Em 1775 Birmingham já estava a caminho de tornar-se a
maior cidade inglesa depois de Londres. Fabricas trabalhavam dia e noite, o
comercio prosperava, o mundo inteiro queria fivelas, os botões, os brinquedos,
as armas de Birmingham. A Europa estava em paz e a vida era excelente. Só umas
leves perturbações lá pelas colônias inglesas da América.
Tudo correu bem para Withering na sua mudança com mulher
e filha pra cidade atrás das cinco mil libras que ganhava o médico que deveria
substituir.
Na sua chegada já foi nomeado médico do general Hospital
e fez amigos de valor no mundo da ciência. Seu predecessor, o saudoso Dr.
Small, era médico de grande popularidade e Withering herdou a sua grande
clientela.
Os clientes se sucediam em seu consultório, e clientes
pagantes. O dinheiro começou a encher-lhe a gaveta. Folgas para o cultivo das
velhas manias escasseavam, mas ele soube torna-las mais produtivas. Seu
interesse de amador de historia natural encaminhou-se para a mineralogia, e a
antiga aversão a botânica já era coisa do passado. Por fim deu ele a público
uma monumental obra – A Botanical Arrangement of all the Vegetables Growing in
Great Britain.
A primeira obra completa sobre plantas da Gra Bretanha
iria ser por meio século o melhor livro de botânica existente. Serviu para
criar uma verdadeira mania por flores, como hoje há a mania filatélica, fotográfica
ou aeronáutica.
O popular Dr Withering foi logo aceito como membro da
Lunar Society, a qual possuía um magnífico elenco de sócios como Jamie Watt, o idealizador
da infernal maquina a vapor, William Murdoch, que queria iluminar as cidades, a
gás; Watt;o cerâmico entre outros. Da Luna Society também fazia parte do Dr
Erasmus Darwing, avô de Clarles Darwing, que muito ajudou Withering.
No Hospital local Withering fez amizade com o diretor, o
Dr Jonh Ash, o qual certo dia lhe perguntou se fizera estudos com a digitalis.
- Sim fiz algumas experiências anos atrás, respondeu
Withering. Pareceu-me planta perigosa, das que metem medo aos clientes. Por que
pergunta?
-Mera curiosidade. Não guardou notas das suas
observações?
-Hum...Não tenho o habito de notas. Usei a digitalis nos
meus doentes pobres – e eram tantos que não me sobrava tempo para notas.
- Foi pena, suspirou Ash, Eu gostaria de coteja-las com
isto- e passou a Withering uma carta que este leu rapidamente. Por Deus! Que
atrevidos são estes charlatães! Imagine – a curarem hidropisia com digitalis
depois que todos os medicamentos condenaram o tratamento! Espere, continuou
Ash, e note quem é o doente. Trata-se do famoso Dr Cawlen, reitor de Brazen
Nose College, de Oxford. Um homem destes não se deixaria levar por nenhum
charlatão. Meu caro Withering, acho que deveria voltar ao estudo da digitalis.
Withering pôs-se de pé.
-Que coisa curiosa! Era exatamente o que eu andava
pensando...
E voltou a digitalis. Voltou ás folhas magicas, ás náuseas
e vômitos dos doentes, ao miraculoso ressecamento do organismo através dos
rins, aos temores e vacilações de Stafford.
Um ponto no caso do reitor de Brazen Nose era
particularmente desnorteante. Cawley havia tomado uma tremenda dose de
digitalis, doze vezes maior do que o seu organismo podia suportar e em vez de
morrer lá estava curado!
Aquilo parecia misterioso ou sem nenhum nexo, a não ser
que... a não ser que a digitalis não fosse tão perigosa como tantos pensavam.
Withering foi para o seu gabinete e chamou a esposa.
-Helena, sabe o que vou fazer? Voltar de novo zo estudo
da digitalis
Helena ergueu os olhos para o forro e murmurou:
-Outra vez, Deus do ceu!...
Bibliografia:
Mágica em Garrafas, A história dos Grandes Medicamentos – Milton Silverman –
tradução de Monteiro Lobato – Cia Editora Nacional 1943.
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