quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Ácido Acetil-salicílico o ácido aprovado pelos peixinhos

Em 1899 os químicos alemães não deram um só pensamento ao ácido acetilsalicílico descoberto em 1853. Ficou sendo mais um na lista de produtos químicos inúteis; não era nem sequer composto misterioso. Todos os químicos ignoraram-no, exceto um hábil químico da Bayer, Feliz Hoffmann, o qual para isso teve duas razões. Primeiro, a ordem recebida dos diretores da Bayer, de encontrar para o acido salicílico um substituto melhor que todos os existentes no mercado.
Segundo seu próprio pai:

- Felix, dizia o velho Hoffmann cada noite, meu reumatismo continua me incomodando.
- Já tomou as suas pílulas, papai?
-Pílulas!  Não me fale em pílulas. Fazem-me ainda mais doente, como se tivesse um formigueiro no estomago. Minha garganta queima. Essas pílulas me fazem vomitar. Não as quero mais. Entre elas e o reumatismo, prefiro o reumatismo.
- Deve toma-la esta noite, papai. Fazem bem, sim. São de acido salicílico.
-Ach! Lá vem com o tal salicílico! Felix, eu mandei você estudar para que ficasse sábio. Por que não me ajuda agora? Naquele laboratório que tem tanta coisa, por que não descobre algo que seja bom para mim?
- Sim, papai, tornou Felix pensativamente, acho que o senhor precisa...
Cada noite repetia-se com variantes aquele mesmo dialogo, e cada dia, lá no “laboratório que tinha tanta coisa”, Felix trabalhava pacientemente em busca dum novo febrífugo.
E isso até que a tenacidade germânica de Felix Hoffmann desse com o acido acetilsalicílico.
Certo dia Felix levou ao laboratório farmacológico do Dr. Heinrich Dreser, chefe do departamento de pesquisa de drogas da Bayer e o introdutor da heroína no mundo, um pacote de cristais brancos e amargos.
- Dr Dreser, disse Hoffmann, tenho aqui um pouco de acido acetilsalicílico puro. Nada mais posso fazer com ele em meu departamento. É preciso agora experimentar em animais.
- Acido acetilsalicílico? Repetiu Dreser, apalpando o pó. Acha que pode substituir o ácido salicílico?
- É o que os senhores médicos tem de decidir. A parte do químico está terminada.
- Obrigado. Em duas ou três semanas tirarei tudo a limpo.
O trabalho de Dreser tomou mais tempo do que o previsto, mas ao terminar estava substancioso.
-Você criou de fato um surpreendente produto, Hoffmann. Fizemos muitas provas e...
=E?...
- Achamo-lo ótimo. Pode orgulhar-se do trabalho feito.
Hoffmann curvou-se polidamente.
- Obrigado, doutor, mas há um ponto sobre que desejo esclarecimento. Será produto muito irritante? O senhor compreende o meu interesse pessoal nisso.
- Sei. O caso de seu pai. Venha comigo ver uma coisa.
Hoffmann acompanhou-o a um pequeno aquário próximo e lá, depois de uns tantos palavrões e espirros pegou dois peixinhos, aos quais embrulhou em pano húmido, em seguida colocou-lhes na boca um tubo de borracha para permitir respiração artificial, e nas guelras um sifão.
- Que tal acha este arranjo/ perguntou com vaidade.
Olhe. Atente sobre tudo nas caudinhas. Veja como são claras e transparentes as membranas. Agora, mergulhemos a cauda dum dos peixinhos. Num vaso com solução de acido salicílico. E a cauda do peixinho B vai para outro vaso com solução de acetilsalicílico.
Admirado daquela bizarra experiência, Hoffmann prendia a respiração.
Dreser sorri.
-Não compreende? Olhe – veja este peixinho, o do acido salicílico. Veja que sua cauda está se tornando branca e opaca. Isto é sinal de irritação, e mostra o que o acido salicílico faz para os gotosos. Agora olhe este segundo peixinho. Continua com a cauda branca e transparente. O acido acetilsalicílico não muda em nada.
A luz iluminou o cérebro de Hoffmann.
- Fez então essa experiência para mostrar que o meu acido é inofensivo
- Exatamente.
-Viva gritou o químico. Isso é prodigioso. Mas não vai experimentá-lo em gente?
Dresser fez que sim.
- temos que experimentar Já mandei amostrar a Withauer do hospital de Halle e a Wohlgemuth em Berlim, e ambos informaram-me que as provas foram muito boas.
Só mais tarde, depois que milhões de pacientes usaram o novo remédio, é que os cientistas iriam notar-lhe os defeitos: dores de cabeça, náusea e vomito, surdez temporária, zoada nos ouvidos, aperto da garganta, inchações e outras. Ms no começo os dois homens consideraram-se plenamente vitoriosos.

Bibliografia: Mágica em Garrafas, A história dos Grandes Medicamentos – Milton Silverman – tradução de Monteiro Lobato – Cia Editora Nacional 1943




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