quarta-feira, 13 de abril de 2016

A teoria na prática da beladona

Qual a receita pode curar hidropisia, pensa o Dr Withering? Tenho de experimentar a digitális em meus doentes, em tempo próprio comunicarei os resultados. O médico fechou a porta do consultório sentou-se em sua mesa e se colocou a pensar: Campainha de defunto, a velha digitális! Evidentemente uma planta da família da beladona ou do tabaco. Deve exercer forte efeito no corpo. Cura Hidropisia? Será curável a hidropsia? Tenho de verificar o ponto. Vou dá-la ao velho Nichols para ver o que acontece. Ele está cheio de água perto do fim. Mas quanto devo dar – e como?...
 flores de Digitális
Poucos doentes pagantes procuravam o Dr. Withering, mas não pagantes tinha –os ele as dúzias, Aos quais tratava sem pensar na conta – e entre esses havia alguns hidrópicos. Withering resolveu experimentar a digitális.
E como a digitális agiu prontamente! Com poucas doses de folhas maceradas em água vários doentes “secaram”. Uma drenagem perfeita, do peito, dos rins, do ventre! Efeito realmente magico – mas, infortunadamente, a cura era extraordinariamente irregular.
Withering não sabia como prescrever a digitális. Dar um grão, uma onça, uma libra? Quente ou fria? Duas, três ou quantas vezes por dia? Antes ou depois das refeições? Pòr quanto tempo?
E ninguém podia responder a essas perguntas, nem a planta nasce com bula dentro das campanulas. Withering começou a experimentar e suas experiências não formavam sentido. Com muito pequena dose o velho Nichols sarou.
Já a senhora Twombley só sentiu os efeitos com doses duplas. E no caso do jovem Smith o efeito foi nulo...
E os efeitos imediatos da digitális eram aterrorizantes.
As vezes fracos mas muitas vezes violentíssimos, com vômitos, desarranjo intestinal, dor de cabeça, manchas na vista e outros sintomas de alarmar.
Os doentes queixavam-se. “ O Dr Withering quase matou meu pobre marido”, dizia uma mulher. “A droga do doutor quase me leva para o outro mundo”, dizia outra. E a terceira: “Ele que fique com o tal remédio, que eu fico com a minha barriga d’água”.
Withering sentia-se profundamente perturbado. A digitalis operava efeitos, sobre esse ponto não havia duvida. Mas com que irregularidade! Ele queria curar aqueles pobres doentes mas esbarrava em seu juramento de medico de nunca por em jogo a vida humana. A digitális que ele aplicara ainda não havia morto ninguém, mas podia matar...


Bibliografia: Mágica em Garrafas, A história dos Grandes Medicamentos – Milton Silverman – tradução de Monteiro Lobato – Cia Editora Nacional 1943

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