Durante o reinado de Luiz XIV, um moço Holandês veio a
Paris, renegou o nome que trazia de Schweitzer e com muita dignidade adotou o
nome de Jean Adrian Helvetius; em seguida pensou em impingir nos parisienses
todo o arsenal de panaceias criadas por seu pai, um insigne charlatão.
Afim de aprender um pouco de medicina, o jovem Helvetius
meteu-se a aprendiz do Dr. Afforty e, muito mais depressa e melhor do que
esperara o seu mestre, encheu-se de conhecimento sobre a hidropisia e a bouba.
Ipecacuanha |
Certo dia os dois, mestre e discípulo, atenderam ao
chamado de um negociante de nome Garnier, importador de produtos do Novo Mundo.
O pobre Garneier estava bem doente e o Dr Afforty o fez piorar com uma sangria.
Como, porem, fosse homem de constituição muito forte, resistiu à doença e ao
tratamento. Garnier pagou a conta do médico e em adição ofereceu um pacote de
cascara “recebidas ainda agora do Brasil e muito apreciadas lá pelos
curandeiros nativos”.
O Dr Afforty polidamente recusou o presente – mas Helvetius
aceitou-o. Não fosse ele filho dum charlatão dos que sabem o que om público
quer. Helvetius lá levou as raízes sem saber para que serviam mas tratou de o verificar, e foi
disfarçadamente dando chá daquilo e quanto pacientes surgiam , fosse qual fosse
a doença – malária ou bexiga, tifo ou indigestão, hidropisia ou dor de cabeça,
tontura ou hemorragia. O Dr. Afforty tudo ignorava a respeito dessas experiências
– mas que experiências o Dr Afforty não ignorava?
Um dia o curioso rapaz holandês experimentou as
misteriosas cascas num doente de disenteria e curou-o! E a mesma coisa
aconteceu com o segundo disentérico, e com o terceiro e um quarto. A ação do remédio
era surpreendente. “Oh, isto é melhor que as drogas de meu pai, porque
realmente cura”.
Não tardou que os parisienses vissem aparecer em sua
cidade espetaculosos anúncios dum tal Dr Helvetius e dum grande remédio para a disenteria
(“que acaba de chegar do Novo Mundo”) –
para a diarreia e mais perturbações intestinais. Milhares de pessoas sofriam
dos intestinos e o jovem médico lhes dava o remédio reclamado – mas a
identidade da casca era mantida em segredo. Realmente. Se todos soubessem que a
disenteria era curável com o pó da raiz de ipecacunha vinda do Brasil, que
lucro teria Helvetius?
Um dia o seu nome foi pronunciado no palácio do rei. O
herdeiro do trono estava com disenteria e o medico da corte, D’Aquim, trouxe
Helvetius para operar o milagre. E o
milagre operou-se. Restabeleceu-se o príncipe, o que induziu Luiz XIV a dar de
presente ao mundo o conhecimento da milagrosa planta.
D’Aquin e o confessor do rei, padre La Chaise, procuram
Helvetius; discorreram com ele sobre o tempo, as colheitas, pontos de teologia
e depois, com muito jeito, entraram no assunto da misteriosa droga. Helvetius
saiu desse encontro com mil luíses de ouro no bolso e sua nomeação para o cargo
de Inspetor Geral dos Hospitais de Flandres, além de medico do Duque de
Orleans.
Garnier imediatamente recorreu à justiça, reclamando
recompensa, mas Helvetius soube defender os seus direitos.
Luiz XIV revelou o segredo da planta americana e isso foi
negocio para a humanidade, pois a ipecacuanha, hoje chama de ipeca, constitui
um valioso remédio contra a disenteria.
Bibliografia:
Mágica em Garrafas, A história dos Grandes Medicamentos – Milton Silverman –
tradução de Monteiro Lobato – Cia Editora Nacional 1943.
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