A angina pectoris tinha algo a ver com a pressão cardíaca
muito alta, mas com um tipo de pressão muito especial. Um espasmo, um súbito contrair-se
das artérias vitais que nutrem o coração.
Aquele nitrito tinha o miraculoso poder de relaxar essas
aterias e permitir que o sangue circulasse. Não curava a angina pectoris, mas
suprimia a dor e até a evitava.
Brunton anunciou a sua descoberta numa comunicação
publicada no ano seguinte, 1867; e ao contrario de Withering, não teve de
escrever nenhum livro para proclamar a coisa. Bastaram duas colunas dum jornal
medico para fazer de Bruton um dos grandes heróis da medicina. Suprimiu uma horrível
dor com uns pingos de droga numa gaze- haverá maior prodígio?
Dez anos mais tarde, em Londres, outra famosa descoberta
veio fortalecer o medico em sua luta contra a angina. A coisa espantou, porque
se tratava de droga já muito conhecida e de terrível efeito em outro campo. Era
nada mais nada menos que a nitroglicerina.
Por uma razão muito prosaica estava em seu gabinete em
Londres o Dr. William Murrell investigando essa droga: aquietar uma briga. Não
briga a respeito da força destruidora da nitroglicerina, mas sobre os seus possíveis
efeitos quando ingerida pela criatura humana. Duas escolas medicas divergiam
sobre o ponto.
Murrell escolhera um mau momento para o teste. Estando á
espera de um paciente certa tarde, tirou do bolso um vidro de tintura de
nitroglicerina, abriu-o e tocou com a ponta da língua na rolha molhada. E
engoliu aquilo, sem mais pensar no caso. Nisto apareceu o cliente. E ainda não
havia acabado de enumerar os seus males, quando Murrell se sentiu mal – muito pior
que o doente. Para ganhar tempo, o mais que pode fazer foi pedir ao homem que
entrasse numa repartição lateral e se despisse para exame.
-Arrependi-me de não ter escolhido melhor ocasião para a
experiência, escreveu ele mais tarde, pois fiquei com medo de que o homem
percebesse o mau estado e me julgasse bêbado.
O pobre Dr Murrell não daria um níquel pela sua vida
naquele momento. O pulso precipitava-se, a respiração tornava-se cada vez mais
difícil, o corpo encolhia-se, a cabeça era um balão. O pulsar do coração
sacudia-lhe todo corpo. Tudo como se estivesse no centro duma enorme bomba a
arrebentar.
Murrell tratou de desembaraçar-se do cliente e caiu numa
poltrona. Nunca se sentira tão mal em toda a sua vida, mas estava com certe
Za duma coisa: ingerira uma dose muito forte daquele
veneno e os sintomas eram os mesmo produzidos pelas doses fortes de nitrito de
amila. E planejou experimentar doses menores – caso sobrevivesse. Recorreria a voluntários.
Experimentaria em clientes afetados de angina.
Esses doentes de angina foram beneficiados pela droga. A
dor passava, como na aplicação do nitrito – e a facinorosa nitroglicerina
tornou-se uma benção para os especialistas das moléstias do coração.
Cem anos levaram os médicos para acertar com essas
drogas, mas acertaram. A frente vinha a mais antiga, a velha digitális; depois,
os venenos de flecha, chefiados pelo estrofano; e por fim, o nitrito de amila e
a nitroglicerina, para a angina pectoris. Estavam os três em uso em 1900.
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