Paul Ehrlich, o influenciador da vida de milhões de
criaturas as quais salvou de triste morte, foi por sua vez muito influenciado
por dois homens. Um, seu primo Carl Weigert, o solitário, patologista que gastou
vinte anos a colorir as fibras nervosas de modo que pudessem ser observadas ao microscópio.
Outro, Robert Koch, o medico rural que revolucionou a caça ao micróbio com a
descoberta do bacilo da tuberculose e de mais outros facinorosos serezinhos e
afinal encerrou a sua espetacular carreira com uma ainda mais espetacular
aventura de amor: fugiu com uma corista.
Paul Ehrlich - Prêmio Nobel de Biologia |
Em 1876 Koch de seu pequeno laboratório rural para o
posto de médico municipal da cidade de Breslau. No primeiro dia em que saiu a
visitar a escola medica os emperrados e nada cordiais professores
acompanharam-no gravemente. No departamento de patologia indicaram-lhe um jovem
estudante numa mesinha cheia de colorantes.
- É o nosso pequeno Ehrlich, um excelente coloridor de
tecidos mas que nunca passará nos exames.
O pequeno Ehrlich de fato nunca passou nos exames, porque
nunca se interessou por eles. Andou de escola em escola, de Breslau a
Strasburgo, de Strasburgo a Leipzig, deixando atrás de si todas as mesas
sarapintadas, e os professores a sacudirem a cabeça.
- Ehrlich? Ah, um abominável estudante. Não aprende coisa
alguma. Não decora nada. – mas é mestre em tintas. Devia ter-se dedicado á
pintura.
Seus professores podiam tê-lo barrado das classes, que
ele aliás pouco frequentava, porque Ehrlich não era o tipo do bom estudante de
medicina – mas os professores daquele tempo não davam muita atenção a tipos de
estudantes e coisas assim.
Se o professor de matéria medica acusava Ehrlich de não
saber de cor as milhares de drogas existentes, outros professores intervinham: “Tenha
paciência com o rapaz. Quem sabe se com aquela mania de tintas ainda não acaba
fazendo uma grande descoberta? Pode encontrar algum novo meio de diagnóstico ou
descobrir algum novo tecido ou célula”. E desse modo foi decidido que se
Ehrlich desejava levar o seu curso de medicina daquele modo tão irregular, que
levasse, só ele tinha a ver com isso.
Ehrlich teve de prolongar o curso por mais um ano, mas
afinal diplomou-se – não que passasse nos exames, mas porque seus mestres
levaram em consideração as suas experiências praticas. E por meio daquele
irregularismo desvio dos sistemas de pesquisas acabou criando um novo ramo da ciência
do sangue.
Por aquele tempo o jovem cientista já havia descoberto
cinco novas qualidades de células sanguíneas.
Se Ehrlich começou como mau estudante, continuou como péssimo
médico. Quando os colegas saiam a correr as enfermarias, ele ficava em sua mesa
a colorir finíssimas fatias de fígado. E se acaso visitava um doente,
deixava-lhe nas roupas do leito manchas de vermelho ou laranja. Se chamado para
atender um parto, interessava-se mais em obter um bom fragmento de tecido placentário
do que notar o peso, o sexo e o estado da criança.
Nada interessava Ehrlich, só colorir tecidos e pesquisar bactérias.
Bactérias! Aqueles microscópicos serezinhos precisavam de
cor; eram tão insignificantes que o médico tinha dores de cabeça do esforço de
vê-los no microscópio. E de que outra maneira poderia saber se um tecido estava
infeccionado, se não podia distinguir as bactérias? Mas e pudesse dar cor ás bactérias,
seria fácil diagnosticar a infecção causadora duma morte!
Bibliografia:
Mágica em Garrafas, A história dos Grandes Medicamentos – Milton Silverman –
tradução de Monteiro Lobato – Cia Editora Nacional 1943
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