O guaraná, a pasta de guaraná, não deve ser confundido
com a goma caraná, fui pela primeira vez divulgada, ao que me consta por Virey;
e ele a atriobuià Rizopha Manyle. Sou capaz de dar mais preciosa elucidação
sobre este singular produto da indústria indígena, posto que não só observei a
planta originaria no próprio país como também presenciou a sua preparação pelos
indígenas.
Esta substância é preparada da semente de uma espécie até
agora não descrita de Paulinia, e que denominei
Paulínia sorbilis, ilustrando-a num opúsculo que meu irmão, T. W. Martius em Erlangen,
vai publicar sobre a droga.
É um arbusto com ramos separados, atingindo n o máximo a
altura de um homem, e nasce espontaneamente nas matas secas da província do Rio
Negro. Eu o vi na Barra do Rio Negro, onde no mês de novembro apresentava
simultaneamente flores e frutos quase maduros, e mais tarde no Canal dos
Abacaxis, no lago Canoma e na vila Topinambarana.
Os índios colhem os frutos maduros, retiram as sementes
que são de cor negra, ovalares, do tamanho de avelã, e envoltos, na metade
inferior, um pedúnculo branco e feculento.
Estas sementes são esmagadas entre pedras aquecidas e (no
caso por mim presenciado sem outro ingrediente), segundo o que afirmam vários
brasileiros,às vezes também adicionadas, misturadas e amassadas com cacau e
alguma fécula de sedimento da raiz de mandioca, até que estejam bem aglutinadas
e possam ser amoldadas a qualquer forma desejada. Na maioria das vezes tem a
forma de fuso pontiagudo ou de um cilindro, raras vexes são globulosas. Sendo
dissecadas ao ar na sombra, ou sobre a fumaça das cabanas, endurecem
tornando-se um corpo de cor pardo-castanho, entremeiado aqui e acolá de partes
mais claras e amareladas, tuberosas, de grande dureza e peso, e neste estado se
tornam objeto de intercambio.
Também é igualmente a industriosa nação dos Maués no rio
Maué, no lago Canoma e no rio Madeira, a que se ocupa tanto do comércio da
Cassia caryophyllata, como também especialmente fabricação deste produto.
Destes maués é que em primeiro lugar o obtiveram os
navegantes brasileiros que iam para o Madeira e vinham de Mato Grosso, e por
intermédio destes últimos espalhou-se o uso do mesmo por todo o Brasil, a ponto
de faltar muito raramente na compêndios de farmácia dos viajantes. O vulgo o considera,
simultaneamente, estomáquico, antifebril e afrodisíaco; e devo, sem dúvida,
confessar que estou indeciso sobre o caráter dominante, que a esta substância
poderia ser atribuída.
Bibliografia:Sobre
algumas drogas brasileiras. Dr. V. Martius fevereiro de 1829.
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