Um rapazola na casa dos vinte anos ousava sugerir não
apenas uma expedição, mas quatro expedições simultâneas, todas dirigidas por
ele, em quatro diferentes zonas. O pedido de sançõ oficial parta aquilo, e de
fundos, era a que havia de mais absurdo!
Mas a audácia do relatório tinha o apoio de eminentes
cientistas e manufatureiros, e os argumentos do relatório tiveram a força para
convencer os peritos do governo de que a cultura da chinchona nas Índias era
coisa perfeitamente viável.
Em tempo extraordinariamente curto a expedição foi
aprovada. Markham recebeu autorização para coleta de sementes e mudas de
chinchonas e superintender lhes o transporte e a introdução na ìndia e na ilha
do ceilão.
Markham revelara-se um excelente planejador, e iria
relevar-se ainda melhor executor. Habilmente escolheu os colaboradores
necessários, botânicos uns, experientes sertanistas outros, todos animados da
suprema decisão do “de fazer ou morrer pela Inglaterra”, espirito que levou
alguns deles para bem perto da segunda alternativa do dilema.
Prichett, um sertanista, tinha a missão de coletar a
casca da chinchona parda nas florestas de Huanaco, no Peru central ao norte de
Lima; Spruce um notável botânico, procuraria a chinchona vermelha no Equador; Cross,
um diligente escocês, ajudaria Spruce e depois cuidaria das cascas dos Andes colombianos.
E o jovem jardineiro Weir acompanharia Markham na busca às cascas amarelas do
sul do Peru.
Esses homens tinha de movimentar-se isoladamente ao longo
do fronte de 2000 milhas, simultâneos, em silêncio e rápidos se possível. Dados
os perigos e obstáculos, um ou dois haveriam de falhar, mas era provável que um
vencesse.
Seguido de sua esposa e do fiel Weir, Markham desembarcou
em Islay, pequeno porto da costa do Peru. No consulado inglês deixaramas suas
tralhas e transportadores, estufas em miniaturas já com a terra pronta,
destinada á condução de mudas. Após dois dias de viagem pelas areias do
deserto, alcançaram a cidade de Arequipa. Ali foi deixada Minna Markham em companhia
de velhos amigos de seu esposo, e os dois homens começaram a galgar as
montanhas.
Subida forte. Estreita trilha de mulas ziguezagueava
pelos Andes acima, sempre sobre nevadas ou chuva até uma altitude aproximada de
quase 16.000 pés. Depois vinha a descida íngreme para uma garganta gelada, por
entre brejos e penedos, até á cidade de Puno, á margem do lago Titicaca.
Estavam lá a duas milhas acima do nível do mar e ainda havia outro tanto a
subir!
Dispondo apenas das surradas mulas de aluguel ali da
zona, Markham e Weir deixaram Puno pela estrada inca que conduzia a Cuzco, a
velha capital do império aborígene: depois rumaram para leste e puseram-se de
novo a subir.
Encontraram mais povoados a milhares de pés acima do nível
do mar, e mais desfiladeiros, cada vez mais altos. E mais tempestades de neve,
e mais lama, e mais atalhos escorregadios.
Num dos pousos naquelas alturas encontraram Don Manuel
Martel coronel do exército peruano, o qual se mostrou insinuante e começou a
falar sobre coisas relativas á chinchona, revelenado muito conhecimento de
causa.
- Snhores nunca ouviram falar de José Carlos Mueller?
Os dois ingleses sacudiram a cabeça.
- Pois foi um mal homem, continuou Muriel. Seu verdadeiro
nome era Hassskarl. Foi mandado para aqui pelos holandeses, e furtou ao nosso
povo a planta que o sustenta
Nunca ouviram falar do Sr Hasskarl?
Markaham fez imperceptível sinal a Weir e respondeu que
não.
Martel admirou-se
- Não o conhece? Está certo disso? Não importa; mas se
acaso o encontrarmos por aqui, ou a algum seu assistente, cortamos lhe os pés!
Os senhores não estão interessados na chichona não é mesmo?
Claro que não estavam, e no outro dia Martel partiu para
Puno enquanto os dois ingleses prosseguiam rumo ao belo vale de Caravaya, onde
começam as florestas de chinchona.
Um mês levaram para alcançar o distrito da quina amarela
e gastaram outros dois para juntas as sementes. Mas aquela atividade não
poderia se manter por muito tempo secreta assim tiveram de apressar o retorno. O
suspeitoso Martel andava espalhando coisas por aquelas paragens, além disso
estavam em zona fronteiriça da Bolívia, com os dois povos prestes a se
atracarem.
Cada dia, aquela mesma luta contra a floresta, a
rfomperem caminho no denso emaranhado de mudas da árvore e palmas exóticas, a
esbarrarem em orquídeas raras, a vadearem riachos, a amassarem lameiros. A
noite, sempre prontos para fugir para a cota ao anuncio dum perigo, arrumavam
as mudas em pacotes enrolados em couro da Russia.
No entanto o prefeito de uma cidade próxima expediu ordem
de prisão contra dois estrangeiros e de confisco das suas bagagens.
Bibliografia:
Mágica em Garrafas, A história dos Grandes Medicamentos – Milton Silverman –
tradução de Monteiro Lobato – Cia Editora Nacional 1943.
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