domingo, 29 de junho de 2014

Rubiaceas e Loganicaes e seus princípios ativos.

As Aristolochiaceas, que contem as espécies medicinais mais antigas e a respeito das quais já publicamos uma completa monografia, são muito apreciadas. Suas virtudes estomáquicas, sobejamente confirmadas, deram-lhes o renome de que gozam. Considera-as o novo também antirreumático e antifebril. Muitíssimas, mesmo das 80 espécies registradas e descritas para o Brasil, já estão incluídas nas farmacopeias.
Aristolochia
Nas Rubiaceas, em que predomina o alcaloide “Quinina” e seus afins, bem como a “Emetina” e ainda a “Cafeína”, os princípios ativos medicinais são de grande valia para a medicina. Combatem eles as febres, as moléstias do estomago. Tonificam o organismo, estimulam e servem, em outras espécies, para aliviá-lo de entraves vários por meio da ação da “Emetina”. As Rubiaceas pertencem, também as espécies mais tóxicas para o gado.
Das loganicaes destacamos as espécies do gênero Strychnos, que são altamente tóxicas e medicinais ao mesmo tempo. A elas deve o “Curare” a sua atividade e a ele pertence a “Quina do Cerrado”. Delas nos vem a “Nós Vômica”, os melhores antídotos para o veneno das cobras e os mais enérgicos princípios que atuam sobre os vasomotores. Não são poucas as espécies já consagradas na medicina oficial.
As Apocynaceas, em regra geral, mais ou menos drásticas, graças ao látex que encerram em seus órgãos e especialmente nos xylopodos, têm fama mundial como purgativas. Muitas são. Igualmente preconizadas contra a icterícia e outras perturbações do fígado. Algumas são antifebris, antirreumáticas, emenagôgas, anthelminticas, antissifilíticas e vulnerarias. A Vinca rósea, L ou melhor Lochnera rósea, Reichb, a “Boa Noite” é apregoada como útil para combater a tuberculose, o biabetes e as diarreias em geral. Muitas espécies, por conterem uma substância mais ou menos amarga, passam por estomáquicas e outras como eméticas.
As Asclepiadaceas, de que nós advem o “Condurango” e o “Mudari”, são mais ou menos empregadas para os mesmos misteres da precedente. Mais uso encontram elas como drástico.
Das Gentanaceas podia-se falar muito. Elas têm grande valor na medicina. Especialmente bem conhecidas são suas virtudes estomáquicas e antifebris. Graças a substancia amarga que encerram, prescrevem-nas os próprios médicos sempre que pretendem curar uma perturbação gástrica ou quando desejam combater á febre de coisa ignorada.
As Scrophulariaceas, essencialmente amargo tônicas, variam enormemente quanto às suas virtudes e aplicações. Elas agem também como drástico e como narcótico. Delas vem o “Verbasco”, a “Linaria”, a “Digitalis”, a “Veronica” e muitas outras ervas oficinais geralmente conhecidas e prescritas na clínica, além da “Salvia” e da “ Parietaria”.


Bibliografia: Boletim de Agricultura – 1929 – Os Vegetais na Terapêutica – F. C. Hoehne

sábado, 21 de junho de 2014

As Cecropias sevem para combater a disenteria

As Moraceas passam por anthelminticas, emolientes, resolventes, adstringentes, vulnerárias, etc... No gênero Dorstenia contem também espécies com tuberas e rizomas estomáquicos antireumaticos, desinfectantes, aromáticos, etc. As Cecropias servem para combater as disenterias, cancros e úlceras crônicas. E as relacionadas com as Urticaceas abrangem espécies com poder calmante e emolientes.
 folhas de Cecropias
Das Chenopodiaceas nada precisamos dizer, porque todo mundo bem conhece e sabe a importância da “Erva de Sta Maria”, como anthelminthico dos mais enérgicos.
Das Amarantaceas, citamos as virtudes atribuídas ao “Paratudinho”, que são consideradas universais e especialmente preconizadas contra as moléstias do estomago e contra as febres intermitentes. Eu valor como emoliente especialmente contra as afecções pulmonares é igualmente bem afamado. Outrass correm como próprias para curar a epilepsia e outras perturbações cerebrais.
Das Polygonaceas destacam-se as propriedades antihemorroidicas. Fama possui também elas como próprias para combater as perturbações do estomago, do fígado e dos rins e são tidas como tonificantes. Outras espécies atuam como antidesintéricas e como diuréticas.
Outras, finalmente, são tidas como adstringentes, e vulnerarias e anticépticas.
Das Nyctaginaceas destacamos as antifebris, as eméticas, as estomáquicas, as laxativas, lembrando que elas pertencem a fornecedora De uma espécie de “Jalapa”.
As Monimiaceas merecem nossa atenção pelas propriedades peitorais e emolientes aromáticas. Delas nos vem o “limão bravo”.
Das Lauráceas poderíamos dizer muito. Delas vem muitas sementes aromáticas, altamente reputadas como antirreumáticas, desinfetantes, estomáquicas e antifebris. A elas pertencem a “Camfora”, o “Sassafras”, o “Sassafrasinho”, o Louro. Muitas são emenagogas, agem como anti-febris e contra a metrorragia. Outras servem mesmo para combater o cólera, o escorbuto, e como diurético, etc. Mas, para este último fim, nenhuma atua mais energicamente do que o nosso “Abacateiro”. A fama de que goza o “Puchury” como antigonorreico e depurativo geral não podem ser esquecida. Dezenas de espécies já foram aceitas pela medicina oficial e estão registradas nas farmacopeias universais.

Bibliografia: Boletim de Agricultura – 1929 – Os Vegetais na Terapêutica – F. C. Hoehne


sábado, 14 de junho de 2014

Plantas medicinais e úteis na botânica brasileira

Se estudássemos as plantas quanto as suas utilidades, é certo que todas teriam de ser consideradas. Mas, vejamos apenas algumas coisas interessantes a medicina popular. Façamos um estudo sintético dos componentes das diversas famíliass naturais do reino vegetal, para ver como se acham distribuídas nestas as propriedades que o povo assegura existir.
Pariparoba
Comecemos pelas Compostas, que é a maior família natural do reino vegetal e cujos representantes quaisquer pessoa pode reconhecer. Nela superabundam as espécies que passam por estomáquicas. Abrange ela também muitas tidas como antifebris, peitorais, emenagogas, vulnerarias, anthelminticas, aromáticas e carminativas. As anthelminticas e as catárticas são, geralmente, inseticidas. E um dos melhores inseticidas conhecidos é fabricado nas espécies deste grupo. A medicina oficial já aceitou muitas delas e as prescreve, quando as encontra nas farmacopeias.
As Labiadas compreendem igualmente muitas espécies medicamentosas. Quase todas elas são carminativas, aromáticas, peitorais e balsâmicas. Mas, há muitas que são anthelminticas e outras que encerram óleos essenciais finíssimos, que atuam sobre o estomago e os intestinos. As labiadas são antigas na medicina e, frequentemente, os médicos recorrem a elas, quando desejam curar dores intestinais de crianças ou combater as câimbras.
Não menos dignas são as Borragináceas como antiflogísticas, emolientes, diuréticas, peitorais e antidispecticas.
As Verbenaceas, que ainda é outra família que se alia as duas precedentes, são essencialmente peitorais, emolientes e, às vezes, adstringentes e estomáquicas, graças aos seus princípios ligeiramente amargosos.
As Convulváceas, que se distinguem pelas suas flores grandes e decorativas, contêm muitas espécies altamente drásticas  e outras edulas.
As Solanaceas, que, como as representantes da família precedentes, fornecem muitas tuberas edulas, contêm também, na maioria, um alcaloide toxico, altamente narcótico e princípios picantes que encontram empregos na culinária como condimentos. A ela pertencem; a batata inglesa, que adquiria renome mundial como planta econômica; as pimentas e os tomates, bem como o fumo cuja importância econômica comercial não é desprezível.
As Cloranthaceas, de que o Brasil tem um representante o Hedyosmum brasiliensis, o nosso “Chá de Soldado” fornece um chá romático altamente estomáquico.
Das Piperaceas, muito poderíamos dizer a respeito do seu valor como planta hepática e estomáquica, cardiotonicas, etc. Queremos, porém, apenas destacar as espécies do gênero Piper, que o povo já consagrou sob os nomes de “Caapeba”, “Pariparoba”, “Jaborandi”, etc. de que as primeiras atuam fortemente sobre o fígado e o último sobre as glândulas salivares. Delas muitas foram aceitas nas farmacopeias oficiais e encontra vários empregos no tratamento das hidropisias, moléstias pulmonares, dores de dente rubefaciente, febres intermitentes e como estimulantes, diaforéticos, diuréticos etc.


Bibliografia: Boletim de Agricultura – 1929 – Os Vegetais na Terapêutica – F. C. Hoehne

sábado, 7 de junho de 2014

Malva e suas complicações na farmácia.

Não são poucas às vezes em que o farmacêutico se sente confuso quando, ao balcão, atende a reclamação sobre a origem da malva que vende. Isto acontece porque a malva oficializada, nesta época anormal como dantes, é pouco importada, sendo então substituída sem nenhum critério pelos “apanhadores” de plantas medicinais, por outras espécies de Malváceas.
O público observando as diferentes malvas que compra alarma-se, e reclama, muitas vezes mais baseado em já haver adquirido anteriormente uma outra malva. Que lhe parece não igual à que já adquiriu no momento, do que por conhecimento exato da questão.
O farmacêutico vê-se então na contingência obrigatória de dar quase aulas de botânica e farmacologia, parra se livrar da desconfiança natural que o público tem para com sua honestidade profissional.
Malva oficinalis
É assim que encontramos empacotadas e vendidas como malva nas drogarias do Rio de Janeiro, Malvaceas dos gêneros Malvastrum A. Gray, Sida Linn, Pavonia Cav. Urena Linn, Sphaeralcea St. Hil, Malvaviscus Dill, etc. , com variado número de espécies indígenas.
O enorme emprego popular da malva em chás, bochechos, gargarejos, banhos e lavagens de várias espécies, assim como no receituário médico e ododntológico aproveitando as suas propriedades béquicas e emolientes e bem assim, o seu emprego oficializado na fórmula das espécies emolientes e espécies peitorais, levou-nos a procurar esclarecimento para o assunto.
Consultando alguns códigos, na Farmacopéia Portuguesa encontramos oficializada na edição de 1876 como malva a Malva silvestris Lin e Malva rotundifolia Linn e na edição de 1935 somente a Malva silvestris; porém, ambas as edições dizem que as podem substituir pela Lavatera silvestris Brot. Malvacea, e outras do genro Malva indígena do continente e das ilhas Madeira, Açores e Cabo Verde.
Assim entre 30 Malvaceas do gênero Malva Tourn. Citadaremos a Malva alcea Linn, M. paviflora Linn, M. negleacta (=vulgaris) Linn, M. glaba Desv. Que podem ser usadas como substitutos da Malva sylvestris .
A Farmacopeia Brasileira limitando o uso da malva à Malva sylvestris foi um tanto rigorosa pois esta espécie é exótica e somente cultivada nos jardins por curiosidade.
Naturalmente a cultura sistematizada da Malva sylvestris seria fácil, porém, a lei do menor esforço conduz ao processo extrativo a esmo o que infelizmente está generalizada em todos os setores da riqueza nacional.
Foi essa lei do menor esforço que os levou a empacotar a Sida micranta. Malvastrun coromandelianus, M. scabrun, mollis, etc. como malva, atentando assim contra o Código Farmacêtico Brasileiro.


Bibliografia: Revista Brasileira de Farmácia – setembro de 1943 – pág 404 – Farmacêutico Nuno Alvares Pereira.

domingo, 1 de junho de 2014

Médicos e Boticários da Cidade de São Paulo

O médico João Alvares Fragoso, em ofício dirigido, em 1812, ao Marques de Alegrete, governador e capitão general de São Paulo, comunicava-lhe, “ na sua qualidade de físico mor das Tropas desta capitania e Inspetor da real Botica do Hospital Real desta cidade, que estão extintos os remédios que existiam nesta Botica a ponto de nem ao menos se poderem substituir aqueles que preenchem as indicações das moléstias atuais; e que os não há nas Boticas e Droguistas desta cidade, para as comprar.”
Boticário na segunda década do séc. XX
A Real Botica se instalara num sobrado no bairro do Açu e em seu lugar hoje se ergue o prédio dos Correios e Telégrafos. Foi construído em 1796 e demolido em 1916. Quanto as drogas, não devia ser lá muito extensas a lista das então usadas. Relativamente poucas as de origem mineral, eram muito maior número as provenientes do reino vegetal. Há noticias, em 1730, do mercúrio e do arsênico. Vem no receituário de 1830. É desse receituário também o tártaro. Entre os vegetais, encontram-se ópio, escamonéia, rosa, sene, maná, ipeca.
Pomadas e linimentos tinham então grande voga, salientando-se as comumente, entre aqueles, a pomada alvíssima.
Eram abundantemente usados o bálsamo católico e a Água Vienense, ainda hoje conhecido. Nos inventários e testamentos setecentistas mencionam-se caparosa, que é sulfato de ferro, pedra ume e verdete. Tenho ideia de ter lido também nas mesmas fontes, referencias a um traje de homem, “cor de pedra lipes, isto é cor azul pavão. Trata-se de um caustico o sulfato de cobre ou vitriole azul, ainda muito empregado principalmente, como inseticida agrícola”.
Em 1822, o ano da independência, existia na capital, segundo Afonso A. de Freitas, 7 médicos e cirurgiões mores e 3 boticários. Um destes era Ereopagita da Mota, com farmácia no início da então rua Rosário, hoje 15 de novembro, lado direito.
Quase sessenta anos antes, em 1765 possuíamos três, sendo um deles Francisco Coelho Aires, de 41 anos casado com D. Joana Batista dos Anjos, de 31 anos; residiam com 3 filhos: José, Francisco e Teresa, respectivamente de 9, 1 e 14 anos. A sua botica ficava à Rua Direita. Os cabedais do casal orçavam em dois contos de reis. Outro Sebastião Teixeira de Miranda de 52 anos, casado com d. Rosa Eufrosina Mendes, de 26 anos. Tinham o capital de Um conto e seiscentos mil reis. Residiam à rua do canto da Lapa até a Misericórdia.  Ou seja, atual Rua Alvares Penteado. Por fim, José Antônio de Lacerda, de 40 anos, casado com D. Francisca Almeida Pais, de 46 anos, com um filho, Francisco, tonsurado, de 12 anos, vivendo em sua companhia, três expostos, José, Quitéria e Joaquina de 1, 8 e 2 anos. Capital de Uns mil e duzentos reis. Residiam à Rua do Pelourinho, que suponho ter sido a que depois se chamou da Esperança, Santíssimo e Capitão Salomão, constituindo hoje o lado esquerdo da Sé.


Bibliografia: Revista Brasileira de Farmácia – abril de 1942 – Nuno Santana – Departamento de Cultura.