A cidade de São Paulo em 1765 tinha três boticários,
Francisco Coelho Aires, com seu comércio e moradia na rua Direita, Sebastião
Teixeira de Miranda na atual rua Alvares Penteado e José Antônio de Lacerda na
Praça da Sé.
A Real botica de São Paulo estava instalada onde hoje é o
Vale do Anhangabaú precisamente, onde está o antigo prédio do Correio. O prédio
para instalar esta primeira botica oficial na cidade foi construído em 1796 e
demolido em 1916.
No tempo da Real Botica os remédios eram, na sua grande
maioria, plantas medicinais, porém desde 1730 o brasileiro usava o mercúrio e o
arsênico importados da Europa.
O ópio, a escamoneia, a rosa, o sene, o manacá e a ipeca
já faziam parte dos remédios necessários para funcionamentos de uma botica.
Pomadas e linimento tinham grande consumo, aliás o produto mais consumido era a
pomada alvíssima, além do bálsamo católico, de Copaíba e a Água Vienense, que
só entrou em desuso no começo do século XX.
As boticas do Rio de Janeiro, no entanto, eram adornadas “com
estilo muito mais luxuoso que o comum das casas de comércio, isto é, de muito
bom gosto. Em vez de balcão, como se costumava ter, tinham bem no meio uma
espécie de altar, com a frente ornamentada com pintura e dourados; o motivo
mais comum na pintura era alguma paisagem, um naufrágio ou um simples ramalhete
de flores. Acima, no altar, a balança, os pesos, dois ou três livros velhos,
oráculos, sem dúvida, da arte de curar”.
Os utensílios de laboratório, sempre despertou no cliente
um olhar respeitador bem como muita curiosidade. Talvez por suas formas
singulares, tão diferente da maioria dos objetos corriqueiros, talvez por
indicarem ao leigo de alguma forma, as transformações que nestes locais se
faziam, Na porta dos laboratórios o aviso “Proibida a Entrada”, só entravam o
boticário, vestido com sua bata branca, e os auxiliares, geralmente moços de
manga de camisa. O freguês ficava a espera da receita, que levava no mínimo uma
hora para ser aviada além da grade de madeira ou de ferro.
Quando a família real portuguesa ruma para a colônia
Brasil, o futuro país não tinha conseguido fazer chegar as suas terras qualquer
dos avanços científicos que a Alemanha, França e Itália desfrutavam.
O Brasil era colônia portuguesa esquecida pela rainha D.
Maria I, “A Louca”.
Não havia faculdade, as ciências de uma maneira geral
eram privilegio dos que podiam estudar em Lisboa, Paris ou Londres.
Foi depois da vinda da família real, (1803) que o país,
ainda colônia, adquiriu o direito de acompanhar os movimentos culturais e
científicos do velho continente em curso a mais de um século.
O primeiro passo largo rumo a modernidade foi encabeçado
pelo príncipe regente D. João VI, que admirava os estudos de história natural,
bem como o trabalho dos naturalistas.
Em 18 de fevereiro de 1808, instituiu os estudos médicos
no Hospital Militar da Bahia, por sugestão do cirurgião-mor do reino, Dr José
Correia Pincanço, futuro Barão de Goiana, com ensino de anatomia e cirurgia,
porém o ensino de farmácia só iniciou em 1824.
A intenção de D. João VI era formar médicos e cirurgiões
para o exército e marinha, onde estava a elite econômica da época.
No Rio de Janeiro o rei instituiu o curso de medicina em
1809. Este curso era composto das cadeiras de medicina, química, matemática
médica e farmácia. O primeiro livro desta faculdade foi escrito por José Maria
Bontempo, primeiro professor de farmácia do Brasil, e chamava-se “Compêndios de
Matéria Médica” e foi publicado em 1814.
Em 1818 o farmacêutico português instalado no Rio de
Janeiro, José Caetano de Barros abriu o ensino gratuito a médicos, boticários e
estudantes no laboratório de sua farmácia, sendo que as aulas de botânica eram
dadas pelo carmelita pernambucano Frei Leandro do Sacramento, diretor do Jardim
Botânico, e professor dessa disciplina na então Escola Médico Cirúrgica. As
aulas de Frei Sacramento eram ministradas no Passeio Público do Rio de Janeiro.
Dentre os discípulos de José Caetano de Barros,
destacava-se Ezaquiel Correa dos Santos, que veio a ser um dos pioneiros da
farmácia no Brasil. Seu filho também farmacêutico tornou-se catedrático de
farmácia na Faculdade de medicina do Rio de Janeiro entre 1859 e 1883.
O ensino de farmácia aconteceu em 1925 quando o curso
passa a ter uma faculdade de farmácia, filiada, como a de cirurgia, botânica e
medicina a Universidade do Rio de Janeiro.
(continua)
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