quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Hermann von Ihering em São Paulo

Hermann von Ihering

Depois Hermann perdeu seu emprego no Museu Nacional a vida lhe reservava uma grande reviravolta e o levava direto com toda a família para São Paulo.
Nessas circunstâncias foi com prazer que aceitou em 1892 o convite de Cazario Motta para organizar um museu de história natural em São Paulo. O quase bric a brac cognominado de Museu Sertório que encontrou anexo à Comissão Geográfica e Geológica foi se transformando; instalado depois no Museu do Ipiranga, foi o Museu Paulista franqueado ao público em 1895 e ai o Dr Ihering trabalhou com a máxima dedicação pelo constante desenvolvimento das coleções até 1916. Os nove volumes da revista do Museu Paulista contam o que ele fez durante esses 23 anos pela exploração biológica do nosso país e os seus amigos sabem quanto lhe eram caras as coleções,a biblioteca e o jardim botânico. Morando em prédio vizinho ao monumento e não cuidando de outros interesses, raramente saía da área sob sua jurisdição, a não ser em excursões científicas, e estas as realizava principalmente em outra área também sob seu governo, a estação Biológica do Alto da Serra, criação sua, outra testemunha da tenacidade com que procurava vencer a indiferença do governo pelas coisas da nossa natureza.
Ia ao Museu todas as manhãs inspecionar os trabalhos, dar providências, desembaraçar-se em fim dos encargos que não fossem puramente científicos; estes deixava para depois do almoço, porque sabia que, atracado a algum problema mais serio, diria distraidamente “sim” ao porteiro que ao meio dia costumava lembrar-lhe a hora e continuaria escapelando a questão. Depois de uma hora era um tanto perigoso ir consultá-lo porque debruçado sobre o livro, o material de estudo e as suas notas, não respondia a pergunta, mas daí a momentos aproveitava o recém-chegado para lhe expor com toda a clareza as dificuldades que encontrava no problema e porque não aceitava as explicações de fulano, mas preferia as de outro autor, naturalmente com tais e tais outras restrições. Quem é que depois de uma tal pretensão tinha jeito para lhe perguntar coisas terra a terra?
Em todas as suas discussões era sempre muito franco, pouco se lhe dando se quem o ouvia tinha convicções semelhantes ou diametralmente opostas; mas se percebia que a simples demonstração pormenorizada não bastava para convencer, largava a discussão em meio.
Alegrava-o em extremo qualquer achado paleontológico que fosse melhor documento do que o Pithecantropus, sobretudo quando foi das revelações de Ameghino, cujo “homem terciário”, no entanto sempre pos em dúvida.
Com prazer discutia esses assuntos enquanto tivessem por base qualquer materialde estudo; um osso, e que fosse apenas um fragmento, acompanhado de algum molusco ou de outros indícios da idade geológica;
Com simplicidade encarou a trama que em seu redor urdiram afim de alijá-lo da administração do museu. O que mais lhe doía era perceber que sempre o tratavam como estrangeiro, quando por tudo se considerava bom brasileiro e tão digno de o ser como qualquer tanto pelos seus sentimentos como pelos trabalhos, inteiramente devotado a sua pátria adotiva.

Bibliografia:
Almanaque Agrícola Brasileira 1919

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