quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Farmacopeia Paulista do período colonial

Conta-se que paulistas que desbravavam os sertões fizeram várias descobertas de remédios, observando o instinto dos animais, por exemplo: o adenoropium opiferum foi chamado por eles de raiz de tihu, porque o grande lagarto a procurava, quando estava doente, e o drymys grenatensis casca de anta, porque se diz que a anta, nas mesmas circunstâncias lhe roia a casca. Por causa destes felizes achados, ainda atualmente os habitantes da província de São Paulo passam pelos mais conhecedores dos medicamentos indígenas, e muitas dessas receitas tem a alcunha de remédio dos paulistas.
Casca d'anta
Desde os primeiros tempos da descoberta do Brasil, havia uma grande comunicação com a Índia Oriental, onde no então prevalecia o poder lusitano e daí muitos portugueses transferiram para o Brasil os conhecimentos que tinham adquirido das plantas medicinais, e atribuíssem as mesmas propriedades e dessem o mesmo nome a plantas brasileiras e que achavam analogia com as indús. Quem lembra a imensa multidão de plantas a que os brâmanes atribuem propriedades salutares, não havendo quase nem uma só de que não retiram alguma virtude singular, como se mostra o jardim malabar de Rheedi, tanto menos se deve admirar de que semelhante costume fosse transplantado para o novo mundo, e que a cada planta dotada de alguma virtude se atribuísse alguma relação determinada com o corpo humano e suas diferentes partes.
Além disso, uma ou outra planta indiana foi trazida para o Brasil, que é tida entre as plantas domésticas, como por exemplo, o aloés vulgar, o labla vulgar, o mangericão a artocarpus integrifólia.
Outra raiz para muitos fármacos brasileiros é a de muitos pretos africanos que tinham de aprender a curar seus males e por isso atribuíam por semelhança entre a flora deles e a brasileira seus usos. Assim, muitas plantas semelhantes e originais de ambos os continentes, como o ageratum conyzoides, a valteria americana, o tiaridium indicum, a cássia ocidentalis, fossem adotadas para uso, e algumas poucas, ou de propósito ou por acaso fossem importadas da África.
Reunidas todas estas plantas terá o médico a sua disposição, como que legiões inteiras preparadas para combater as moléstias, e até mesmo será tal a superabundância de remédios, e os seus diversos grãos, que antes por excesso que por falta terá ele que pensar o que usar.
Como sabemos na Europa muitos médicos rejeitam esses medicamentos, julgando que muitas de suas virtudes são imaginárias, e que com poucos se podem conseguir os mesmo fins, mas no Brasil, prefiro aconselhar aos médicos brasileiros a que usem sua flora nacional porque da eficácia desses remédios tiveram muitas provas, e se chegaram a convencer que meios aparentemente fracos, se aplicado com o melhor resultado para restabelecimento da saúde.


Bibliografia: Systema de Matéria Médica Vegetal – Car. Fred. Phil de Martius - 1854 

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