quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

As agruras dos naturalistas para realizar uma identificação.

Francico Sellow , que incontestavelmente foi um dos maiores e mais competentes naturalistas, que coletou minerais, animais e plantas, além de realizar levantamentos geográficas e fazer pesquisas geológicas, quando em começos do século XIX aqui no sul do Brasil, comenta F. C. Hoenhe, esteve, escreveu no seu diário a seguinte nota, que bem
Preparando material p/ identificação
demonstra a sua perfeita compreensão do que deve ser um botânico: “Para poder dar conta de procedência, porte, colorido das flores, o botânico é obrigado a colher o seu material pessoalmente. Por isso luta com maiores dificuldades do que o zoólogo. Nem sempre quando descobre uma planta interessante e encontra com flores e quando isso acontece ele constata, muitas vezes, que elas apenas não bastam para resolver as dificuldades de classificação. Outras vezes, encontrando outra em frutificação, descobre também que com seus frutos, ramos e folhas igualmente não tem elementos botânicos para chegar a um resultado satisfatório”. Isto tem confirmado bastas vezes pela experiência pessoal quando, embrenhado nas florestas e nos campos, realizamos colheita de espécimes. A experiência é de todos os botânicos que trabalham extramuros, mas muito maiores devem ser as dificuldades dos fitologistas que apenas lidam com espécimes secos dos herbários. Desconhecendo as matas e os campos naturais, eles passam, porém, a criticar e a censurar aos que coligiram os espécimes e que as pressas tiveram de etiquetá-los. Para este detalhe também o citado botânico, tem seu diário outro registro importante. Falando dos trabalhos do naturalista do campo e especialmente do botânico, ele escreveu: ”E quando a colheita e o preparo do material têm de ser feitos numa época chuvosa, quando os dias de chuva se sucedem durante muito tempo, ou ainda quando se está acompanhado numa sombria e úmida floresta, onde tudo embolora e apodrece antes de poder ser guardado, então é que se leva a paciência e a resignação do botânico à mais dura prova”.
Nos conhecemos isto de experiência. Ainda agora, depois de passadas quase 40 anos, chegamos a sonhar com os dias de semelhantes dificuldades que tivemos no Mato Grosso. As prensas cheias de material precioso, com imenso empenho conseguido nas viagens fluviais, nos pântanos pestiferos e nas sombrias matas, colocadas num ângulo do toldo que se encolhe e forma bojos com água de chuva acumulada e o tão ansiosamente esperado raio de sol aparece durante cinco e dez dias seguidos. Secar o material ao calor do fogo torna-se inviável, devido à carência de espaço sob o acanhado toldo. Finalmente, quando as nuvens desaparecem e o sol surge irradiante, abrindo-se as prensas, para mudar os papeis pelos que ao sol foram aquecidos constata-se com tristeza que tudo está embolorado, podre e desarticulado.
Tornar a colher o material é impossível, porque a tropa está pronta para receber as cangalhas para o prosseguimento do programa de viagem preestabelecido. Nas viagens fluviais, onde o acampamento sempre tem de ser feito na sombra das matss ribeirinhas úmidas, o drama torna-se ainda mais impressionante, visto que se para apenas para pernoitar ou para almoçar, quando também se precisa fazer a colheita do material que estiver florido ou frutificado nas proximidades.

Bibliografia: Relatório do Instituto de Botânica – F.C.Hoenhe – Diretor do Instituto. Pág 53

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