sábado, 17 de agosto de 2013

Oligopólio da Indústria farmacêutica é combatido por países socialistas

Um dos aspectos da história da indústria farmacêutica que tem sido pouco considerado foi a reação do bloco socialista ao surgimento desse oligopólio. Logo após a 2º Guerra Mundial, o Comecom (Conselho de Mútua Assistência Econômica) estabeleceu, como objetivo estratégico do bloco, o desenvolvimento de uma indústria farmacêutica inovadora, que pudesse vir a competir com as multinacionais já estabelecidas. Procurou-se o caminho da especialização entre os vários países, cabendo à Hungria liderar o desenvolvimento das sínteses químicas e à Bulgária os processos microbiológicos. No meio da década de 1960, era evidente que haviam perdido a corrida definitivamente, apesar dos esforços daqueles quase 20 anos. Embora tivesse sido possível vencer o primeiro turno da corrida espacial e de certa forma a corrida armamentista e resolver inúmeros problemas sociais, com relação ao complexo farmacêutico a derrota havia sido rotunda. Eram marginais os lançamentos de novas drogas que alcançavam sucesso comercial no Ocidente.

Embora o Estado socialista tivesse priorizado a indústria farmacêutica, mobilizando recursos da mesma ordem de grandeza daqueles investidos pelas multinacionais do setor, faltaram os outros ingredientes responsáveis pelo sucesso de uma droga, e principalmente as estratégias de marketing em torno do lançamento de um novo medicamento, através das quais se pode conquistar a classe médica.
A década de 1970 caracteriza-se pela busca nacional de medicamentos previamente determinados, isto é, os cientistas procuravam primeiro saber o que era necessário ser feito para então buscar um fármaco adequado. A estrela desse período foi Sir James Black que, trabalhando no ICI (Imperial Chemical Industrie) do Reino Unido, lançou o primeiro beta-bloqueador, o Propranolol, e depois, na SmithKline, o primeiro antagonista H2, o Tagamet. Este último é o melhor exemplo de desenvolvimento racional de um fármaco: sabendo que a úlcera gástrica é resultado da produção excessiva de ácido Clorídrico, provocado pela ação da Histamina nas paredes do estômago, Sir James procurou uma estrutura capaz de bloquear a ação da histamina. Depois de ter sintetizado mais de 700 compostos e quase ter levado a SmithKline à falência, Sir James chegou ao Tagamet, que hoje representa mais de 50% do faturamento dessa  empresa e faz com que ela figure na lista dos 20 maiores laboratórios.
Os anos 80 serão lembrados por aquela que foi talvez a mais bem sucedida campanha de marketing da indústria farmacêutica: o lançamento do Zantac, que fez com que a Glaxo inglesa saltasse da vigésima colocação para a segunda em apenas seis anos. O Zantac, nome de marca do fármaco Ranetidina, nada mais era do que um me-too do Tagamet. Em 1990 o Zantac respondeu por um faturamento de quase 3 bilhões de dólares, o que representou cerca de 60% do faturamento de toda a Glaxo.

Bibliografia: Revista Ciências Hoje vol 15/ nº89 – José Carlos Geroz – Companhia de Desenvolvimento Tecnológico (Codetec)

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