terça-feira, 19 de abril de 2016

De volta a Digitalis

Em 1775 Birmingham já estava a caminho de tornar-se a maior cidade inglesa depois de Londres. Fabricas trabalhavam dia e noite, o comercio prosperava, o mundo inteiro queria fivelas, os botões, os brinquedos, as armas de Birmingham. A Europa estava em paz e a vida era excelente. Só umas leves perturbações lá pelas colônias inglesas da América.
Tudo correu bem para Withering na sua mudança com mulher e filha pra cidade atrás das cinco mil libras que ganhava o médico que deveria substituir.
Na sua chegada já foi nomeado médico do general Hospital e fez amigos de valor no mundo da ciência. Seu predecessor, o saudoso Dr. Small, era médico de grande popularidade e Withering herdou a sua grande clientela.

Os clientes se sucediam em seu consultório, e clientes pagantes. O dinheiro começou a encher-lhe a gaveta. Folgas para o cultivo das velhas manias escasseavam, mas ele soube torna-las mais produtivas. Seu interesse de amador de historia natural encaminhou-se para a mineralogia, e a antiga aversão a botânica já era coisa do passado. Por fim deu ele a público uma monumental obra – A Botanical Arrangement of all the Vegetables Growing in Great Britain.
A primeira obra completa sobre plantas da Gra Bretanha iria ser por meio século o melhor livro de botânica existente. Serviu para criar uma verdadeira mania por flores, como hoje há a mania filatélica, fotográfica ou aeronáutica.
O popular Dr Withering foi logo aceito como membro da Lunar Society, a qual possuía um magnífico elenco de sócios como Jamie Watt, o idealizador da infernal maquina a vapor, William Murdoch, que queria iluminar as cidades, a gás; Watt;o cerâmico entre outros. Da Luna Society também fazia parte do Dr Erasmus Darwing, avô de Clarles Darwing, que muito ajudou Withering.
No Hospital local Withering fez amizade com o diretor, o Dr Jonh Ash, o qual certo dia lhe perguntou se fizera estudos com a digitalis.
- Sim fiz algumas experiências anos atrás, respondeu Withering. Pareceu-me planta perigosa, das que metem medo aos clientes. Por que pergunta?
-Mera curiosidade. Não guardou notas das suas observações?
-Hum...Não tenho o habito de notas. Usei a digitalis nos meus doentes pobres – e eram tantos que não me sobrava tempo para notas.
- Foi pena, suspirou Ash, Eu gostaria de coteja-las com isto- e passou a Withering uma carta que este leu rapidamente. Por Deus! Que atrevidos são estes charlatães! Imagine – a curarem hidropisia com digitalis depois que todos os medicamentos condenaram o tratamento! Espere, continuou Ash, e note quem é o doente. Trata-se do famoso Dr Cawlen, reitor de Brazen Nose College, de Oxford. Um homem destes não se deixaria levar por nenhum charlatão. Meu caro Withering, acho que deveria voltar ao estudo da digitalis.
Withering pôs-se de pé.
-Que coisa curiosa! Era exatamente o que eu andava pensando...
E voltou a digitalis. Voltou ás folhas magicas, ás náuseas e vômitos dos doentes, ao miraculoso ressecamento do organismo através dos rins, aos temores e vacilações de Stafford.
Um ponto no caso do reitor de Brazen Nose era particularmente desnorteante. Cawley havia tomado uma tremenda dose de digitalis, doze vezes maior do que o seu organismo podia suportar e em vez de morrer lá estava curado!
Aquilo parecia misterioso ou sem nenhum nexo, a não ser que... a não ser que a digitalis não fosse tão perigosa como tantos pensavam. Withering foi para o seu gabinete e chamou a esposa.
-Helena, sabe o que vou fazer? Voltar de novo zo estudo da digitalis
Helena ergueu os olhos para o forro e murmurou:
-Outra vez, Deus do ceu!...

Bibliografia: Mágica em Garrafas, A história dos Grandes Medicamentos – Milton Silverman – tradução de Monteiro Lobato – Cia Editora Nacional 1943

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