domingo, 21 de agosto de 2016

Ipecacuanha cura dor de barriga

Durante o reinado de Luiz XIV, um moço Holandês veio a Paris, renegou o nome que trazia de Schweitzer e com muita dignidade adotou o nome de Jean Adrian Helvetius; em seguida pensou em impingir nos parisienses todo o arsenal de panaceias criadas por seu pai, um insigne charlatão.
Afim de aprender um pouco de medicina, o jovem Helvetius meteu-se a aprendiz do Dr. Afforty e, muito mais depressa e melhor do que esperara o seu mestre, encheu-se de conhecimento sobre a hidropisia e a bouba.
Ipecacuanha
Certo dia os dois, mestre e discípulo, atenderam ao chamado de um negociante de nome Garnier, importador de produtos do Novo Mundo. O pobre Garneier estava bem doente e o Dr Afforty o fez piorar com uma sangria. Como, porem, fosse homem de constituição muito forte, resistiu à doença e ao tratamento. Garnier pagou a conta do médico e em adição ofereceu um pacote de cascara “recebidas ainda agora do Brasil e muito apreciadas lá pelos curandeiros nativos”.
O Dr Afforty polidamente recusou o presente – mas Helvetius aceitou-o. Não fosse ele filho dum charlatão dos que sabem o que om público quer. Helvetius lá levou as raízes sem saber para que serviam  mas tratou de o verificar, e foi disfarçadamente dando chá daquilo e quanto pacientes surgiam , fosse qual fosse a doença – malária ou bexiga, tifo ou indigestão, hidropisia ou dor de cabeça, tontura ou hemorragia. O Dr. Afforty tudo ignorava a respeito dessas experiências – mas que experiências o Dr Afforty não ignorava?
Um dia o curioso rapaz holandês experimentou as misteriosas cascas num doente de disenteria e curou-o! E a mesma coisa aconteceu com o segundo disentérico, e com o terceiro e um quarto. A ação do remédio era surpreendente. “Oh, isto é melhor que as drogas de meu pai, porque realmente cura”.
Não tardou que os parisienses vissem aparecer em sua cidade espetaculosos anúncios dum tal Dr Helvetius e dum grande remédio para a disenteria (“que acaba de chegar do  Novo Mundo”) – para a diarreia e mais perturbações intestinais. Milhares de pessoas sofriam dos intestinos e o jovem médico lhes dava o remédio reclamado – mas a identidade da casca era mantida em segredo. Realmente. Se todos soubessem que a disenteria era curável com o pó da raiz de ipecacunha vinda do Brasil, que lucro teria Helvetius?
Um dia o seu nome foi pronunciado no palácio do rei. O herdeiro do trono estava com disenteria e o medico da corte, D’Aquim, trouxe Helvetius para operar o milagre.  E o milagre operou-se. Restabeleceu-se o príncipe, o que induziu Luiz XIV a dar de presente ao mundo o conhecimento da milagrosa planta.
D’Aquin e o confessor do rei, padre La Chaise, procuram Helvetius; discorreram com ele sobre o tempo, as colheitas, pontos de teologia e depois, com muito jeito, entraram no assunto da misteriosa droga. Helvetius saiu desse encontro com mil luíses de ouro no bolso e sua nomeação para o cargo de Inspetor Geral dos Hospitais de Flandres, além de medico do Duque de Orleans.
Garnier imediatamente recorreu à justiça, reclamando recompensa, mas Helvetius soube defender os seus direitos.
Luiz XIV revelou o segredo da planta americana e isso foi negocio para a humanidade, pois a ipecacuanha, hoje chama de ipeca, constitui um valioso remédio contra a disenteria.


Bibliografia: Mágica em Garrafas, A história dos Grandes Medicamentos – Milton Silverman – tradução de Monteiro Lobato – Cia Editora Nacional 1943

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