A coca do Peru ainda no século XV continuava na
prateleira. Descoberta por pelos europeus em começo do século XVI conservou-se
praticamente desconhecida, não passando de uma curiosidade botânica, até que os
países sul americanos se levantaram em rebelião e varreram como domínio espanhol.
A América Latina abriu-se ao estudo de geógrafos
franceses, dos naturalistas ingleses, dos botânicos alemães, dos zoologistas
italianos e duma porção de americanos – e os novos descobridores descobriram a
coca.
Essa redescoberta foi antecedida por uma serie de questões.
“Que é essa árvore coca?” indagavam tais cientistas. A mesma coisa que a árvore
de cacau do Brasil, que produz o cacau
ou chocolate?
Os cientistas iam aos livros, comparava, as flores, folhas
e sementes das duas plantas, e franziam o nariz e anunciavam: “Não; essas
plantas não são as mesmas. O chocolate do Brasil vem da árvore cacau, que pode
ser classificada como Theobroma cacao. Pelo sistema de classificação De
Candolle, a coca peruviana deve ser conhecida como Erythroxylon coca. Podemos
dizer mais sobre o assunto, mas, numa palavra, essas duas plantas não são a
mesma.” Essa conclusão decidiu o caso.
Outro ponto debatido, e de muita importância: “Que há de
verdade sobre a coca e as lendas relativas?” Realmente farão as folhas da coca
os milagres referidos pelos espanhóis?”
Era tudo verdade? Era mais ainda! Os novos exploradores assombravam-se
com os prodígios da coca. Eliminava realmente a necessidade de comer, beber e
dormir! Suprimia a sensação de frio ou calor. Curava qualquer doença ou
aflição. Transformava pobres covardes em gigantes! Coisa boa ou má, a coca?
No coro de lôas sobre a coca a unanimidade foi quebrada
por dois avisados alemães. “A coca”, disseram eles, produz estes admiráveis
efeitos, sim, mas também produz outros menos heroicos. Vimos mascadores de coca
e notamos o mau hálito, a palidez dos lábios, os dentes estragados e o andar
vacilante. Olhos fundos e mortos, pele amarelada. Vimos o que acontece aos
homens brancos que se entregam a mascação de coca: - começam e não podem
interromper o habito. Viciam-se”
O grande grupo dos entusiastas chocou-se com o parecer. “Não
podem interromper o habito?” Que tolice! Isso é coisa que acontece com opio.
Com a maravilhosa folha de coca, é impossível”.
A coca mata a fome. A coca mata a sede. A coca tira o
cansaço. A coca tras euforia. A prolongada repetição destas frases tornou o uso
da planta convincente.
Bibliografia:
Mágica em Garrafas, A história dos Grandes Medicamentos – Milton Silverman –
tradução de Monteiro Lobato – Cia Editora Nacional 1943.
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