terça-feira, 23 de setembro de 2014

Cecropia hololeuca, Miq

Neste gênero acham-se compreendidas as plantas mais conhecidas e vulgarizadas no Brasil. Os vegetais que dele fazem parte se distinguem a primeira vista de todos os outros, não só pelo porte, como pelo aspecto que oferecem pelo que o povo empiricamente os aponta no meio de grande variedade de plantas.
Cecropia hololeuca ; Árvore da preguiça
Algumas das espécies destas plantas que pertencem ao gênero Cecropia podem ser distinguidas de longe, por entre a mata, não só pelo tamanho de suas folhas como pela cor esbranquiçada ou prateada que elas possuem.
Nas matas que circundam as montanhas do Corcovado, da Tijuca, de Jacarepaguá. Nota-se entre a bela e verdejante vegetação um ponto que sobressai a todas as outras plantas, caracterizando por maculas brancas de neve, que ao longe se assemelham a uma reunião de pequenas flores e que põem em dúvida o observador que ainda não se ache bem familiarizado com esses vegetais, se é ou não uma planta em inflorescência.
Caso o observador veja por meio de um binóculo ou que se aproxime da mata, reconhecerá imediatamente que as flores de cor branca não passam de folhas da Imbahiba branca ou do mato.
É uma grande árvore que em geral alcança 30 metros mais ou menos de altura, com o tronco de 40 a 60cm de diâmetro, ereto, cilíndrico, marcado de baixo a cima com anéis muito espaçados, tendo a casca de cor acinzentada e a entrecasca avermelhada; a madeira é mais ou menos dura, seca e amarela esbranquiçada.
As folhas são grandes, profundamente divididas em 6 a 10 lobulos, oblongos-obovados e no ápice arredondados, densamente cobertos de um tomento velutineo, acizento-prateado, praticamente sobre as nervuras; elas são coriáceas longamente pecioladas, com o pecíolo coberto de pelos esbranquiçados.
O limbo destas folhas tem 50-60 centímetros de diâmetro e os lóbulos inferiores 20 a 25 de comprimento sobre 8 a 10 de largura. Os superiores tem 30 a 40 centímetros de comprimento sobre 15 a 18 de largura; a espata que envolve os renovos terminais é grande e acha-se coberta de longos pelos sedosos de cor branca prateada.
Verso da folha de Cecrópia em maio
Os renovos são avermelhados ou de cor carmesim ou então prateados com um lindo brilho metálico. A inflorescência é axilar amentácea, fasciculados, com os receptáculos da grossura de uma pequena banana e revestidos de um cotanilho fino e de cor branca.
Este vegetal é considerado como útil para indicar a qualidade do terreno, visto ser opinião do povo do interior que ele só vegeta em boa terra; é encontrado quase sempre na proximidade dos riachos ou nas partes altas.
A cor branca das folhas é mais intensa no mês de Maio.
As cascas do caule colhidas de vários exemplares que cresciam nas matas do Corcovado e de Jacarepaguá tinham um centímetro, eram duras, lenhosas, com a epiderme de cor cinzenta e a entrecasca vermelha intensa, sem aroma e de sabor fracamente stiptico.
Submetida a vários processos analíticos destilatórios com o fim de pesquisar produtos voláteis, não conseguimos obter nenhum. O principal glicosídeo encontrado chama-se Cecropina é um alcaloide que cristaliza em agulhas microscópicas, transparentes, solúveis na água, mais a quente do que a frio. É muito solúvel em álcool de 36º e no de 40ºC; insolúvel no éter; a solução aquosa possui reação alcalina.
Tratando-se uma pequena quantidade da Cecropina por algumas gotas de ácido sulfúrico concentrado, obtém-se uma coloração purpura que passa ao vermelho sangue, do róseo ao violáceo nos bordos, aos pardacentos descorando-se por fim.
A Cecropina foi extraída das cascas frescas do caule reduzidas a pó grosso e misturadas com elite de cal; a mistura é secada em banho-maria e o resíduo calcário seco é pulverizado e depois esgotado a quente pelo álcool absoluto.
A Ambaina é um glicosídeo que cristaliza em pequenas agulhas prismáticas, transparentes, de sabor ligeiramente picante e acre; Pode ser obtido das cascas frescas. Depois de esgotado o extrato éter sulfúrico, é dissolvido na água destilada e a solução aquosa, depois de filtrada, é evaporada a banho-maria até a secura.
É planta importante no tratamento das leucorréias, nas diarreias e na menstruarão copiosa, o suco é aplicado simples ou misturado com água, as colheres das de sopa de hora em hora.
Nas hemoptises rebeldes é empregado o suco simples as colheres de sopa de meia em meia hora até que cessem.
A massa branca que é encontrada no caule nas proximidades do rebento terminal, é empregada para curativo dos cancros e das úlceras rebeldes.
Frutos de Cecrópia
O cozimento das cascas serve para banhar as úlceras sifilíticas.
Com a ponta de Embaíba, prepara-se pela fervura, com água e açúcar, um xarope cujo emprego é considerado pelo povo como de muitas vantagens na tísica, nas bronquites crônicas, na asma e na coqueluche.
O cozimento de folhas frescas é aplicado em banhos para curar úlceras gangrenosas e certas afecções da pele.
Os frutos frescos, banana de preguiça, servem para a confecção de xarope, que é considerado muito eficaz contra a asma e a coqueluche.
O carvão da madeira é considerado pelo povo um ótimo dentifrício e de muita utilidade para o curativo das feridas.


Bibliografia: Peckolt, Gustavo e Theodoro – Plantas Medicinais e Úteis do Brasil – 1888-1892

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