Duzentos e cinquenta anos mais tarde, em 1799, antes
pois, da morfina de Sertuerner e quando os pacientes ainda urravam de dor sob a
faca dos cirurgiões, um terceiro anestésico foi descoberto. Um jovem químico de
Londres publicou um longo estudo sob o título Pesquisa Químicas e Filosóficas,
Concernentes Sobretudo ao Oxido Nitroso Diflogistificado e à sua Respiração.
Era o brilhante Humphry Davy, um dos maiores químicos do seu tempo, que entrava
em cena.
Davy cheirava esse novo gás e admirava-se dos
maravilhosos sonhos provocados. Também chegou à beira duma grande descoberta e
parou. “Certa vez, estando eu com forte dor de cabeça em virtude de indigestão,
anulei a dor com uma forte dose de gás” – mas Davy não deu o passo ultimo. Fez
provas com pequenos animais, mas com doses excessivas; também experimentou em
amigos mais cuidadosamente, e sugeriu que aquele gás podia ser de interesse
para os cirurgiões. Estava, entretanto, muito entretido com outras coisas, e os
cirurgiões só pensavam em “operar a pedra na bexiga em menos de três minutos”.
E lá foi o oxido nitroso, aliás, ar nitroso
diflogistificado, aliás, gás hilariante, fazer companhia á coca e ao éter.
Trinta anos se passaram com os três anestésicos
esquecidos, e subitamente a descoberta do clorofórmio irrompeu ao mesmo tempo
em três países diferentes. Justus von Liebig pai da química moderna,
descobriu-o em seu laboratório em Giessen; Souberain sintetizou-o na França; e
Samuel Guthire revelou-o em Jewettsville, estado de New York.
Por mais estranho que pareça, o clorofórmio também foi
fazer companhia aos três anestésicos esquecidos. Do ponto de vista químico tratava-se
dum interessante composto, mas ninguém lhe deu importância.
Hoje parece absolutamente incompreensível que esses
anestésicos fossem descobertos e passassem tantos anos (dois deles quase dois
séculos) sem que a medicina o percebesse. Só em 1842 os doutores abriram os
olhos exclamando: “Eis aqui o que andávamos procurando!”
Em cinco anos toda a grande revolução aconteceu. Quem lhe
abriu as portas? Quem merece a gloria de tamanho triunfo? Este problema desafiou
a argucia da Real Sociedade de Medicina da Inglaterra, da Academia Francesa de Ciências
e do Congresso Americano.
O mais certo, no entanto, é quem em 1842 não existiam
anestésicos em uso. “Embebede-se o infeliz os porteiros e os estudantes que o
subjugem – e o cirurgião cerre os dentes e opere depressa”.
Em 1847, porém, graças ao cirurgião Crawford Long, de
Atenas, na Georgia/ aos dentistas William Morton e Horace Wells, de Boston; ao químico
Charles Jackson, de Plymouth, Massachussetts; e ao grande obstétrico Sir James
Simpson, três abençoados anestésicos já atendiam a dor humana: éter, clorofórmio
e oxido nitroso.
A entrada em cena dessas drogas foi tão impetuosa que o
mundo medico ficou sem fala. A supressão da dor vinha revolucionar a cirurgia.
Bibliografia:
Mágica em Garrafas, A história dos Grandes Medicamentos – Milton Silverman –
tradução de Monteiro Lobato – Cia Editora Nacional 1943.
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