Francico
Sellow , que incontestavelmente foi um dos maiores e mais competentes
naturalistas, que coletou minerais, animais e plantas, além de realizar levantamentos
geográficas e fazer pesquisas geológicas, quando em começos do século XIX aqui
no sul do Brasil, comenta F. C. Hoenhe, esteve, escreveu no seu diário a
seguinte nota, que bem
demonstra a sua perfeita compreensão do que deve ser um
botânico: “Para poder dar conta de procedência, porte, colorido das flores, o
botânico é obrigado a colher o seu material pessoalmente. Por isso luta com
maiores dificuldades do que o zoólogo. Nem sempre quando descobre uma planta
interessante e encontra com flores e quando isso acontece ele constata, muitas
vezes, que elas apenas não bastam para resolver as dificuldades de
classificação. Outras vezes, encontrando outra em frutificação, descobre também
que com seus frutos, ramos e folhas igualmente não tem elementos botânicos para
chegar a um resultado satisfatório”. Isto tem confirmado bastas vezes pela
experiência pessoal quando, embrenhado nas florestas e nos campos, realizamos
colheita de espécimes. A experiência é de todos os botânicos que trabalham
extramuros, mas muito maiores devem ser as dificuldades dos fitologistas que
apenas lidam com espécimes secos dos herbários. Desconhecendo as matas e os
campos naturais, eles passam, porém, a criticar e a censurar aos que coligiram
os espécimes e que as pressas tiveram de etiquetá-los. Para este detalhe também
o citado botânico, tem seu diário outro registro importante. Falando dos
trabalhos do naturalista do campo e especialmente do botânico, ele escreveu: ”E
quando a colheita e o preparo do material têm de ser feitos numa época chuvosa,
quando os dias de chuva se sucedem durante muito tempo, ou ainda quando se está
acompanhado numa sombria e úmida floresta, onde tudo embolora e apodrece antes
de poder ser guardado, então é que se leva a paciência e a resignação do
botânico à mais dura prova”.
Preparando material p/ identificação |
Nos
conhecemos isto de experiência. Ainda agora, depois de passadas quase 40 anos,
chegamos a sonhar com os dias de semelhantes dificuldades que tivemos no Mato
Grosso. As prensas cheias de material precioso, com imenso empenho conseguido
nas viagens fluviais, nos pântanos pestiferos e nas sombrias matas, colocadas
num ângulo do toldo que se encolhe e forma bojos com água de chuva acumulada e
o tão ansiosamente esperado raio de sol aparece durante cinco e dez dias
seguidos. Secar o material ao calor do fogo torna-se inviável, devido à
carência de espaço sob o acanhado toldo. Finalmente, quando as nuvens
desaparecem e o sol surge irradiante, abrindo-se as prensas, para mudar os
papeis pelos que ao sol foram aquecidos constata-se com tristeza que tudo está
embolorado, podre e desarticulado.
Tornar a
colher o material é impossível, porque a tropa está pronta para receber as
cangalhas para o prosseguimento do programa de viagem preestabelecido. Nas
viagens fluviais, onde o acampamento sempre tem de ser feito na sombra das
matss ribeirinhas úmidas, o drama torna-se ainda mais impressionante, visto que
se para apenas para pernoitar ou para almoçar, quando também se precisa fazer a
colheita do material que estiver florido ou frutificado nas proximidades.
Bibliografia: Relatório
do Instituto de Botânica – F.C.Hoenhe – Diretor do Instituto. Pág 53
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