Já vai longe, levada celeremente pelo tempo, aquela
quadra feliz e despreocupada marcada pelos anos de 1908-1911. Fazendo retroceder
em nossa memória as imagens para sempre gravadas em nossa imaginação, o popular
acesso a enorme parque de antiga residência senhorial, um garoto pálido,
transido de medo, sem forças para articular qualquer palavra, chumbado pela
surpresa à aquele local onde fora surpreendido e um velho de fisionomia calma e
serena, que, por admoestação queixosa, apenas lhe dizia: “até você, meu branco?....
que mal lhe fez o pobre velho?”...
O garoto. A brincar no pomar da sua residência, ouvira a
garotada da rua perseguir o popular velhote que andava de olhar baixo, arrimado
ao bordão, um cesto ao braço e um grande saco de aniagem as costas, cheios de
raízes e ervas, com a aparência de maluco, aos gritos esganiçados: “Dr
Raiz!....Dr Raiz!...
Contagiado por aquela brincadeira de mau gosto, também
correra a gritar pelo Dr Raiz e a sua última vocalização, já em frente ao
portão fechado, Dr Ra....! - fora interrompida, paralisado, pela visão do velho
de quem apenas estava separado pelas grades de ferro do enorme portão senhorial.
O susto paralisara todo o movimento do garoto e a expressão suave da reprimenda
do velho profundamente o envergonhara.
Passam-se os tempos. O garoto cresce e durante o curso
ginasial, não raro, em seu caminho encontrava aquele mesmo velho, sempre de
cesto ao braço e saco às costas, a colher e carregar ervas secas e verdes.
Galga o curso médico, e certa vez nas salas de curativos do hospital encontra o
pobre Dr raiz a aguardar os curativos dos colegas diplomados. E ele,
certamente, jamais o soube que aquele que por vários dias lhe fizera os
curativos de que necessitava e para quem ele pedira a Deus – “fizesse muito
feliz e desse tudo o que desjasse” – era aquele mesmo garoto que também o perseguira
a gritar: Dr Raiz!....
Um dia desapareceu para sempre do placo das ruas. E quem
sabe como e de que morreu? Seria um anônimo se lhe não ficasse a alcunha de Dr
Raiz e ainda a fotografia que Joaquim Manso, um dos grandes amantes da
natureza, conseguiu quando procurava fixar tipos populares da Bahia
Mas naquela época ninguém compreendia que alguém andasse
a carregar folhas e raízes, percorrendo a cidade de uma extremidade a outra sem
que estivesse certamente “malucando”...
Bibliografia:
Revista Brasileira de Farmácia – Dr. Narciso Soares da Cunha.
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