Enquanto a magica planta dos incas se preparava para
entrar no mundo civilizado, outra substancia era descoberta em Leipzig, onde um
farmacêutico alemão ensinara os mistérios da botica a um sobrinho, Valerius
Cordus.
Era um aprendiz impaciente este Cordus. Desadorava o
farmacismo comum, com seus desleixados aviamentos de receitas, manuseio não cientifico e aquela superabundância de nomes e mais nomes de drogas. Foi
exatamente isso que o levou a preparar a primeira farmacopeia aparecida no
mundo – uma lista oficial de drogas, com as direções sobre o modo de
preparara-las. Cordus também desadorava experiências ao modo da época, mistura
de droguismo e feitiçaria – cocções de guelras de salamandra, de olhos de
vespa, de ovos podres e excrementos na eterna busca do elixir da longa vida.
Cordus preferia a pesquisa simples.
-Tio, exclamou ele certa vez, olhe o que encontrei.
O tio olhou, com um misto de medo e censura nos olhos. As
vezes as experiências do sobrinho até explodiam...
- Agora, continuou o rapaz, tomo óleo de vitriolo e
derramo aqui, assim. E ajunto um pouco de espirito destilado, assim... E depois
agito. Veja como lindamente referve e fumega! E agora, tio, aproxime-se e
cheire este vapor...
O velho aproximou-se e cautelosamente cheirou, recuando
com cara feia, horrorizado.
-Piff! Cheiro horrível...
- Horrível, não, Tio. Bem agradável até. Não faz mal
nenhum. Inale profundamente e veja...
Sugestionado por essas palavras, o velho inalou aquilo
profundamente, uma e duas vezes; e preparava-se para vir com as suas criticas
observações, quando tudo em redor começou a oscilar, a regirar, a subir em
espirais – cadeiras, mesa, estantes, janelas. Pareciam fogos de artifício.
Depois de alguns instantes assim, tudo voltou ao normal. Cordus viu-se sentado
no chão, com o sobrinho, qual travesso duende, a rir-se diante dele.
- Não é estranho Tio? O mesmo aconteceu ontem.
- Saia da minha casa, doido varrido! Já! Por que fui eu
deixa-lo introduzir-se aqui? Fora! Fora!...
Ainda a rir-se, o moço recolheu-se ao quarto e consignou
num livro de notas que havia misturado óleo de vitriolo com “espirito
destilado” e produzido um vapor
suscetível de ser descrito como “óleo doce de vitriolo”. Sua inalação dava
certa embriaguez, e parece por fim a dor da “tosse de cachorro” – escreveu isso
e nunca mais pensou no caso.
Séculos mais tarde, ao lerem essas notas, os químicos
traduziram “óleo de vitriolo” por acido sulfúrico, “espirito destilado” por
álcool, e “óleo doce de vitriolo” por éter.
Bibliografia:
Mágica em Garrafas, A história dos Grandes Medicamentos – Milton Silverman –
tradução de Monteiro Lobato – Cia Editora Nacional 1943.
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