As experiências de laboratório mostravam que tanto a
emetina como a estriquinina assemelhavam-se a morfina de Sertuerner. Atuavam
como álcalis, reagiam como álcalis, tinham todas as propriedades dos álcalis,
embora não tivessem a formula dos álcalis.
- Surge aqui, proclamou na Alemanha o químico Meissner,
toda uma nova família de produtos químicos. Provêm todos das plantas, são orgânicos,
mas pelas suas semelhanças com os álcalis
podem ser chamados alcaloides.
Logo depois Pelletier e Caventou descobriram outro alcaloide,
a brucina, extraída da casca da falsa
angostura, e quase ao mesmo tempo Meissner apresentava a veratrina, extraída da
cevadilha, e outros investigadores produziram a piperina, extraída da pimenta e a delfinína, extraída das plantas delphinum.
Mas Pelletier era acima de tudo um farmacêutico pratico e
também um homem prático. “Estes novos alcaloides,
disse ele, “são muito interessantes, mas de pouca utilidade. Qual valor
comercial podem ter ? A estriquinina, a brucina, a veratrina e o resto não
passam de curiosidades científicas sem interesse para ninguém. Precisamos
descobrir coisas mais preciosas.”
Caventou abriu o caminho. Era um rapaz sempre alerta,
muito perguntador, dos que metem o nariz em tudo e não perdem nada. Vivia
fazendo cem coisas ao mesmo tempo, e pensando em mil outras.
Embora colaborador de Pelletier naqueles trabalhos,
seguia também as lições do professor Thénard, e foi no laboratório desse
cientista que lhe veio à ideia. Caventou ouviu a um assistente de Thénrad a
seguinte observação: “Demos com uma coisa interessante. O professor pediu-me
ontem que preparasse um extrato de chinchona para demonstração na aula, e meu
extrato me pareceu extremamente alcalino, e fui eu então e...”
Bastou aquilo. Caventou sacou fora o avental e foi voando
ao encontro de Pelletier.
-Pierre, precisamos começar imediatamente a estudar a
chinchona!...
Pelletier franziu a testa. A ele, como o superior hierárquico
naquela dupla , é que competia sugerir os trabalhos a serem feitos.
-Por que precisamos estudar a chinchona? Pergunta irônica
e friamente.
-Porque é a mais importante das drogas, respondeu
Caventou. Cura a malária, uma doença que mata milhares de criaturas, talvez
milhões anualmente.
-Bem, disse Pelletier, se é essa a razão, nesse caso
temos de nos voltar para a tísica ou a peste, que mata mais gente – mata muito
mais milhões.
Caventou não se deu por vencido.
-Pode ser verdade, mas a malária... Olhe: a chinchona cura
malária. Sabemos disso! E na chinchona há um alcaloide...
-Espere gritou Pelletier. Quem disse que há um alcaloide na
chinchona? Onde ouviu isso?
-De Monsieur Labillardiere, no laboratório de Thénard. É
um dos seus assistentes. Disse-me esta manhã que havia preparado um extrato de
chinchona e o gosto era alcalino...
- Gosto alcalino? Isso não quer dizer nada. Talvez alguma
impureza – um pouco de potassa ou soda. Esse gosto não prova que na chincona há
um alcaloide., mas... Joseph, meu amigo, vamos ler o que há a respeito da
Chinchona...
Bibliografia:
Mágica em Garrafas, A história dos Grandes Medicamentos – Milton Silverman –
tradução de Monteiro Lobato – Cia Editora Nacional 1943.
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