Apesar
das diversas instituições de ensino da farmácia pelo país no século XX, a
passagem do comércio de botica para a farmácia como hoje conhecemos , custou
muita luta e muito empenho para se consolidar. Afinal o hábito, na cultura
popular, dificulta em muito as mudanças, por mais necessárias que elas sejam.
Dr Pedro Chernoviz |
A
própria lei que regulamentava o efetivo exercício da profissão persistia em
chamar os farmacêuticos de boticários. O Regimento nº 829, de 29 de setembro de
1851, documento que regulamentava a profissão, fazia menção ao técnico de
preparação dos medicamentos através da palavra “boticário”, e não se pense que
a expressão dissesse respeito a profissionais sem diploma, pois o artigo 28 do
referido regimento é claro: “os médicos, cirurgiões, boticários, dentistas e
parteiras apresentarão seus diplomas...”
O
hábito continuou até surgir o decreto 2055, de dezembro de 1857, onde ficou
estabelecido as condições para que os farmacêuticos, não habilitados, tivessem
licença para continuar a ter suas boticas. Uma ironia bem própria da cultura brasileira
onde farmacêuticos e boticários, habilitados ou não, tinham pouca diferença
para a média da população bem como para os legisladores, normalmente leigos em
questões técnicas de farmácia.
O
boticário dará definitivamente espaço ao farmacêutico depois de 1886. Isto no
entanto não deve significar que o pais e suas faculdades de farmácia não
produziram cientistas de nível nacional. É o caso de Luís Antonio da Costa
Matos, que obteve um princípio antifebril da amêndoa de caju; Joaquim de
Almeida Pinto, pernambucano, que estudou espécies da nossa flora e organizou um
dicionário de botânica; Antônio Gonçalves de Araújo Penna, paulista que se
dedicou a farmácia homeopática, dando-lhe grande impulso e popularidade. Ezequiel
Correia dos Santos, fluminense, dedicou-se ao estudo das plantas medicinais
brasileiras, procurando isolar os princípios ativos e obtendo em 1838, a pereirinha
do pau Pereira, com a colaboração dos farmacêuticos Soullié e Dourado. Joaquim
Correia Mello, paulista, exerceu a profissão em Campinas, onde se popularizou
pelo apelido de
“Quinzinho da botica”, sua vocação era a botânica, estudioso e
modesto, aplicou-se profundamente ao estudo da nossa flora, redigindo
comunicações e memórias que foram publicadas nos anais da famosa “Linnean
Society”, de Londres, da qual era o único sócio correspondente sul americano.
Destaque especial para a farmacêutica da Policlínica do Hospital de São João
Batista em Niteroi, RJ . Sua formatura foi um verdadeiro acontecimento social,
pois fugia aos hábitos dos homens na profissão a época.
Em
maio de 1841 aparecia com grande êxito o “Formulário do Dr. Pedro Luís Napoleão
Chernoviz” e, no ano seguinte, o Dicionário de medicina Popular e Ciências
Assessórias, contendo a descrição das doenças, sintomas e tratamentos, as
receitas para cada doença; as plantas medicinais, as alimentícias, as águas
minerais do Brasil, Portugal e de outros países. Esta obra tornou-se popular
para o efetivo exercício da farmácia durante todo o século passado, e também
era aceita como, bibliografia de base para a reformulação da Farmacopeia
Brasileira de Rodolpho Albino, em 1947.
Foram
sucessivas seis edições do Formulário, chegando a 1908; em 2 volumes de cerca
de 1500 páginas cada um.
A
farmácia no Brasil teve de vencer muitos obstáculos para se firmar enquanto
profissão. Não era só o número de alunos reduzido nas faculdades, mas também a concorrência
profissional dos químicos , botânicos, médicos, curandeiros, benzedeiras,
comerciantes de seco e molhados e principalmente da pouca ou nenhuma
escolaridade da grande maioria da população por vários séculos. Aliado a isso a
necessidade de desenvolvimento científico nunca fez parte da cultura nativa.
O
investimento para exercer a profissão não era pouco, afinal precisava de um
número bastante respeitável de medicamentos simples e compostos, para
efetivamente exercer sua profissão.
Para
saber mais: https://www.bbm.usp.br/node/77
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