Esses homens de ciência e outros que a eles se juntaram
pareciam ter resposta para todas as perguntas. Tomando as folhas da digitalis
fizeram o que o Sertuerner, Pelletier e Caventou haviam feito para o opio e a
quina – delas extraíram o principio operante, a digitalina, como denominou
Nativelle, isso meses antes do rompimento da guerra franco-prussiana.
Alguns anos mais tarde a coisa foi novamente descoberta
na Alemanha pelo famoso Schmiedeberg o qual, talvez empolgado pela hestoria da
guerra, esqueceu a digitalina do francês
Nativelle e lançou a digitoxin. Não era alcaloide como a morfina e a
quinina, mas aparentemente um produto complexo em que entrava um açúcar.
A divergência entre a prática dos médicos e a exatidão
científica ia aos poucos desaparecendo. As doses cavalares e a aplicação da
digitalis na tuberculose foram cessando. As novas gerações médicas mostravam-se
mais científicas.
-Muito bem, diziam esses doutores. Os cientistas provaram
que a digitalis não cura a tuberculose, mas a cura a hidropisia. Resta que nos
digam o como dessa cura. Que faz a digitalis para o coração? Por que certas
criaturas ficam hidrópicas? Que tem a ver com isso o coração? Por que não cura
a digitalis todos os hidrópicos?
- Hidropicos? Doentes? Nós nada temos com isso,
respondiam os homens de laboratório. Não é da nossa repartição. Mas atentem no
que encontamos a propósito da constituição da digitalis.
Os médicos desanimavam. A eles não interessavam os
problemas de química pura. Só queriam curar os doentes. Já os químicos puros
não interessavam os doentes. Só queriam resolver problemas de química pura – e experimentavam
em ratos e rãs e provetes. Fazia-se mister o aparecimento dum grande homem que
harmonizasse os dois campos.
O primeiro grande homem a aparecer foi Arthur Cushny, que
fora da Escócia para a Universidade de Michigan ensinar matéria médica e depois
se passara para a Universidade de Londres. Cushny sabia lidar com a digitalis
no laboratório mas não ignorava que a função da medicina é curar homens e não
rãs.
O segundo foi o bom Dr. Wenckebach, a princípio um
obscuro médico rural na Holanda e depois medico de uma família importante. E,
por fim, o terceiro fpoi o escocês James Mackenzie, no começo muito contente
com a sua habilidade de médico rural e depois atrapalhado com a fama de “maior
especialista vivo” em doenças cardíacas. Mackenzie era de fato um grande
clinico que desenvolvera o seu próprio diagnóstico, o seu próprio tratamento, a
sua própria cirurgia, a sua própria obstetrícia e a sua própria anestesia – e que
realmente estudara o funcionamento do coração.
Estes três sábios mostraram que a hidropisia provinha
duma estranha doença dos músculos superiores do coração doença que enfraquecia
os movimentos dessa bomba de bombear sangue. Não realizando o bombeamento coma
força necessária, a circulação do sangue demorava e o soro ia ficando pelo
caminho, nos membros, no peito, no ventre. Era o que a ciência de hoje chama “filtração
auricular”. Para esse distúrbio a digitalis trazia alivio imediato e muitas
vezes cura, afastando a morte inevitável. Mas a digitalis só agia assim quando administrada
com proposito, e não as cegas como faziam a maior parte dos doutores.
Bibliografia:
Mágica em Garrafas, A história dos Grandes Medicamentos – Milton Silverman –
tradução de Monteiro Lobato – Cia Editora Nacional 1943.
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