domingo, 24 de julho de 2016

A descoberta cocaína como anestésico local

O anuncio da descoberta da cocaína veio com outro ainda mais significativo. “Levando á boca uma pitada de cocaína”... , declarou Niemann, “notei, com surpresa, que a língua me ficara insensível aos sabores e ao frio ou calor...”
Com surpresa! Lá estava um produto químico produtor de anestesia local! Infelizmente Niemann só era químico e ignorava que os médicos venderiam a alma por um produto como aquele.

Também não pensou nisso o farmacêutico vienense que três anos mais tarde leu num obscuro jornal que a cocaína produzia insensibilidade na língua, na boca e na garganta. Nem o oculista alemão que hilariamente descreveu a cocaína para grupo de especialistas de moléstias dos olhos do nariz e da garganta.
Um fisiologista russo produziu uma alentada comunicação sobre a interessante insensibilidade produzida em animais por meio da aplicação de soluções de cocaína; e um médico peruano usou compressas de cocaína para suprimir a dor nas escoriações, mas não deu ao caso maior importância.
Thomaz Moreno y Maiz, antigo cirurgião do exército peruano, fez um serio estudo da cocaína. “Dizem que a evita a fome, reduz a necessidade de alimento – mas será assim?”
Maiz tomou certo numero de ratos gordos e dividiu-os em dois grupos. A um dos grupos só deu coca; a outro, coisa nenhuma – e pôs-se a observar o fim de uma lenda; os ratos em regime de cocaína morreram antes que os companheiros que estavam no regime de coisa nenhuma.
Depois tomou sapos e injetou-lhes solução de cocaína nas pernas traseiras; cutucando essas pernas com ponta de agulha o sapo não saltou, nem deu sinal de haver sentido.
“A sensibilidade das pernas injetadas desapareceu por completo”, anotou Maiz. Depois enterrou a agulha até alcançar o nervo do movimento – e o sapo moveu-se! “A sensação está completamente abolida”, anotou ele “mas, por estranho que o pareça, a motilidade persiste”.
Depois cutucou com a agulha as pernas dianteiras não injetadas – e a cada toque o animal deu um pulo de dor, Moreno e Maiz: concluíram: “A ação local desta substância é muito marcada”. E em observação á margem: “Será possível utilizar a cocaína como anestésico local”? “Não podemos concluir com base no pequeno numero de experiências, que fizemos, o que o futuro vai decidir” – e com essas palavras o bom cientista peruviano lançou a fama pela janela.
Bibliografia: Mágica em Garrafas, A história dos Grandes Medicamentos – Milton Silverman – tradução de Monteiro Lobato – Cia Editora Nacional 1943.



Nenhum comentário:

Postar um comentário