Ainda que com todas as cautelas, quem poderia resistir a
tamanho louvor? Mas havia mais.
“Este remédio, quando não cura, alivia os doentes acima
de todas as expectativas”. Cura a “Phthisick” ou Ulceração dos pulmões em casos
em que todos os outros remédios nada conseguem, Abre a Respiração e os Pulmões,
liberta-os da Flegma, limpa a Ulcera e curam quando já nenhuma esperança há para
o doente.
Digitalis |
“Tenho-o visto operar Assombros, e falo aqui de longa
Experiência”. Pessoas vítimas de consumpção e desenganadas por todos os médicos,
estranhamente sararam e engordaram. Eu o recomendo como um Segredo que deve ser
guardado como um tesouro. Estas dez linhas sobre este Medicamento valem. Só elas,
dez vezes o Preço deste livro...
“Espero que os doentes em miserável estado... fizerem uso
do remédio acima indicado, comuniquem os seus Agradecimentos por esta Notícia,
e consequentemente amaldiçoem os Charlatães Sanguessugas, os Aplicadores de
Cataplasmas que os avaliam de seu Dinheiro e Bens, e continuarão a fazer isso
se os pacientes continuarem em suas mãos...”
Assim fala William Salmon o herbalista. Não há duvida que
o entusiasmo excessivo o induzisse a muito erro. A digitális não produz os
miraculosos efeitos apontados, nem cura a tuberculose; mas naquele tempo, e
ainda muitos anos depois, era difícil distinguir entre a tuberculose que a
digitális não cura e a hidropisia dos
pulmões, que ela cura ou alivia. Essa confusão entre as duas doenças estava
destinada a prolongar-se ainda por duzentos anos.
Graças ás ardorosas exortações de Salmon, a digitális
abriu caminho no campo da ciência. Médicos que até então haviam desprezado a
planta, passaram a receitar cozimento das suas folhas, flores e raízes. Mas
ainda havia resistências.
Por esse tempo, na cidade de Orleans, um cientista francês,
depois da visita a um galinheiro, arruinou a reputação gozada pela digitális. O
caso foi assim. Esse médico, Dr Salerne, ouvira falar dum peru que morrera em consequência
duma ingestão de folhas de digitális, e resolveu tirar a prova em seu
galinheiro. Para isso empanturrou á força dos perus com folhas de digitális.
Quatro horas depois os perus pareciam ébrios, mal podendo manter-se em pé. A
aplicação da digitális continuou por uns dias e as pobres aves foram
definhando. Quando morreram e foram abertas, o interior estava seco como se houvessem passado por uma estufa; pulmões, coração, fígado,
estomago e bexiga tudo dessecado!
Uma alarmada comunicação foi remetida á Academia de Ciências de Paris, e a novidade espalhou-se por todos os recantos da Europa. O resultado foi que a digitális de novo perdeu a partida, acabando expulsa das farmacopeias. Medico nenhum animava-se a prescrever uma coisa que ressecava daquela horrível maneira os pacientes.
Os velhos inimigos da pobre planta rejubilaram-se de vela na lista negra. Mas os camponicos e as velhas mezinheiras não dão tento as coisas escritas. Vinham já de longa data usando a digitális, muitos seculos antes da sua admissão na farmacopeia, e continuariam a usá-la apesar do repúdio. Os perus ressecadas não tiveram força para mudar o parecer dessa gente.
Uma alarmada comunicação foi remetida á Academia de Ciências de Paris, e a novidade espalhou-se por todos os recantos da Europa. O resultado foi que a digitális de novo perdeu a partida, acabando expulsa das farmacopeias. Medico nenhum animava-se a prescrever uma coisa que ressecava daquela horrível maneira os pacientes.
Os velhos inimigos da pobre planta rejubilaram-se de vela na lista negra. Mas os camponicos e as velhas mezinheiras não dão tento as coisas escritas. Vinham já de longa data usando a digitális, muitos seculos antes da sua admissão na farmacopeia, e continuariam a usá-la apesar do repúdio. Os perus ressecadas não tiveram força para mudar o parecer dessa gente.
Bibliografia:
Mágica em Garrafas, A história dos Grandes Medicamentos – Milton Silverman –
tradução de Monteiro Lobato – Cia Editora Nacional 1943.
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