domingo, 15 de maio de 2016

Homens de ciências isolam princípios ativos da digitalis.

Esses homens de ciência e outros que a eles se juntaram pareciam ter resposta para todas as perguntas. Tomando as folhas da digitalis fizeram o que o Sertuerner, Pelletier e Caventou haviam feito para o opio e a quina – delas extraíram o principio operante, a digitalina, como denominou Nativelle, isso meses antes do rompimento da guerra franco-prussiana.

Alguns anos mais tarde a coisa foi novamente descoberta na Alemanha pelo famoso Schmiedeberg o qual, talvez empolgado pela hestoria da guerra, esqueceu a digitalina do francês  Nativelle e lançou a digitoxin. Não era alcaloide como a morfina e a quinina, mas aparentemente um produto complexo em que entrava um açúcar.
A divergência entre a prática dos médicos e a exatidão científica ia aos poucos desaparecendo. As doses cavalares e a aplicação da digitalis na tuberculose foram cessando. As novas gerações médicas mostravam-se mais científicas.
-Muito bem, diziam esses doutores. Os cientistas provaram que a digitalis não cura a tuberculose, mas a cura a hidropisia. Resta que nos digam o como dessa cura. Que faz a digitalis para o coração? Por que certas criaturas ficam hidrópicas? Que tem a ver com isso o coração? Por que não cura a digitalis todos os hidrópicos?
- Hidropicos? Doentes? Nós nada temos com isso, respondiam os homens de laboratório. Não é da nossa repartição. Mas atentem no que encontamos a propósito da constituição da digitalis.
Os médicos desanimavam. A eles não interessavam os problemas de química pura. Só queriam curar os doentes. Já os químicos puros não interessavam os doentes. Só queriam resolver problemas de química pura – e experimentavam em ratos e rãs e provetes. Fazia-se mister o aparecimento dum grande homem que harmonizasse os dois campos.
O primeiro grande homem a aparecer foi Arthur Cushny, que fora da Escócia para a Universidade de Michigan ensinar matéria médica e depois se passara para a Universidade de Londres. Cushny sabia lidar com a digitalis no laboratório mas não ignorava que a função da medicina é curar homens e não rãs.
O segundo foi o bom Dr. Wenckebach, a princípio um obscuro médico rural na Holanda e depois medico de uma família importante. E, por fim, o terceiro fpoi o escocês James Mackenzie, no começo muito contente com a sua habilidade de médico rural e depois atrapalhado com a fama de “maior especialista vivo” em doenças cardíacas. Mackenzie era de fato um grande clinico que desenvolvera o seu próprio diagnóstico, o seu próprio tratamento, a sua própria cirurgia, a sua própria obstetrícia e a sua própria anestesia – e que realmente estudara o funcionamento do coração.
Estes três sábios mostraram que a hidropisia provinha duma estranha doença dos músculos superiores do coração doença que enfraquecia os movimentos dessa bomba de bombear sangue. Não realizando o bombeamento coma força necessária, a circulação do sangue demorava e o soro ia ficando pelo caminho, nos membros, no peito, no ventre. Era o que a ciência de hoje chama “filtração auricular”. Para esse distúrbio a digitalis trazia alivio imediato e muitas vezes cura, afastando a morte inevitável. Mas a digitalis só agia assim quando administrada com proposito, e não as cegas como faziam a maior parte dos doutores.

Bibliografia: Mágica em Garrafas, A história dos Grandes Medicamentos – Milton Silverman – tradução de Monteiro Lobato – Cia Editora Nacional 1943

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