sábado, 27 de agosto de 2016

Os novos medicamentos e a podridão dos hospitais.

Luiz XVI não tinha vontade comprar segredos de remédios vindos do novo mundo. Ainda assim, ele comprou em 1776 por 18 mil libras o segredo do feto macho para curar a opilação. Ele não estava realmente interessado na cura da doença, mas sim em imitar seu antecessor Luiz XIV. A maioria dos médicos compartilhavam da frieza de Luiz XVI para com os novos remédios. O que os interessava, em matéria de males humanos, eram a tuberculose, a difteria, o tifo; achavam difícil admitir que esses tais ancilotomos, a tênia, as lombrigas e outros parasitas dos intestinos fossem coisas serias e muitas vezes mortais.
Louis  Pasteur
“Atentemos no modo de agir deste remédio”, raciocinaram eles. “Expulsa os vermes dos intestinos e a doença desaparece. Logo, a causa da doença eram os vermes”.
Logo os médicos começaram a alimentar ideias estranhas. “Se há grandes vermes em nosso organismo, visibilíssimos, porque não os haverá tão pequenos que sejam invisíveis? Quem saber seres invisíveis também não causadores de doenças? E se certas drogas matam os vermes visíveis, deve haver drogas que matem os invisíveis...”
Um ignorado químico da França, homem doentio, muito ruminava sobre esse ponto. O seu nome era Louis Pasteur. Também havia um impetuoso farmacêutico em Paris , Jules Lemaire e um quase parteiro húngaro, Ignaz Semmelweis, que lutavam para dar forma verbal a tais pensamentos. E havia o bondoso e espirituoso medico americano, Oliver Wendell Holmes, que escrevia com tanta facilidade.
E, recentemente chegado a Glasgow, 1860, havia um sereno e brilhante cirurgião, o jovem Dr. Joseph Lister...
A cirurgia em 1860 ainda era uma coisa muito rudimentar. Poucos cirurgiões ousavam ir além de ossos quebrados, tumores superficiais e coisas assim simples. O que pretendesse ir além e fazer, por exemplo, uma operação abdominal, correria o risco de ser chamado de assassino ou louco.
Poucos eram o pacientes se entregavam á faca dos médicos, e na maioria dos hospitais todo o trabalho cirúrgico da semana era realizado, sem pressa, nas tardes das quartas feiras.
Nas salas operatórias os cirurgiões trabalhavam vestidos de camisolão sangrento, enxugavam as facas nas mangas, costuravam incisões com fios de linha suja, tirados do bolso.
A operação mais comum era cortar um membro, em regra feita como corajosa tentativa para salvar a vitima duma fratura exposta já atacada de putrefação. As amputações eram consideradas como regularmente seguras; um medico londrino gabava-se de só perder um caso em quatro, e citava as porcentagens de 26% de mortos em Massachussetts, 43% em Edinburgo, 46% em Zurich e 60% em Paris – seis mortos em cada dez operações.
Nas enfermarias, numa atmosfera de perpetua fedentina, os pacientes definhavam e morriam de envenenamento do sangue – de tétano, gangrena, erisipela e tantas outras sinistras doenças decorrente das mais simples operações. O mal morava na podridão dos hospitais que tanto medo inspirava ao povo; todos preferiam estar na sarjeta a ir pra cama de um hospital.

Bibliografia: Mágica em Garrafas, A história dos Grandes Medicamentos – Milton Silverman – tradução de Monteiro Lobato – Cia Editora Nacional 1943.

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