sábado, 13 de fevereiro de 2016

A história secreta da quina

Os holandeses, apesar das recentes restrições contra o transplante de quina para outras terras. Mandaram ao Peru um botânico de valor, Justus Hasskarl, cuja atuação foi agitada. Teve de atravessar os Andes sob incógnito; subornou funcionários; e organizou encontros secretos na fronteira da Bolívia, onde os sacos de sementes juntadas pelos índios eram trocados por ouro.
Após dois anos de trabalheira conseguiu Hasskarl chegar ás Índias Holandesa com centenas de mudas e sementes. As mudas não resistiram a demorada travessia, só as sementes se salvaram.
Jardim Botânico de Londres
O governo holandês mostrou-se grato ao valente explorador e o deixou coordenando as plantações de quina em Java. Também o condecorou.
Mas ocorreu um engano trágico, ou era ainda o feitiço? As sementens produziram lindas plantinhas, com as quais se formaram vastos quintais, mas Hasskarl havia trazido às sementes erradas. A casca daquela chinchona não revelou a presença do alcaloide....
Os governos sul americanos souberam dessas tentativas para lhes roubar um monopólio natural e disseram: “Deus nos deu grandes florestas de chinchona e não podemos permitir que nos roubem o monopólio. Havemos de defende-lo.
Foram decretadas rigorosas leis reguladoras da exportação da casca perviana, não só no Peru como na Bolívia, no Equador e na Colombia, onde também existia a preciosa árvore.
Cascas podiam sair desses países, mas não sementes ou mudas, nada que pudesse criar a cultura da chinchona fora daquelas zonas. Enquanto isso, milhões de maláricos pelo mundo inteiro imploravam quina e viam o seu preço subir sempre.
Numa repartição publica da Inglaterra estava um jovem funcionário inglês lendo correspondência oficial sobre a Chinchona. Chamava-se Clements Markham, 24 anos, filho dum sacerdote, mas desinclinado a seguir a carreira do pai.
Por quatro anos já tinha servido na marinha britânica, e visitara a América do Sul, o México, a California, as Ilhas Sandwick; também tomara parte na mal sucedida procura de Sir John Franklin, que desaparecera numa caçada lá pela Northwest Passage. Em sua estada no Para estudara a história dos antigos incas.
Mais tarde passou seis horríveis semanas numa repartição do governo a copiar carunchosos testamentos. Um mês antes de fazer 24 anos foi tirado de tão desalentadora tarefa e removido para outro setor, onde lhe incumbia lidar com os negócios entre o governo inglês e a Companhia das Índias.
Foi quando desenterrou um velho relatório oficial com a historia secreta da chinchona
No Peru havia Markham visto florestas de chinchona, mas só agora apreendia o imenso valor. Soube pelo relatório que a malária afetava um terço da população do globo e contra ela só tinha poder a quinina. Soube também que a malária fazia um milhão de vitimas por ano.
O relatório igualmente informava que na Índia e na Ilha de Ceilão as regiões montanhosas eram do mesmo clima da zona quinifera dos Andes, e mencionava as leis restritivas em vigor nas republicas sul americanas.
Durante cinco anos Markham estudou a chinchona e a América do Sul. Conversou a respeito com Sir William Hooker, diretor do jardim botânico de Kew, e com John Eliot Howard, o maior manufaturador de quinina da Inglaterra. Consultou botânicos e químicos e funcionários das Índias Office, informou-se de tudo quanto sabia sobre a chinchona, o Peru ou a Índia. E por fim, em 1859, apresentou um plano ao Revenue Comitter, do Índia Office.


Bibliografia: Mágica em Garrafas, A história dos Grandes Medicamentos – Milton Silverman – tradução de Monteiro Lobato – Cia Editora Nacional 1943

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