Monsieur Caventou e Pelletier, seu amigo, resolveram ler
tudo que havia sido publicado sobre alcaloides.
Os dois lançaram-se aos livros e velhos jornais,
enfronharam-se do que havia sido feito em diversos países e sobre tudo em
Portugal por um Dr Gomes. Vários estudiosos já tinham encontrado na casca da
chinchona certos produtos químicos, nenhum dos quais, porém, curava a malária,
nem parecia alcaloide. O que, aliás, não era de se estranhar, porque nenhum
deles havia procurado o alcaloide. E se aquelas experiências fossem repetidas
segundo o processo de Sertuerner ou segundo os desenvolvimentos por eles
mesmos?
Mas quais, de tantas experiências, deveriam repetir? Depois
de muita ponderação decidiram-se pela do Dr Gomes. Decoraram o processo,
adicionaram melhoramentos e começaram.
A coisa era prodigiosamente simples, Aquilo que a
Stertuerner custava anos de trabalho, aos franceses só tomou dias. Extraíram por
meio de álcool o suco da chinchona, adicionaram um pouco de água e em seguida
potassa – e nessa solução viram se formar aglomerados de cristais brancos que
redissolvidos e novamente precipitados, deram um produto branco e brilhante. E
os dois extasiados experimentadores tiveram a intuição de que ali estava um
puro alcaloide – o específico da malária.
Mas erraram. Aquilo era a mesma coisa que Gomes havia
revelado, apesar da modificação da técnica. Se eles tivessem parado naquele
ponto teriam alcançado apenas um dos componentes da chinchona, sem força para a
cura da malária.
Caventou, entretanto, que era inesgotável, salvou tudo.
- Espere, disse ele, vamos trabalhar mais um pouco antes
de preparar a comunicação. A nossa experiência foi feita com a casca parda;
façamos a mesma coisa com a casca amarela.
- Ora, ora! Volveu Pelletier. Casca parda ou amarela não
passa da mesma coisa. Tudo e casca de chinchona.
- Não é, não! Eu conheço um homem que ...
-Bah! Exclamou Pelletier. Você anda sempre com essas
historias dum homem que...
-espere – espere um minuto, insistiu Caventou. Esse homem
sabe o que diz. É um médico. Escreveu um livro sobre a malária e diz que... Que
é mesmo que ele diz? Ah – diz que as cascas de chinchona variam – ou pelo menos
não produzem o mesmo efeito na malária. Disse que a amarela é que é boa. Está vendo?
- Vendo? Vendo que?
- Oh!... e Caventou coçou a cabeça desanimado.
Preste atenção. Eu disse que estraímos o alcaloide da casca
escura, está ouvindo?
- Continue
- Mas a casca escura é pobre – a amarela é que é a boa. E
que sabemos nós da casca amarela – responda...
- Nada, está claro, porque não a estudamos.
-Pois é isso! É nisso que estou insistindo; precisamos estudar
a casca amarela.
É a nova experiência começou. Com a melhor casca amarela
existente no mercado repetiram a experiência com grande rigor – e nada de
obterem cristais brancos, nada senão um precipitado pegajoso, uma espécie de
goma que não se cristalizava de maneira nenhuma. Produto amargo e solúvel em ácidos
e no álcool – e, ao contrario do primeiro, solúvel também no éter.
Evidentemente era uma coisa nova.
A descoberta foi descrita em 1820, tempo em que Pelletier
estava com 32 anos e Caventou com 27; e ao novo alcaloide deram um nome tirado
da denominação peruana da chinchona: Quinina.
Bibliografia:
Mágica em Garrafas, A história dos Grandes Medicamentos – Milton Silverman –
tradução de Monteiro Lobato – Cia Editora Nacional 1943.
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