quarta-feira, 8 de agosto de 2012

O guaraná segundo o Dr Von Martius


O guaraná, a pasta de guaraná, não deve ser confundido com a goma caraná, fui pela primeira vez divulgada, ao que me consta por Virey; e ele a atriobuià Rizopha Manyle. Sou capaz de dar mais preciosa elucidação sobre este singular produto da indústria indígena, posto que não só observei a planta originaria no próprio país como também presenciou a sua preparação pelos indígenas.
Esta substância é preparada da semente de uma espécie até agora não descrita de Paulinia, e que  denominei Paulínia sorbilis, ilustrando-a num opúsculo que meu irmão, T. W. Martius em Erlangen,  vai publicar sobre a droga.
É um arbusto com ramos separados, atingindo n o máximo a altura de um homem, e nasce espontaneamente nas matas secas da província do Rio Negro. Eu o vi na Barra do Rio Negro, onde no mês de novembro apresentava simultaneamente flores e frutos quase maduros, e mais tarde no Canal dos Abacaxis, no lago Canoma e na vila Topinambarana.
Os índios colhem os frutos maduros, retiram as sementes que são de cor negra, ovalares, do tamanho de avelã, e envoltos, na metade inferior, um pedúnculo branco e feculento.
Estas sementes são esmagadas entre pedras aquecidas e (no caso por mim presenciado sem outro ingrediente), segundo o que afirmam vários brasileiros,às vezes também adicionadas, misturadas e amassadas com cacau e alguma fécula de sedimento da raiz de mandioca, até que estejam bem aglutinadas e possam ser amoldadas a qualquer forma desejada. Na maioria das vezes tem a forma de fuso pontiagudo ou de um cilindro, raras vexes são globulosas. Sendo dissecadas ao ar na sombra, ou sobre a fumaça das cabanas, endurecem tornando-se um corpo de cor pardo-castanho, entremeiado aqui e acolá de partes mais claras e amareladas, tuberosas, de grande dureza e peso, e neste estado se tornam objeto de intercambio.
Também é igualmente a industriosa nação dos Maués no rio Maué, no lago Canoma e no rio Madeira, a que se ocupa tanto do comércio da Cassia caryophyllata, como também especialmente fabricação deste produto.
Destes maués é que em primeiro lugar o obtiveram os navegantes brasileiros que iam para o Madeira e vinham de Mato Grosso, e por intermédio destes últimos espalhou-se o uso do mesmo por todo o Brasil, a ponto de faltar muito raramente na compêndios de farmácia dos viajantes. O vulgo o considera, simultaneamente, estomáquico, antifebril e afrodisíaco; e devo, sem dúvida, confessar que estou indeciso sobre o caráter dominante, que a esta substância poderia ser atribuída.
Bibliografia:Sobre algumas drogas brasileiras. Dr. V. Martius fevereiro de 1829.

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