sábado, 13 de abril de 2013

August de Sant’Hilaire 1779-1853


Terminadas as guerras napoleônica e celebrando o tratado de Viena, incumbiu Luiz XVIII ao duque de Luxemburgo a missão de saudar D. João VI, elevado ao trono de Portugal, e tratar da situação dos seus súbditos da Guyana, restituída à França após a conquista pelos portugueses. A bordo do navio onde viajava o embaixador, chegado ao Rio no dia 1º de junho de 1816, vinha o naturalista August Provensal de Saint-Hilaire, que apenas contava 36 anos de idade. Até então pouquíssimos viajantes haviam penetrado pelo sertão do Brasil. Humboldt só conhecera pequena parte da região amazônica. Koster percorrera o nordeste e, por mar, fora do Ceará ao Maranhão. Linndley não sairá da Bahia, que o príncipe Neuwied também atingira, atravessando, por terra, o Rio de Janeiro e o Espírito Santo; porém, menos de um ano antes de Sait Hilaire iniciar sua viagem, Mawe passara do Rio a Cantagalo e, dde lá voltando, seguiu para Minas Gerais, onde Eschwege, empregado pelo governo, teve ensejo de muito observa.
August de Sait'Hilaire
O grande Martius e os seus companheiros de missão, Spix e Pohl, só se puzeram em marcha no ano de 1817, indo do Rio por São Paulo, Minas Gerais e Goias até a Bahia e daí pelo Piaui e Maranhão, até o Amazonas, que percorreram todo ele em canoa, tirando dessa espantosa marcha de quatro anos a monumental Flora Brasiliense.
A este grupo, composto de alemães e ingleses, veio juntar-se o botânico francês, e com excepção do sábio bávaro, Martius, a todos ultrapassou, não só pela extensão da viagem, mas principalmente, pela vastidão da obra dela resultante, a certos respeitos por nenhum atingida. Percorreu as províncias do espírito santo, Minas Gerais, Goias, São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Cisplatina, desde o Jequitinhonha e a origem do São Francisco até ao Rio Claro e ao Uruguai, em cuja margem esquerda pode ver quando restava das missões jesuíticas. Foram 2000 léguas a cavalo ou em lombo de burro, por sertões geralmente de maus caminhos.  As Minas Gerais visitou três vezes e de tal modo a conhecia tão bondosamente era acolhido, que se identificara com os interesses dos seus habitantes. Quando chegou a Goiás, ali já havia demorado quase quinze meses. A Goiás raramente ia alguém. A 28 de maio de 1819, data de passagem de Sant’Hilaire pelo registro dos Arrependidos, na fronteira das duas províncias. Já decorriam setenta dias, sem por lá ninguém transitar em busca da mais longe delas. O nome daquele posto fiscal, certamente, inspirado pelos obstáculos de tão penosa viagem.
Não só Ella, como as demais, exigiam dureza de corpo e elevada moral. Havia que vencer a escassez dos recursos, as fadigas e privações; dormir em ranchos apenas cobertos, desprotegidos dos lados; esquecer a cama e habituar-se á re des, converter malas em cadeiras e mesa de escrever; perder o medo dos animais bravios e suportar em vigília a cantilena dos mosquitos; considerar o pão objeto de luxo; passar semanas e semanas sem um pedaço de carne; contentar-se com arroz feijão; renovar de longe em longe o sabor do vinho, quase esquecido pelo uso da água das fontes; pior que tudo isso, sentir-se isolado do mundo sem notícias da pátria, da família e dos amigos. Em meio a tantas provocações sofrer também a inconstância da gente de serviço, que nas mais difíceis circunstancias o ameaçava de abandonar e o obrigavam a transigir ou submeter-se a exigências desarrazoadas.

Bibliografia: Almanaque Agrícola Brasileiro , 1929 -

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