Dr Withering estava completamente errado quanto a maneira
de reagir da digitalis no organismo humano. A digitális poderia ser
terrivelmente perigosa e mesmo letal, a dose para cada organismo era vital.
Havia no hospital muito hidrópicos que se submeteriam a
qualquer tratamento - e não faltava digitális.
Anos levou Withering para perceber que o pivô da questão
era o complicadíssimo problema da dosagem na medicina.
A ciência não estabelecera nenhuma dosagem-padrão para a digitális. O Dr Cawley resistira a uma dose cavalar porque tinha uma
resistência orgânica de exceção, mas outros organismos só toleravam doses
mínimas. E Withering pacientemente foi aprendendo que cada caso é um caso
especial – que cada doente tem um limite pessoal de aceitação da digitális.
Mas como acertar com esse limite? Withering muito ponderou
naquilo, e muito debateu o ponto com seus amigos da Lunar Society.
- Meu sistema está sendo este, dizia ele. Começo em cada
caso com uma dose muito pequena e vou aumentando até obter vômitos e desarranjo
– e assim descubro o limite de cada doente. E daí por diante o que tenho a
fazer é ficar em doses levemente abaixo desse limite. E a hidropisia vai
embora.
Os lunaristas impressionavam-se.
- Por Deus! Exclamou Jamie Watt. Acho grosseiro esse modo
de aproximação que vocês médicos usam.
Mas os médicos de Birmingham mostraram-se um pouco menos
exigentes. Estavam inclinados a crer em Withering, mas onde as provas?
Withering as tinha, e abundantes. Verificara enfim a causa dos seus insucessos
em Stafford. Dera muita digitális aos doentes de lá ou muito pouca – e também
dera por muito tempo. Mostrava-se agora mais cauteloso, e de fato curava os
doentes. E tudo ia anotado.
Erasmus Darwin, um dos seus mais obstinados oponentes, conservou-se
de pé atrás até o dia em que Withering salvou um doente que ele havia
desenganado.
Em 1775, o seu primeiro ano de Birmingham, Wthering
lançou no livro de notas: 1 caso tratado, 1 caso curado. No seguinte escreveu:
4 casos tratados e todos curados. (E nesse ano também notou, como coisa
peculiar, que andava com tosse e se sentia cansado no fim do dia).
Em 1777: 8 casos tratados, 2 curados, 2 aliviados – 4
falhas. (Concientemente ele experimentara a digitális tanto na tuberculose como
na hidropsia e com escrúpulo anotava os insucessos).
Em 1778 escreveu; 5 casos tratados, 1 curado, 1 aliviado
– 3 falhas. (Teimosamente ele continuava a misturar tuberculose com
hidropisia).
Em 1779: escolheu melhor os pacientes e em 6 casos
tratados obteve 5 curas e 1 alivio.
Withering ainda não estava suficientemente seguro para
apresentar uma comunicação científica, mas deixou que um amigo levasse o caso á
imponente Sociedade de Medicina de Edimburgo. Os médicos escoceses admiraram-se
dos novos milagres da planta, aplaudiram o colega de Birmingham e planejaram
restaurar a digitális na farmacopeia de Edimburgo.
Bibliografia:
Mágica em Garrafas, A história dos Grandes Medicamentos – Milton Silverman –
tradução de Monteiro Lobato – Cia Editora Nacional 1943.
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