Um dos
aspectos da história da indústria farmacêutica que tem sido pouco considerado
foi a reação do bloco socialista ao surgimento desse oligopólio. Logo após a 2º
Guerra Mundial, o Comecom (Conselho de Mútua Assistência Econômica)
estabeleceu, como objetivo estratégico do bloco, o desenvolvimento de uma
indústria farmacêutica inovadora, que pudesse vir a competir com as
multinacionais já estabelecidas. Procurou-se o caminho da especialização entre
os vários países, cabendo à Hungria liderar o desenvolvimento das sínteses
químicas e à Bulgária os processos microbiológicos. No meio da década de 1960,
era evidente que haviam perdido a corrida definitivamente, apesar dos esforços
daqueles quase 20 anos. Embora tivesse sido possível vencer o primeiro turno da
corrida espacial e de certa forma a corrida armamentista e resolver inúmeros
problemas sociais, com relação ao complexo farmacêutico a derrota havia sido
rotunda. Eram marginais os lançamentos de novas drogas que alcançavam sucesso
comercial no Ocidente.
Embora o
Estado socialista tivesse priorizado a indústria farmacêutica, mobilizando
recursos da mesma ordem de grandeza daqueles investidos pelas multinacionais do
setor, faltaram os outros ingredientes responsáveis pelo sucesso de uma droga,
e principalmente as estratégias de marketing em torno do lançamento de um novo
medicamento, através das quais se pode conquistar a classe médica.
A década de
1970 caracteriza-se pela busca nacional de medicamentos previamente
determinados, isto é, os cientistas procuravam primeiro saber o que era
necessário ser feito para então buscar um fármaco adequado. A estrela desse
período foi Sir James Black que, trabalhando no ICI (Imperial Chemical
Industrie) do Reino Unido, lançou o primeiro beta-bloqueador, o Propranolol, e
depois, na SmithKline, o primeiro antagonista H2, o Tagamet. Este último é o
melhor exemplo de desenvolvimento racional de um fármaco: sabendo que a úlcera
gástrica é resultado da produção excessiva de ácido Clorídrico, provocado pela
ação da Histamina nas paredes do estômago, Sir James procurou uma estrutura
capaz de bloquear a ação da histamina. Depois de ter sintetizado mais de 700
compostos e quase ter levado a SmithKline à falência, Sir James chegou ao
Tagamet, que hoje representa mais de 50% do faturamento dessa empresa e faz com que ela figure na lista dos
20 maiores laboratórios.
Os anos 80
serão lembrados por aquela que foi talvez a mais bem sucedida campanha de
marketing da indústria farmacêutica: o lançamento do Zantac, que fez com que a
Glaxo inglesa saltasse da vigésima colocação para a segunda em apenas seis
anos. O Zantac, nome de marca do fármaco Ranetidina, nada mais era do que um
me-too do Tagamet. Em 1990 o Zantac respondeu por um faturamento de quase 3
bilhões de dólares, o que representou cerca de 60% do faturamento de toda a
Glaxo.
Bibliografia:
Revista Ciências Hoje vol 15/ nº89 – José Carlos Geroz – Companhia de
Desenvolvimento Tecnológico (Codetec)
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