sábado, 2 de julho de 2016

O éter anestésico dá lugar gás hilariante. Acontece a revolução nas cirurgias.

Duzentos e cinquenta anos mais tarde, em 1799, antes pois, da morfina de Sertuerner e quando os pacientes ainda urravam de dor sob a faca dos cirurgiões, um terceiro anestésico foi descoberto. Um jovem químico de Londres publicou um longo estudo sob o título Pesquisa Químicas e Filosóficas, Concernentes Sobretudo ao Oxido Nitroso Diflogistificado e à sua Respiração. Era o brilhante Humphry Davy, um dos maiores químicos do seu tempo, que entrava em cena.

Davy cheirava esse novo gás e admirava-se dos maravilhosos sonhos provocados. Também chegou à beira duma grande descoberta e parou. “Certa vez, estando eu com forte dor de cabeça em virtude de indigestão, anulei a dor com uma forte dose de gás” – mas Davy não deu o passo ultimo. Fez provas com pequenos animais, mas com doses excessivas; também experimentou em amigos mais cuidadosamente, e sugeriu que aquele gás podia ser de interesse para os cirurgiões. Estava, entretanto, muito entretido com outras coisas, e os cirurgiões só pensavam em “operar a pedra na bexiga em menos de três minutos”.
E lá foi o oxido nitroso, aliás, ar nitroso diflogistificado, aliás, gás hilariante, fazer companhia á coca e ao éter.
Trinta anos se passaram com os três anestésicos esquecidos, e subitamente a descoberta do clorofórmio irrompeu ao mesmo tempo em três países diferentes. Justus von Liebig pai da química moderna, descobriu-o em seu laboratório em Giessen; Souberain sintetizou-o na França; e Samuel Guthire revelou-o em Jewettsville, estado de New York.
Por mais estranho que pareça, o clorofórmio também foi fazer companhia aos três anestésicos esquecidos. Do ponto de vista químico tratava-se dum interessante composto, mas ninguém lhe deu importância.
Hoje parece absolutamente incompreensível que esses anestésicos fossem descobertos e passassem tantos anos (dois deles quase dois séculos) sem que a medicina o percebesse. Só em 1842 os doutores abriram os olhos exclamando: “Eis aqui o que andávamos procurando!”
Em cinco anos toda a grande revolução aconteceu. Quem lhe abriu as portas? Quem merece a gloria de tamanho triunfo? Este problema desafiou a argucia da Real Sociedade de Medicina da Inglaterra, da Academia Francesa de Ciências e do Congresso Americano.
O mais certo, no entanto, é quem em 1842 não existiam anestésicos em uso. “Embebede-se o infeliz os porteiros e os estudantes que o subjugem – e o cirurgião cerre os dentes e opere depressa”.
Em 1847, porém, graças ao cirurgião Crawford Long, de Atenas, na Georgia/ aos dentistas William Morton e Horace Wells, de Boston; ao químico Charles Jackson, de Plymouth, Massachussetts; e ao grande obstétrico Sir James Simpson, três abençoados anestésicos já atendiam a dor humana: éter, clorofórmio e oxido nitroso.
A entrada em cena dessas drogas foi tão impetuosa que o mundo medico ficou sem fala. A supressão da dor vinha revolucionar a cirurgia.

Bibliografia: Mágica em Garrafas, A história dos Grandes Medicamentos – Milton Silverman – tradução de Monteiro Lobato – Cia Editora Nacional 1943.



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