domingo, 15 de julho de 2012

Drogas Brasileiras segundo o Dr Von Martius


Conferência na Real Academia Bávara de Sciencias 1829.

Myristica sebifera
Há muitos anos está em uso no Pará a Myristica sebifera, uma espécie de noz moscada, para preparar uma espécie de cera das sementes cozidas e espremidas, particularmente, porém do arilo que as envolve, e que conhecemos, da noz moscada genuína indo-oriental pelo nome de macis. Tenho a honra de aqui apresentá-la. Seria de desejar que fossem quimicamente determinadas as relações existentes entre a cerina e a miricina, nesta substância. E utilizada com proveito em velas, e como os frutos pertencem a uma árvore grande e que não é rara é fácil a obtenção de considerável quantidade desta substância. Obtive, pelo Sr Schandelook, substância parecida, conservada em tubos ocos e obtida por maneira análoga de uma outra espécie de Myristica, a Bicuiba ou Uicuiba, que denomino M . Officinalis, e que nasce nas matas de Ilheus, um município da província da Bahia. Os índios e os colonos civilizados daquela região utilizam esta substância, que é de cor amarela e mais fluida, de sabor irritante em virtude de não pequeno teor de resina e óleo essencial, frequentemente em fricções contra dores reumáticas, artríticas e hemorroidárias, e ainda contra cólicas. Pode ser de algum modo considerado Bálsamus Nuciaste natural, e empregada como o mesmo. A preparação pelo indígena é evidenciada pelo modo grosseiro de acondicionamento, em cilindros ocos de gramíneas arboriformes.
A Radix Contrayerva aqui apresentada é a mais frequente espécie da Bahia. Origina-se da Dorstenia brasiliensis e daquela planta, que vulgarizei sob o nome de Doratenia opifera. As raízes de ultima são mais feculentas, porém menos aromáticas que as da D. Brasiliensis e são, de resto, empregadas do mesmo modo que aquelas.
O Brasil não se pode ufanar, com efeito de possuir uma casca de quina que possa cotejar com as melhores espécies peruanas, no entanto pertencem aos excelentes febrífugos varias drogas, que conhecemos como cascas de quina brasileiras. Esta, que tenho a honra de aqui em primeiro lugar apresentar, é a genuína quina do Rio de Janeiro, atribuída erroneamente pelo médico e literato de mérito Manoel Joaquim Henríquez de Paiva na Bahia, e por outros médicos brasileiros, á Coutarea speciosa  Aubl. Porém identificada como Buena Hexandra recentemente pelo meu amigo Dr. Pohl em Viena. Esta árvore cresce, frequentemente, nas selvas ao longo da cordilheira litoral entre o Rio de Janeiro e a Bahia, e de preferência em certa altitude de mil a mil e duzentos pés acima do nível do mar. Sua casca nos vem em pedaços grandes, grossos e enrolados, tem considerável peso específico e se distingue das espécies peruanas de quina, externamente pela grossura, pela superfície desigual e fendida, provida de epiderme acinzentada ou branca amarelada, e ainda interiormente pela coloração castanha mais escura.

Bibliografia: Revista da Flora Medicinal – 1939. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário