terça-feira, 3 de maio de 2016

A tuberculose abrevia o caminho da cura da hidropisia.

A notícia da cura daquela terrível doença começou a se espalhar e, de boca em boca, lá se foram os detalhes do tratamento da Escócia para a Inglaterra. O número de hidrópicos curados aumentou. Foi quando Withering descobriu que outro médico andava procurando reclamar para si a gloria daquele triunfo. E quem era ele? Justamente o homem que tanto o ajudara até ali – Dr Erasmus Darwin...
Erasmus Darwin avô de Charles Darwin
Nada mais absurdo, mas era a pura verdade. Um filho desse médico de nome Charles, havia morrido dois anos antes, aos vinte anos de idade, deixando uma dissertação sobre a hidropisia, a qual, depois de sua morte, veio a publico por agencia do Dr. Erasmus. No apêndice da obra este médico enfileirou nove casos de hidropisia curados com a digitalis – mas não houve menção no nome de Withering...
Withering assombrou-se. Naquele folheto dos dois Darwins aparecia em escrito a primeira  menção das curas da hidropisia pela digitalis, e o primeiro nome da lista era o do tal hidrópico desenganado pelo Dr Erasmus e que ele salvara!
O abalo em Birmingham foi grande; toda gente sabia que a obra de winthering e outro procurava lesa-lo, apresentando-a ao mundo como sua e do filho.
E que poderia o lesado fazer? Exigir reparação? Desafiá-lo para um duelo? Gritar “Pega Ladrão?”
Durante meses viveu Withering  esmagado pelo incompreensível procedimento do seu colega, mas continuou a acumular mais dados sobre o assunto e a tratar de novos doentes. Isso, com a continuação dos seus estudos de mineralogia e de botânica geral. Sua tosse não passava antes se agravava – e por fim ele próprio se declarou tuberculoso.
Foi piorando. Apesar de moço ainda, apenas entrando na casa dos quarenta anos, teve de ir abandonando a clinica. Em 1785, aos 44 anos de idade, já com dez anos de observação da digitalis, achou que era tempo de publicar as suas conclusões.
E era tempo realmente, pois muitos médicos prosseguiam no uso da digitális para a tuberculose, a escrófula e muitas outras doenças em que Withering verificara o seu nenhum efeito. E as aplicações na Hidropisia não se orientavam por nenhum seguro critério de dosagem.
O livro de Withering saiou sob o título de Noticia sobre a Luva-de-raposa e alguns de seus usos médicos, com observação práticas sobre a hidropisia e outras doenças. Era obra da maior importância e que ficou como marco assinalador duma das grandes descobertas medicas de todos os tempos.
A publicação desses estudos trouxeram grandes honras para o autor: admissão na Royal Society, diploma da Sociedade Médica de Londres, e da Linnaean Society – e tornou-o um dos mais ricos e proeminentes médicos da Inglaterra.
Mas honras e riquezas nada valem contra a tuberculose. Por onze anos lutou Withering contra aquele mal, vindo a retirar-se da vida ativa em 1796, aos 55 anos. Três anos mais tarde falecia.
No anos de sua morte quase todos os jornais médicos trouxeram notas sobre o emprego da digitalis na cura, não da hidropisia, mas da tuberculose! O mundo médico errara o alvo...


Bibliografia: Mágica em Garrafas, A história dos Grandes Medicamentos – Milton Silverman – tradução de Monteiro Lobato – Cia Editora Nacional 1943

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