domingo, 12 de junho de 2016

Nitroglicerina é remédio para o coração

A angina pectoris tinha algo a ver com a pressão cardíaca muito alta, mas com um tipo de pressão muito especial. Um espasmo, um súbito contrair-se das artérias vitais que nutrem o coração.
Aquele nitrito tinha o miraculoso poder de relaxar essas aterias e permitir que o sangue circulasse. Não curava a angina pectoris, mas suprimia a dor e até a evitava.
Brunton anunciou a sua descoberta numa comunicação publicada no ano seguinte, 1867; e ao contrario de Withering, não teve de escrever nenhum livro para proclamar a coisa. Bastaram duas colunas dum jornal medico para fazer de Bruton um dos grandes heróis da medicina. Suprimiu uma horrível dor com uns pingos de droga numa gaze- haverá maior prodígio?

Dez anos mais tarde, em Londres, outra famosa descoberta veio fortalecer o medico em sua luta contra a angina. A coisa espantou, porque se tratava de droga já muito conhecida e de terrível efeito em outro campo. Era nada mais nada menos que a nitroglicerina.
Por uma razão muito prosaica estava em seu gabinete em Londres o Dr. William Murrell investigando essa droga: aquietar uma briga. Não briga a respeito da força destruidora da nitroglicerina, mas sobre os seus possíveis efeitos quando ingerida pela criatura humana. Duas escolas medicas divergiam sobre o ponto.
Murrell escolhera um mau momento para o teste. Estando á espera de um paciente certa tarde, tirou do bolso um vidro de tintura de nitroglicerina, abriu-o e tocou com a ponta da língua na rolha molhada. E engoliu aquilo, sem mais pensar no caso. Nisto apareceu o cliente. E ainda não havia acabado de enumerar os seus males, quando Murrell se sentiu mal – muito pior que o doente. Para ganhar tempo, o mais que pode fazer foi pedir ao homem que entrasse numa repartição lateral e se despisse para exame.
-Arrependi-me de não ter escolhido melhor ocasião para a experiência, escreveu ele mais tarde, pois fiquei com medo de que o homem percebesse o mau estado e me julgasse bêbado.
O pobre Dr Murrell não daria um níquel pela sua vida naquele momento. O pulso precipitava-se, a respiração tornava-se cada vez mais difícil, o corpo encolhia-se, a cabeça era um balão. O pulsar do coração sacudia-lhe todo corpo. Tudo como se estivesse no centro duma enorme bomba a arrebentar.
Murrell tratou de desembaraçar-se do cliente e caiu numa poltrona. Nunca se sentira tão mal em toda a sua vida, mas estava com certe
Za duma coisa: ingerira uma dose muito forte daquele veneno e os sintomas eram os mesmo produzidos pelas doses fortes de nitrito de amila. E planejou experimentar doses menores – caso sobrevivesse. Recorreria a voluntários. Experimentaria em clientes afetados de angina.
Esses doentes de angina foram beneficiados pela droga. A dor passava, como na aplicação do nitrito – e a facinorosa nitroglicerina tornou-se uma benção para os especialistas das moléstias do coração.
Cem anos levaram os médicos para acertar com essas drogas, mas acertaram. A frente vinha a mais antiga, a velha digitális; depois, os venenos de flecha, chefiados pelo estrofano; e por fim, o nitrito de amila e a nitroglicerina, para a angina pectoris. Estavam os três em uso em 1900.

Bibliografia: Mágica em Garrafas, A história dos Grandes Medicamentos – Milton Silverman – tradução de Monteiro Lobato – Cia Editora Nacional 1943

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