sábado, 5 de março de 2016

A epopeia de roubar as mudas do Peru.

Era o momento de fugir depressa.
Markham, entretanto, não o quis fazer sem dar uma resposta ao alcaide. “Segundo me parece”, escreveu ele, “diante da Constituição do Peru, de 1856, vossas funções são apenas consultivas e legislativas, e não executivas... Aproveito desta oportunidade para expressas4 a minha apreciação pelo vosso patriótico zelo... Mas lamento que esse zelo seja acompanhado de tão lamentável ignorância dos verdadeiros interesses do vosso país”.
Markham entregou esta nota a um mensageiro e ordenou que a levasse ao alcaide. Depois voloru-se para Weir:
-Logo que o alcaide ler esta nota, teremos á nossa cola todo o exercito peruviano, mas isso não será senão daqui umas horas. Toca fugir...

A preciosa bagagem foi ajeitada no lombo dos muares; por cima foram colocadas as tenras mudinhas, e a descida começou; mas a algumas milhas adiante viram-se bloqueados por um grupo de homens. Markham da pistola e tais fez o grupo bater em retirada.
- Ora graças! Exclamou ele. Eu não poderia dar um só tiro porque a pólvora está molhasa...
Mais adiante uma das mulas escorregou e caiu numa perambeira. Markham desceu para salva as mudinhas; enquanto Weir, nada amigo de perder tempo, aproveitou a espera para colher mais plantas.
No primeiro povoado tiveram a impressão de que o Peru inteiro estava na sua cola. Os moradores da biboca já não se mostravam amistosos. A aquisição de provisões ia se dificultando; e animais de carga só lhes prometiam com a condição de voltarem por onde tinham vindo, isto é, Puno. E foram avisados de que outra diligencia os estava esperando nessa cidade sob o comando do próprio Coronel Martel.
Isso vinha alterar-lhe todos os planos. Foi resolvido então que Weir seguisse com as mulas que tinham, enquanto Markham, acreditando na velha pistola, furtou mais três, no lombo das quais levou o grosso das plantas.
Acompanhado de alguns nativos, corajosamente fez-se Weir de rumo a Puno, ao encontro do ameaçador coronel.
Se Weir fosse colocado na alternativa de perder as mudas para salvar os pés, muito bem, deixaria que Martel destruísse as mudas e salvaria os pés.
Markham, entretanto, ia defrontar um problema mais serio. Com três mulas  e um guia que, como depois verificou, nunca havia saído de sua aldeia natal, partiu ele para Arequipa por um diferente caminho. Com o auxilio da bussola e de mapas muito grosseiros tencionava romper em linha reta através dos andes.
Nada mais absurdo e perigoso, impossível e louco; mas apesar disso, dez dias depois de ter-se separado de Weir, Markham chegava a Arequipa. E dois dias depois apareceu Weir, firme nos dois pés, mas sem mudas, e os dois la seguiram para o porto de Islay em busca do consulado inglês.
A primeira variante da expedição de Markham fora bem sucedida. As plantas foram para bordo dum navio destinado ao Panamá, onde Haveria transbordo para Londres. A segunda variante também falhou. Meses depois da chegada de Markham aparecia Pritchett, vindo lá do vale Caravaya com uma coleção de mudas das florestas do Huanaco.
No Equador Spruce reuniu milhares de sementes da chinchona vermelha e as expediu com segurança para Londres. Também apanhou um severo reumatismo e uma doença nervosa, dando lhe veio a paralisia intermitente que nunca mais o abandonou.


Bibliografia: Mágica em Garrafas, A história dos Grandes Medicamentos – Milton Silverman – tradução de Monteiro Lobato – Cia Editora Nacional 1943

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