuações e, como já foi mencionado, pelos vômitos quando as doses forem mais elevadas.
Os índios do Pará temem, enquanto se submetem a esta cura, de aliás pouca duração, apanhar todo e qualquer resfriado ou excitações, assegurando que, em virtude disto, são as vezes ocasionadas as mais perigosas febres e convulsões. Por causa da importância que atribuem a cura pelo manacan, pode ser comparada a “cura pela fricção”. O fisico-mor do Pará Dr. Corrêa de Lacerda me participa que sempre continuará a fazer observações clinicas com este medicamento, e que irá divulgar oas resultados oportunamente na academia.

Bibliografia: MARTIUS, Von – Sobre Algumas Drogas Brasileiras – Revista da Flora Medicinal – 1936 – Tradução do farmacêutico Oswaldo Riedel