sábado, 15 de outubro de 2016

Os metais venenosos se tornam remédios

Chamuloogra odorata
A marcha durante os últimos anos de vida de Ehrlich foi muito agitada e os cientistas de sua época mal tinham tempo para respirar. E assimilar as lições do grande mestre. Sobreveio a primeira guerra mundial e só em 1918 foram retomados as pontas de fio deixados por Ehrlich. Ele havia provado que um metaloide como o arsênico podia ser domado por meio de complexas combinações, e agora outros cientistas procuravam fazer a mesma coisa com outros venenos. Tomaram sais de mercúrio, infernais compostos que também tinham sido usados na luta contra a sífilis, e transformaram-nos em seguros antissépticos, como o metafen, o mertiolato, o mercurocromo. Tomaram esse estranho metaloide antimônio e o apetrecharam para o combate da doença do sono na África, da ulcera e da terrível Calazar na Índia, China e países do mediterrâneo. Tomaram o bismuto e o transformaram em sobisminol, para o tratamento oral da sífilis – magnifica realização de Paul Hanzlik na Universidade de Stanford.
Alguns cientistas admitiram que o 600 não fosse mais o único composto de arsênico aproveitável na sífilis e graça aos trabalhos de Heidelberger, Jacobs, Brown e Louise Pearce (da Fundação Rockefeller), apareceram a triparsamida, para a doença do sono e a sífilis cerebral. Ernest Fourneau, do Instituto Pasteur, desenvolveu o stovarsol, também para a sífilis. E veio o carbarsone, começado nos dias febris de Ehrlich e Bertheim e abandonado porque não matava os tripanossomas; mas Leake, Anderson e Ghen, da Universidade da Califórnia verificaram que exercia efeito sobre as amebas. E surgiu o melhor remédio para a desinteira amebiana, infelizmente não a tempo de atender ao surto dessa moléstia “tropical” na nada tropical cidade de Chicago.
E veio o mafarsen, que Ehrlich achou muito toxico para ser dados aos sifilíticos, mas que outros sábios puseram no ponto.
E veio a tripaflavina, um belo colorante que Ehrlich não aprovou porque não matava o tripanossoma mas que um seu aluno escocês, Carl Browning verificou ser um matador de bactérias e usou as carradas nos soldados feridos.
Na América o professor Tracat Johnson e o jovem Frederick Lane, de Yale, e Veader Leonard, da John Hopkins também seguiram uma pista deixada por Ehrlich transformando o inútil ressorcinol em hexyressorcinol.
Enquanto isso drogas totalmente novas entravam no giro e na fama. O óleo de chaulmoogra, poderoso, mas horrível remédio da lepra usado já de séculos, foi estudado por um americano, Frederick Power, que extraiu o primeiro princípio ativo o ácido chaulmoogrico.


Bibliografia: Mágica em Garrafas, A história dos Grandes Medicamentos – Milton Silverman – tradução de Monteiro Lobato – Cia Editora Nacional 1943

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