Conta-se que paulistas
que desbravavam os sertões fizeram várias descobertas de remédios, observando o
instinto dos animais, por exemplo: o adenoropium opiferum foi chamado por eles
de raiz de tihu, porque o grande lagarto a procurava, quando estava doente, e o
drymys grenatensis casca de anta, porque se diz que a anta, nas mesmas
circunstâncias lhe roia a casca. Por causa destes felizes achados, ainda
atualmente os habitantes da província de São Paulo passam pelos mais
conhecedores dos medicamentos indígenas, e muitas dessas receitas tem a alcunha
de remédio dos paulistas.
Casca d'anta |
Desde os
primeiros tempos da descoberta do Brasil, havia uma grande comunicação com a Índia
Oriental, onde no então prevalecia o poder lusitano e daí muitos portugueses
transferiram para o Brasil os conhecimentos que tinham adquirido das plantas
medicinais, e atribuíssem as mesmas propriedades e dessem o mesmo nome a
plantas brasileiras e que achavam analogia com as indús. Quem lembra a imensa
multidão de plantas a que os brâmanes atribuem propriedades salutares, não
havendo quase nem uma só de que não retiram alguma virtude singular, como se
mostra o jardim malabar de Rheedi, tanto menos se deve admirar de que
semelhante costume fosse transplantado para o novo mundo, e que a cada planta
dotada de alguma virtude se atribuísse alguma relação determinada com o corpo
humano e suas diferentes partes.
Além disso,
uma ou outra planta indiana foi trazida para o Brasil, que é tida entre as
plantas domésticas, como por exemplo, o aloés vulgar, o labla vulgar, o
mangericão a artocarpus integrifólia.
Outra raiz para
muitos fármacos brasileiros é a de muitos pretos africanos que tinham de
aprender a curar seus males e por isso atribuíam por semelhança entre a flora
deles e a brasileira seus usos. Assim, muitas plantas semelhantes e originais
de ambos os continentes, como o ageratum conyzoides, a valteria americana, o
tiaridium indicum, a cássia ocidentalis, fossem adotadas para uso, e algumas
poucas, ou de propósito ou por acaso fossem importadas da África.
Reunidas todas
estas plantas terá o médico a sua disposição, como que legiões inteiras preparadas
para combater as moléstias, e até mesmo será tal a superabundância de remédios,
e os seus diversos grãos, que antes por excesso que por falta terá ele que
pensar o que usar.
Como sabemos
na Europa muitos médicos rejeitam esses medicamentos, julgando que muitas de
suas virtudes são imaginárias, e que com poucos se podem conseguir os mesmo fins,
mas no Brasil, prefiro aconselhar aos médicos brasileiros a que usem sua flora
nacional porque da eficácia desses remédios tiveram muitas provas, e se
chegaram a convencer que meios aparentemente fracos, se aplicado com o melhor
resultado para restabelecimento da saúde.
Bibliografia:
Systema de Matéria Médica Vegetal – Car. Fred. Phil de Martius - 1854
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