terça-feira, 24 de março de 2015

A diferença entre Yagê e Caapi

Nonnato Pinheiro era contrário ao conceito de que Yagê e Caapi sejam a mesma coisa. Segundo a sua observação pessoal, o Caapi é uma beberagem destinada aos dias de festa, bebendo-a todos os convivas, isto é, homens e mulheres: enquanto que o Yagê só pode ser consumido pelos chefes de tribos, pajés, possuidores de poderes adivinhatórios.
É lógico que se todos os índios podem tomar ingredientes que lhes permite adivinhar o futuro, o poder e prestígio do pajé está ameaçado.
preparação do Caapi
Para reforçar  a afirmativa a cima Rouhier: “As doses elevadas de Yagê são empregadas por ocasião das cerimonias rituais e suas práticas de magia religiosas. Para este fim empregam o caule e algumas vezes as folhas , em decocto muito concentrados e reforçados com outras plantas de uma atividade fisiológica muito perigosa: Aya-huesca (Banisteria Caapi)
Sobre este assunto nos conta F. W. Graff, “Logo que desembarcou, o velho bandido bebeu algumas goladas da Hayahuasca, privilegio da sua alta dignidade. Esse liquido fermentado, de que tinha uma boa provisão, serve aos feiticeiros do amazonas para se porem em transe, na realidade uma meia embriaguez, do fundo da qual emitem uns oráculos que são recebidos com tanto respeito como os de Sibiba na antiga Grécia. Em todas as tribos Jivaros, o feiticeiro é todo poderoso, mas em geral a sua vida é curta. O seu reinado dura até que nas suas profecias se engane de maneira desastrosa”.
Como justificar a classificação de Spruce dando o nome de Caapi ao Yagê? É que o índio, sendo um desconfiado receia sempre que o estrangeiro se aproprie de suas terras e de seus segredos. Por isso, quando o informa sobre coisas que lhe dizem respeito, e das quais deseja guardar sigilo ensina errado. Despista... Aí fica um ponto digno de elucidação.
Ernestino de Oliveira, na sua lenda dos índios Tarianos, contestado aliás em alguns pontos por Spruce (considerado um dos melhores conhecedores das usanças dos índios amazonense), assim descreve os dias percursores das grandes festas: “As jovens índias são incumbidas  de procurar na floresta o cipó precioso, o Caapi. O vegetal é triturado com pedras e colocado num cocho de madeira,. Junta-se água, ficando em fermentação até o dia da festa, quando deve aparecer o Capiriculi, considerado o Deus do qual julgam os Tarianos descenderem diretamente”.
Bibliografia: Revista da Associação Brasileira de Farmacêuticos – Setembro de 1936 – Oswaldo de A. Costa e Luiz Faria – Laboratório Bromatológico.


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