A notícia da cura daquela terrível doença começou a se
espalhar e, de boca em boca, lá se foram os detalhes do tratamento da Escócia
para a Inglaterra. O número de hidrópicos curados aumentou. Foi quando
Withering descobriu que outro médico andava procurando reclamar para si a
gloria daquele triunfo. E quem era ele? Justamente o homem que tanto o ajudara
até ali – Dr Erasmus Darwin...
Erasmus Darwin avô de Charles Darwin |
Nada mais absurdo, mas era a pura verdade. Um filho desse
médico de nome Charles, havia morrido dois anos antes, aos vinte anos de idade,
deixando uma dissertação sobre a hidropisia, a qual, depois de sua morte, veio
a publico por agencia do Dr. Erasmus. No apêndice da obra este médico enfileirou
nove casos de hidropisia curados com a digitalis – mas não houve menção no nome
de Withering...
Withering assombrou-se. Naquele folheto dos dois Darwins
aparecia em escrito a primeira menção
das curas da hidropisia pela digitalis, e o primeiro nome da lista era o do tal
hidrópico desenganado pelo Dr Erasmus e que ele salvara!
O abalo em Birmingham foi grande; toda gente sabia que a
obra de winthering e outro procurava lesa-lo, apresentando-a ao mundo como sua
e do filho.
E que poderia o lesado fazer? Exigir reparação?
Desafiá-lo para um duelo? Gritar “Pega Ladrão?”
Durante meses viveu Withering esmagado pelo incompreensível procedimento do
seu colega, mas continuou a acumular mais dados sobre o assunto e a tratar de
novos doentes. Isso, com a continuação dos seus estudos de mineralogia e de botânica
geral. Sua tosse não passava antes se agravava – e por fim ele próprio se
declarou tuberculoso.
Foi piorando. Apesar de moço ainda, apenas entrando na
casa dos quarenta anos, teve de ir abandonando a clinica. Em 1785, aos 44 anos
de idade, já com dez anos de observação da digitalis, achou que era tempo de
publicar as suas conclusões.
E era tempo realmente, pois muitos médicos prosseguiam no
uso da digitális para a tuberculose, a escrófula e muitas outras doenças em que
Withering verificara o seu nenhum efeito. E as aplicações na Hidropisia não se
orientavam por nenhum seguro critério de dosagem.
O livro de Withering saiou sob o título de Noticia sobre a Luva-de-raposa e alguns de
seus usos médicos, com observação práticas sobre a hidropisia e outras doenças.
Era obra da maior importância e que ficou como marco assinalador duma das
grandes descobertas medicas de todos os tempos.
A publicação desses estudos trouxeram grandes honras para
o autor: admissão na Royal Society, diploma da Sociedade Médica de Londres, e
da Linnaean Society – e tornou-o um dos mais ricos e proeminentes médicos da
Inglaterra.
Mas honras e riquezas nada valem contra a tuberculose.
Por onze anos lutou Withering contra aquele mal, vindo a retirar-se da vida
ativa em 1796, aos 55 anos. Três anos mais tarde falecia.
No anos de sua morte quase todos os jornais médicos trouxeram
notas sobre o emprego da digitalis na cura, não da hidropisia, mas da
tuberculose! O mundo médico errara o alvo...
Bibliografia:
Mágica em Garrafas, A história dos Grandes Medicamentos – Milton Silverman –
tradução de Monteiro Lobato – Cia Editora Nacional 1943.
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