segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Dr Raiz símbolo dos herboristas da Bahia

Já vai longe, levada celeremente pelo tempo, aquela quadra feliz e despreocupada marcada pelos anos de 1908-1911. Fazendo retroceder em nossa memória as imagens para sempre gravadas em nossa imaginação, o popular acesso a enorme parque de antiga residência senhorial, um garoto pálido, transido de medo, sem forças para articular qualquer palavra, chumbado pela surpresa à aquele local onde fora surpreendido e um velho de fisionomia calma e serena, que, por admoestação queixosa, apenas lhe dizia: “até você, meu branco?.... que mal lhe fez o pobre velho?”...
O garoto. A brincar no pomar da sua residência, ouvira a garotada da rua perseguir o popular velhote que andava de olhar baixo, arrimado ao bordão, um cesto ao braço e um grande saco de aniagem as costas, cheios de raízes e ervas, com a aparência de maluco, aos gritos esganiçados: “Dr Raiz!....Dr Raiz!...
Contagiado por aquela brincadeira de mau gosto, também correra a gritar pelo Dr Raiz e a sua última vocalização, já em frente ao portão fechado, Dr Ra....! - fora interrompida, paralisado, pela visão do velho de quem apenas estava separado pelas grades de ferro do enorme portão senhorial. O susto paralisara todo o movimento do garoto e a expressão suave da reprimenda do velho profundamente o envergonhara.
Passam-se os tempos. O garoto cresce e durante o curso ginasial, não raro, em seu caminho encontrava aquele mesmo velho, sempre de cesto ao braço e saco às costas, a colher e carregar ervas secas e verdes. Galga o curso médico, e certa vez nas salas de curativos do hospital encontra o pobre Dr raiz a aguardar os curativos dos colegas diplomados. E ele, certamente, jamais o soube que aquele que por vários dias lhe fizera os curativos de que necessitava e para quem ele pedira a Deus – “fizesse muito feliz e desse tudo o que desjasse” – era aquele mesmo garoto que também o perseguira a gritar: Dr Raiz!....
Um dia desapareceu para sempre do placo das ruas. E quem sabe como e de que morreu? Seria um anônimo se lhe não ficasse a alcunha de Dr Raiz e ainda a fotografia que Joaquim Manso, um dos grandes amantes da natureza, conseguiu quando procurava fixar tipos populares da Bahia
Mas naquela época ninguém compreendia que alguém andasse a carregar folhas e raízes, percorrendo a cidade de uma extremidade a outra sem que estivesse certamente “malucando”...


Bibliografia: Revista Brasileira de Farmácia – Dr. Narciso Soares da Cunha.

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