Flor e aste de Baunilha brasileira |
A baunilha brasileira, que me foi remetida pelo Sr.
Schadelook é dissemelhante da mexicana e de uma terceira espécie, tem fava do
tamanho de um dedo, são grossas e pretas, existindo no interior da Bahia, Piauí
e do Pará. Nem todas as espécies de baunilha crescem com frequência, nas matas
virgens, sobre as árvores, e um botânico, acostumado a olhar mais para o solo
do que para consideráveis alturas vai muito raramente ter ocasião de observar
tais plantas em todos os estados. Infelizmente não estou em condições, por
isto, de externar algo de positivo acerca da planta originaria da baunilha ora
apresentada. Em minhas anotações feitas em viagem encontro referencias sobre as
menores favas, originarias da Vanilla planifólia,
Andr. ; porém, dada a dificuldade de comparar as diversas plantas da família das
orchidaceas sem o confronto de águas fortes com a planta em natureza, não quero
dar muito credito aquelas anotações. Há, no entanto, que assegurar que as espécies
de baunilha, as únicas que até agora foram encontradas no Brasil, não
alcançaram o aroma das mexicanas, e que, por encerarem muito mais polpa no
interior da fava, por isto mesmo facilmente apodrecem, sendo tratadas pelos
brasileiros por um processo falho de eficiência. Elas são suspensas por algum
tempo em xarope, motivo pelo qual o sabor aromático é ainda mais diminuído e,
de tal maneira modificada, a ser a primeira impressão das favas sobre a língua
análoga á da geleia de ameixas. Aliás, tomei, no Paré, chocolate que havia sido
preparado com esta baunilha.
Os gêneros das laurineas, que são especialmente ricos em
excelentes plantas medicinais, apresentam espécies singulares também no Brasil.
A Cassia cryophyllata das oficinais
ainda frequentemente atribuída a uma murta, á Myrtus caryophyllata, L. origina-se de uma Persea, como eu próprio me
certifiquei na escola do Pará, pela observação das árvores. Esta Persea até
agora não foi descrita, e é designada por mim pelo nome de Persea caryophyllaceas P;. Glaberrima,
Esta bela arvore nasce de preferência e frequencia nas
matas densas e úmidas do Rio Maué, no canal dos Abacaxis que liga o rio Madeira
ao Amazonas, e nas ilhas lacustres do Vaicurapa e Uautas, que também recebem
águas do Madeira e Amazonas. Os índios da tribu Maué especialmente fazem o
intercambio com as cascas tiradas desta árvore. Nas províncias setentrionais do
Brasil conhecem-se as mesmas sob o nome de cravo do Maranhão. Se os índios tem
pouca noção do valor dos objetos em geral, que possuem em seus pobres lares
aprenderam, em virtude da procura cobiçosa dos europeus aquela desejada droga,
a estipular determinado preço á mesma, e eles trocam somente pela aguardente,
machados e chitas, para eles, os mais importantes objetos que recebem pelo trafico
com os brancos. Eles descascam a árvore no fim da estação das chuvas, durante a
qual a casca se destaca do lenho com maior facilidade, enrolam as mesmas, como
a canela, sobre um brando fogo, e as transportam para o mercado em feixes de
três pés de comprimento por um palmo de grossura amarrados com o liber castanho
de um cissus.
Bibliografia:
Revista da Flora Medicinal – 1939. Escrito pelo Dr Von Martius e traduzido pelo
farmacêutico Oswaldo Riedel
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