sexta-feira, 8 de julho de 2016

A descoberta da coca na Europa passou pela árvore de cacau

A coca do Peru ainda no século XV continuava na prateleira. Descoberta por pelos europeus em começo do século XVI conservou-se praticamente desconhecida, não passando de uma curiosidade botânica, até que os países sul americanos se levantaram em rebelião e varreram como domínio espanhol. A América  Latina abriu-se ao estudo de geógrafos franceses, dos naturalistas ingleses, dos botânicos alemães, dos zoologistas italianos e duma porção de americanos – e os novos descobridores descobriram a coca.
Essa redescoberta foi antecedida por uma serie de questões. “Que é essa árvore coca?” indagavam tais cientistas. A mesma coisa que a árvore de cacau do Brasil, que produz o cacau ou chocolate?

Os cientistas iam aos livros, comparava, as flores, folhas e sementes das duas plantas, e franziam o nariz e anunciavam: “Não; essas plantas não são as mesmas. O chocolate do Brasil vem da árvore cacau, que pode ser classificada como Theobroma cacao. Pelo sistema de classificação De Candolle, a coca peruviana deve ser conhecida como Erythroxylon coca. Podemos dizer mais sobre o assunto, mas, numa palavra, essas duas plantas não são a mesma.” Essa conclusão decidiu o caso.
Outro ponto debatido, e de muita importância: “Que há de verdade sobre a coca e as lendas relativas?” Realmente farão as folhas da coca os milagres referidos pelos espanhóis?”  Era tudo verdade? Era mais ainda! Os novos exploradores assombravam-se com os prodígios da coca. Eliminava realmente a necessidade de comer, beber e dormir! Suprimia a sensação de frio ou calor. Curava qualquer doença ou aflição. Transformava pobres covardes em gigantes!  Coisa boa ou má, a coca?
No coro de lôas sobre a coca a unanimidade foi quebrada por dois avisados alemães. “A coca”, disseram eles, produz estes admiráveis efeitos, sim, mas também produz outros menos heroicos. Vimos mascadores de coca e notamos o mau hálito, a palidez dos lábios, os dentes estragados e o andar vacilante. Olhos fundos e mortos, pele amarelada. Vimos o que acontece aos homens brancos que se entregam a mascação de coca: - começam e não podem interromper o habito. Viciam-se”
O grande grupo dos entusiastas chocou-se com o parecer. “Não podem interromper o habito?” Que tolice! Isso é coisa que acontece com opio. Com a maravilhosa folha de coca, é impossível”.
A coca mata a fome. A coca mata a sede. A coca tira o cansaço. A coca tras euforia. A prolongada repetição destas frases tornou o uso da planta convincente.


Bibliografia: Mágica em Garrafas, A história dos Grandes Medicamentos – Milton Silverman – tradução de Monteiro Lobato – Cia Editora Nacional 1943

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