Nada é mais espantoso que a ignorância na medicina de
1800 sobre a verdadeira substancia da descoberta de Withering; repetia absurdos
por ele destruídos. Withering reconhecera com a maior certeza os efeitos da digitális e provara do modo mais completo que era nula a sua ação na tuberculose.
Proclamara com vigor que a digitális tinha o poder de ativar o coração em grau nunca observado com nenhum outro
medicamento. Mas os clínicos só acreditavam no que queriam acreditar. Mas
os clínicos só acreditavam no que queriam acreditar. Como necessitassem de
remédio para a tuberculose, admitiam o efeito da digitalis e nisso ficavam. E
iludiam-se a si mesmos dizendo: “A tuberculose será daqui por diante curada tão
regularmente com a digitális como a malária o é com a casca peruviana.”
Impossível uma situação mais estupida e desesperante. O
específico da tuberculose estava encontrado – e nem um só doente sarava!...
A digitális também continuava pessimamente usada na
hidropisia. Withering explicara muito bem o modo correto da aplicação, mas já
estava morto e ninguém se lembrava de ler o que ele havia escrito.
E, ainda mais, Hahnemann o fundador da homeopatia,
repeliu o livro de Withering, ao afirmar que “além da digitális produzir dores
de cabeça, tontura e mais coisas a sua utilidade era muito limitada”. E heróis da
medicina, como Laennec, descobridor do estetoscópio e Corvisat, médico de
Napoleão, nem sequer admitiam que a digitális fosse boa para os hidrópicos.
Por outro lado havia os fanáticos na eficácia,
quando não viam fazer efeito, entravam pelo caminho das doses cavalares – e aí
dos pacientes!
E foi assim que trinta anos após á morte de Withering a digitális teve de novo de ir-se recolhendo aos bastidores em virtude de miúdas ciumeiras
profissionais, do uso da ignorância de muitos médicos. “A digitális devia curar a tuberculose, mas não o fez”, era o epitáfio que a esperava. Mas
nesse momento acudiram-lhe salvadores. Não médicos de renome. Vinham dos laboratórios
e clinicas, e terçavam as armas da evidencia cientifica. A marcha desse
exército foi exasperadamente morosa, mas continua. Os novos paladinos
colecionavam fatos e contra fatos não valem argumentos.
A digitális cura a tuberculose? Atentai na lista dos
doentes tratados. Milhares tiveram esse tratamento e que sucedeu? Morreram
todos. De que? De tuberculose
É a digitális um tratamento perigoso para hidropisia?
Não quando usada com discernimento, isto é, com as
dosagens bem calculadas para cada caso individual, como Withering acentuou.
Bibliografia:
Mágica em Garrafas, A história dos Grandes Medicamentos – Milton Silverman –
tradução de Monteiro Lobato – Cia Editora Nacional 1943.
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