Uns tantos médico no mundo do sculo XIX tentavam de todas
as maneiras acabar com o matadouro que os hospitais eram. Cegamente por
intuição, recomendavam mais ar nas enfermarias, lavagem das paredes com lixivia
e muitas vezes completo abandono de certos prédios, irredutivelmente maus.
Num deles, o chefe da clinica costumava afixar anualmente
um aviso: “vai entrar a estação da erisipela nas enfermarias; ficam suspensas
as operações até março.”
No Hospital de S. Thomas, em Londres, havia uma desbotada
advertência na parece da sala onde os estudantes dissecavam cadáveres
putrefatos. “Os que estiverem dissecando ou fazendo qualquer trabalho
post-mortem, devem lavar as mãos com solução de soda cloratada antes de irem
ver os pacientes.” Mas ninguém se incomodava com isso; e quem acaso tomasse o
aviso ao pé da letra, não encontraria a “solução de soda cloratada”.
Em Budapeste o aloucado Ignaz Semmelweis procurava em vão
convencer o mundo
médico de que a culpa das tais “doenças dos hospitais” cabia
aos próprios médicos, que de passagem de uma enfermaria a outra iam levando
consigo o contagio. Mas a maioria dos cirurgiões curvava-se diante do “fardo da
profissão” e reclamavam dos horrores subsequentes ás operações eram
inevitáveis. “Suprimir o pus! Oh, mas isso não é desejável! Afinal de contas o
pus é necessário para que a ferida se feche”. E quanto à sugestão de que os
doutores eram os responsáveis por tantas mortes, a resposta era: “Senhor, nós
não apreciamos os vossos insultos!”
E assim até que em 1860 o Dr. Joseph foi para Glasgow
como professor de cirurgia da universidade. Durante quatro anos esse homem
combateu a podridão dos hospitais, avassaladora em todas as enfermarias. Por
quatro anos fez as enfermaria e os cirurgiões da casa lavarem as mãos frequentemente
(“O bobo! Não vamos sujá-las de sangue novamente?”). Por quatro anos lutou com
a diretoria do hospital por motivo de mais toalhas limpas, pensos bem lavados
para o tratamento das feridas, e mais e mais desodorantes.
Certo dia, no outono de 1864, Lister saiu do hospital
acompanhado de seu companheiro de professorado, o químico Thomas Anderson.
- Escute, Lister, perguntou Anderson. Qual é a sua
opinião sobre esse camarada Louis Pasteur?
- Pasteur? Louis Pasteur ? repetiu Lister franzindo os
sobrolhos. Não me recordo de tal nome. Francês?
- Sim, e notável. Não o conheço pessoalmente, mas estive
lendo seus artigos no Comptes Rendus. Anda a fazer novidades com as bactérias.
Diz que elas são as responsáveis pela putrefação e a fermentação.
- Ideia interessante, não há dúvida. Bacterias, sim ...
- Bacterias e outros micróbios. Podem ser os causadores
da putrefação das feridas e da formação do pus que tanto atrapalha você
operadores.
Lister tomou o caminho de sua casa e refletiu naquilo. E
como fosse um constante investidor, dirigiu-se logo a biblioteca e leu os
artigos de Pasteur nos jornais médicos da França. “É extraordinário!” pensou. “Com
o que já descobriu em suas experiências, creio que... Mas serão os micróbios os
causadores das doenças? Inacreditável e no entanto...” E Lister virou o caçador
de micróbios.
Bibliografia:
Mágica em Garrafas, A história dos Grandes Medicamentos – Milton Silverman –
tradução de Monteiro Lobato – Cia Editora Nacional 1943.
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